Câmara impõe derrota a Bolsonaro e derruba o voto impresso; maioria dos deputados mineiros votou a favor da proposta

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A Câmara dos Deputados derrubou a proposta que tornava o voto impresso obrigatório, em sessão realizada na noite desta terça-feira (10). Para ser aprovada, a proposta precisava de 308 votos, porém apenas 229. A maioria dos 42 deputados mineiros presentes no plenário voltou a favor da proposta, apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-D) para atender ao presidente Jair Bolsonaro, que vem repetindo ameaças à realização das eleições de 2022, caso não houvesse a impressão do voto.

O deputado Aécio Neves (PSDB) se absteve, enquanto Domingos Sávio, também do PSDB e com base eleitoral em Divinópolis, votou a favor da medida. Da bancada mineira, foram 26 votos a favor, 18 contra e os voto de oito deputados mineiros, assim como de vários outros parlamentares, não foram computados em razão de um problema no painel de votação, que ainda não explicado pela Câmara.

A proposta rejeitada, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), determinava a impressão de “cédulas físicas conferíveis pelo eleitor” independentemente do meio empregado para o registro dos votos em eleições, plebiscitos e referendos.

Após a votação, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), agradeceu aos deputados pelo comportamento democrático. Na semana passada a proposta já havia sido rejeitada por uma Comissão Especial e, pelo regimento, nem deveria ter ido a plenário. Entretanto, Arthur Lira, que é aliado de Bolsonaro, usou a prerrogativa de presidente da Casa, para colocar a matéria para apreciação de todos os deputados. “A democracia do Plenário desta Casa deu uma resposta a este assunto e, na Câmara, espero que este assunto esteja definitivamente enterrado”, afirmou Lira após a derrota. A votação desta terça-feira é a terceira derrota do voto impresso na Câmara, já que o tema foi rejeitado em duas votações na comissão especial na semana passada.

O 1º vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), também afirmou que o debate do voto impresso precisa ser superado. “O brasileiro precisa de vacina, emprego e comida na mesa. A Câmara precisa virar esta página para tratar do que realmente importa para o País”, declarou.

OPOSIÇÃO X GOVERNO

Para o líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), a votação passa um recado ao governo federal. “Dizemos não às intimidações, não à desestabilização das eleições, não à tentativa de golpe de Bolsonaro. Queremos no ano que vem eleições limpas, seguras, tranquilas e pacíficas, como o sistema atual garante”, disse Molon.

O líder do Novo, deputado Paulo Ganime (Novo-RJ), afirmou que Bolsonaro é o maior culpado pelo placar registrado no Plenário da Câmara. “Se o debate está acalorado e com grandes chances de ser derrotado, eu credito isso ao presidente Jair Bolsonaro, que colocou uma disputa ideológica em um tema técnico e ameaçou as eleições do ano que vem. Isso não contribuiu nem um pouco para o debate.”

Líder do PSL e defensor da proposta, o deputado Vitor Hugo (PSL-GO) falou que a questão ainda não se encerrou. “Ainda que nós percamos no Plenário hoje, nós já vencemos a discussão na sociedade brasileira porque milhões e milhões de brasileiros foram às ruas expressar sua opinião e dizer que não confiam no sistema”, declarou.

Vitor Hugo disse que os parlamentares agora vão pressionar o Senado Federal para votar proposta com tema semelhante e pela criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre a segurança do sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

DESFILE MILITAR

Deputados aproveitaram ainda a sessão para criticar o desfile de tanques e armamentos das Forças Armadas patrocinado pelo governo e interpretado por muitos como tentativa de intimidação do Parlamento.

O deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP) afirmou que há uma agenda do governo contra a democracia. “Hoje o que nós vimos foi uma demonstração patética de fraqueza do presidente, usando e expondo as Forças Armadas à chacota pública nas redes sociais e na mídia internacional: a ‘tanqueata’ com seus tanques enfumaçados, aquela cortina de fumaça. Aquela cortina de fumaça não vai passar. Nós vamos aqui botar um ponto final”, disse.

Para o líder do PDT, deputado Wolney Queiroz (PDT-PE), se trata de uma manobra diversionista do governo Bolsonaro. “Colocar tanque na rua, como Bolsonaro fez, é muito fácil, mas é difícil acabar com o desemprego, vacinar a população, diminuir o preço do gás de cozinha, pagar um auxílio emergencial. E pasmem: a pauta do Brasil é o voto impresso”, condenou.

Já o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) minimizou os impactos do desfile militar da Operação Formosa. “Essa operação ocorre desde 1988. Para que tanto medo dos militares? Os militares não me constrangem”, disse.

BANCADA MINEIRA

Alguns votos acabaram processados, mas não constam na lista oficial da Câmara dos Deputados. O problema técnico, que teria sido reconhecido pela equipe técnica da Câmara dos Deputados, teria afetado o voto de ao menos 50 deputados, entre eles oito por Minas Gerais. Veja a seguir como votaram os deputados mineiros na PEC do Voto Impresso:

Aécio Neves (PSDB-MG) -votou Abstenção
Aelton Freitas (PL-MG) -Votou Não
Alê Silva (PSL-MG) -Votou Sim
André Janones (Avante-MG) -Votou Não
Áurea Carolina (PSOL-MG) -Votou Não
Bilac Pinto (DEM-MG)
Charlles Evangelis (PSL-MG) -Votou Sim
Delegado Marcelo (PSL-MG) -Votou Sim
Diego Andrade (PSD-MG) -Votou Sim
Dimas Fabiano (PP-MG) -Votou Sim
Domingos Sávio (PSDB-MG) -Votou Sim
Dr. Frederico (Patriota-MG) -Votou Sim
Eduardo Barbosa (PSDB-MG) -Votou Não
Emidinho Madeira (PSB-MG) -Votou Sim
Eros Biondini (PROS-MG) -Votou Sim
Euclydes Pettersen (PSC-MG) -Votou Sim
Fábio Ramalho (MDB-MG)
Franco Cartafina (PP-MG) -Votou Sim
Fred Costa (Patriota-MG) -Votou Sim
Gilberto Abramo (Republican-MG) -Votou Sim
Greyce Elias (Avante-MG) -Votou Sim
Hercílio Diniz (MDB-MG) -Votou Sim
Igor Timo (Podemos-MG)
Júlio Delgado (PSB-MG) -Votou Sim
Junio Amaral (PSL-MG) -Votou Sim
Lafayette Andrada (Republicanos-MG) -Votou Sim
Léo Motta (PSL-MG) -Votou Sim
Leonardo Monteiro (PT-MG) -Votou Não
Lincoln Portela (PL-MG) -Votou Sim
Lucas Gonzalez (Novo-MG) -Votou Sim
Luis Tibé (Avante-MG) -Votou Não
Marcelo Álvaro (PSL-MG)
Marcelo Aro (PP-MG) -Votou Não
Mário Heringer (PDT-MG) -Votou Não
Mauro Lopes (MDB-MG)
Misael Varella (PSD-MG) -Votou Sim
Newton Cardoso Jr (MDB-MG) -Votou Não
Odair Cunha (PT-MG) -Votou Não
Padre João (PT-MG) -Votou Não
Patrus Ananias (PT-MG) -Votou Não
Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)
Paulo Guedes (PT-MG) -Votou Não
Pinheirinho (PP-MG)
Reginaldo Lopes (PT-MG) -Votou Não
Rodrigo de Castro (PSDB-MG) -Votou Não
Rogério Correia (PT-MG) -Votou Não
Stefano Aguiar (PSD-MG) -Votou Sim
Subtenente Gonzaga (PDT-MG) -Votou Sim
Tiago Mitraud (Novo-MG) -Votou Não
Vilson da Fetaemg (PSB-MG) -Votou Não
Weliton Prado (PROS-MG) -Votou Sim
Zé Silva (Solidaried-MG)
Zé Vitor (PL-MG) -Votou Sim

BOLSONARO

Para defender o voto impresso a todo custo, o presidente Jair Bolsonaro promoveu um festival de desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro. Mesmo sem apresentar provas e, posteriormente ter admitido não ter como provar suas acusações,  Bolsonaro questiona sistematicamente a segurança e a inviolabilidade das urnas eletrônicas. No dia 9 de março de 2020, o presidente afirmou pela primeira vez, durante um pronunciamento em Miami (EUA), que as eleições presidenciais brasileiras de 2018 teriam sido fraudadas, com suposta adulteração do resultado do primeiro turno.

Após se tornar alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por fazer ameaças à realização das eleições, o presidente Jair Bolsonaro fez diversos ataques às Cortes . Bolsonaro chegou a falar que as eleições de 2022 não seriam realizadas caso o voto impresso não fosse aprovado no Congresso Nacional, o que foi interpretado por muitos como uma ameaça de golpe. Bolsonaro foi obrigado a provar as fraudes declaradas, porém apresentou uma série de falsos argumentos sem nenhuma prova concreta.

Reportagem: Jotha Lee
Com informações da Agência Câmara de Notícias

 

 


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