Sintram pede investigação de “fura filas” na vacinação contra a covid-19 no Complexo São João de Deus e UPA 24h

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis e Região Centro-Oeste (Sintram), Luciana Santos, quer uma rigorosa apuração dos privilégios concedidos pelo Complexo de Saúde São João de Deus e pela UPA 24h no processo de vacinação contra a covid-19. Através de denúncias formuladas por trabalhadores do sistema de saúde do município, a presidente foi informada de que no Complexo São João de Saúde Deus não foram seguidas as regras de vacinação estabelecidas pelo Ministério da Saúde e funcionários do hospital que não se enquadram no grupo prioritário para a primeira etapa já receberam a dose da vacina. Já na UPA 24h, os privilégios foram concedidos a funcionários o setor administrativo, que foram vacinados nesta primeira fase, mesmo não estando na linha de frente de combate à pandemia.

Em ofício encaminhado ao secretário municipal de Saúde, Alan Rodrigo da Silva, e ao presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), Warlon Carlos Elias, a presidente do Sintram denunciou o desrespeito às regras nas duas unidades de saúde. Luciana Santos pediu a abertura de uma investigação pela Semusa e também pelo CMS sobre os critérios utilizados pelo São João de Deus. “Servidores nos procuraram denunciando o desrespeito aos critérios definidos pelo Ministério da Saúde, com privilégios na vacinação para pessoas que não estão nos grupos prioritários para essa primeira fase e isso precisa ser muito bem esclarecido, pois é fato que os servidores da linha de frente do sistema de saúde ainda não foram vacinados em sua totalidade”, explicou Luciana Santos.

REDE SOCIAL

No caso do São João de Deus, um dos vacinados que não se enquadra no grupo prioritário é funcionário na assessoria de comunicação do hospital. Ele comemorou através de uma rede social o fato de ter sido um dos vacinados contra a covid-19 nessa primeira fase. Antes que a postagem fosse apagada, foram feitas cópias que estão de posse da presidente do Sintram. “Além dele, quantos mais receberam esse privilégio? Essa pergunta precisa ser respondida pela Secretaria de Saúde, responsável pela distribuição das doses. Embora seja um hospital filantrópico, o São João de Deus é uma instituição privada, que recebe verbas públicas e que deve explicações para a sociedade. Ainda mais quando se tem a informação de que há muitos trabalhadores da linha de frente que não foram imunizados”, afirmou Luciana Santos.

Ao Divinews a Assessoria de Comunicação do Complexo São João de Deus disse que a postagem em rede social foi apenas um teste para mostrar aos demais funcionários como ficarão os futuros posts, quando todos receberem a imunização. “Se foi um teste ou não, a investigação que pedimos é que pode esclarecer isso. Estamos cumprindo nosso papel de zelar pelos trabalhadores que representamos”, disse Luciana Santos.

No caso da UPA a situação ainda é mais grave, pois a unidade é responsável pela triagem dos pacientes suspeitos de contaminação, além de administrar o Hospital de Campanha. Na unidade teriam sido privilegiados funcionários do setor administrativo que não se enquadram no grupo prioritário.

“Não queremos privilégios para ninguém. O que nós queremos é que os critérios sejam obedecidos com responsabilidade e cabe à Secretaria Municipal de Saúde a condução desse processo. Há um grande e compreensível apelo popular pela vacina e quando os critérios estabelecidos deixam de ser cumpridos, o prejuízo é para toda a sociedade, muito maior para quem está na linha de frente com alto risco de contaminação”, declarou Luciana Santos.

MONITORAMENTO

No último dia 19, após a solenidade de abertura do processo de imunização, a Prefeitura informou que nesse primeiro lote Divinópolis recebeu 7.258 doses, suficiente para a vacinação de 3.629 pessoas do grupo prioritário. A Prefeitura garantiu que essas doses seriam destinadas aos profissionais que atendem diretamente aos pacientes com Covid-19 na UPA, em hospitais e em unidades de saúde.  Informou, ainda, que o município receberá, por etapas, 21.322 doses para atendimento aos grupos prioritários. “Os primeiros a receberem as doses da vacina serão os profissionais de saúde, seguidos das pessoas institucionalizadas acima de 60 anos e pessoas de 18 a 59 anos também institucionalizados, com deficiência”, disse a Prefeitura em nota distribuída pela Diretoria de Comunicação no dia 19 de janeiro.

Em nota divulgada na semana passada, a Prefeitura informou que a Semusa está monitorando todas as doses da vacina contra o Covid-19 que o município recebeu. Segundo a nota, até o último dia 21 foram aplicadas 1.283 doses em profissionais da saúde que atuam no atendimento às pessoas com suspeita e casos confirmados de Covid-19.

De acordo com o Setor de Imunização da Semusa, na aplicação das doses são registrados diversos dados da pessoa beneficiada como: nome, sexo, data de nascimento, nome da mãe, grupo prioritário a que pertence, unidade de saúde que trabalha, CPF, número do SIS, telefone de contato, além anotações sobre a vacina como data da imunização, lote, data de validade, fabricante e ainda assinatura de quem aplicou.

“Todas estas informações são importantes para, não só assegurar que quem recebeu faz parte do grupo prioritário de profissionais de saúde, mas também para garantir a aplicação da segunda dose, que deve acontecer em 15 dias após a primeira”, disse a nota enviada pela Prefeitura na semana passada. Ainda segundo a Prefeitura, os hospitais forneceram às equipes de tático móvel da Semusa, uma lista com os nomes dos profissionais que deveriam ser vacinados primeiro. “Se a Prefeitura se cercou de todas essas medidas para garantir que a vacinação siga os critérios estabelecidos, então acreditamos que fica ainda mais fácil apurar essas denúncias que recebemos”, finalizou Luciana Santos.

OUTRO LADO

O Complexo de Saúde São João de Deus ainda não se posicionou sobre a denúncia de privilégios concedidos a funcionários que não se enquadram no grupo de risco. A UPA 24h disse que o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS), responsável pela gestão da unidade e do Hospital de Campanha, não se posiciona sem autorização da Diretoria de Comunicação da Prefeitura. Até o fechamento dessa reportagem, a Diretoria de Comunicação da Prefeitura não atendeu às ligações telefônicas feitas pela Assessoria de Comunicação do Sintram.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram