Em greve, trabalhadores da Cemig lutam pela preservação de direitos e contra venda da estatal

Desde ontem (06/11) os trabalhadores da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) – através do Sindicato da  classe , o Sindieletro – declararam greve da categoria.  Em Divinópolis, o movimento teve início às 7h, em frente à sede da empresa, localizada na Rua Itapecerica. Os trabalhadores reivindicam a preservação de direitos e se posicionam contra a privatização da estatal, que já vem sendo desenhada pelo governo do estado, Romeu Zema.  A medida promete precarizar às relações de trabalho e trazer prejuízos ao povo mineiro, já que um serviço essencial estará nas mãos do capital privado, que muitas vezes não honra a qualidade da prestação de serviços.

De acordo com Alair Araújo, coordenador da Regional Oeste do Sindieletro, a greve está acontecendo, praticamente, em todo o estado. “Hoje  estamos com uma reivindicação da classe trabalhadora, a nossa pauta foi entregue para a gestão da Cemig no dia 13 de agosto e a empresa somente chamou para negociar dois meses depois. A primeira reunião aconteceu no dia 03 de outubro e a Cemig já encerrou o diálogo,  já travou qualquer tipo de negociação e, infelizmente, a categoria não teve outro caminho que não fosse  a greve”, explicou o líder sindical.

O representante destaca que a pauta de reivindicação dos trabalhadores contém 17 itens,  que, praticamente, não trazem custo nenhum para a empresa, mas  a direção da empresa quer a retirada de direitos. “Ela garante o INPC o restante é retirada de direitos. Ela quer a implantação da reforma trabalhista no nosso acordo coletivo, seria a quitação plena, a redução do valor das horas extras. Hoje, a nossa hora extra é um pouco mais cara justamente porque foi a forma que encontramos para que a Cemig pudesse abrir concurso público, contratar novos trabalhadores, evitando que a  pressão para que os trabalhadores prolongassem sua jornada de trabalho”, explicou. Ele  denuncia ainda que há trabalhadores dentro da empresa autorizados a fazerem 12 horas de trabalho por pressão das gerências. “ Nós estamos assim em um processo que, infelizmente, é da destruição do acordo coletivo de trabalho do pessoal da Cemig”, disse.

PROTESTO

A greve também teve espaço para protesto contra a proposta de privatização da companhia. Com faixas, o sindicato destacou que a medida prejudica a população e quem irá pagar a conta é o cidadão com o encarecimento do serviço e a queda na qualidade.  “Infelizmente, estamos com um governo que não leva a sério as empresas públicas, principalmente a Cemig, Copasa, Gasmig, Codemig. São empresa que  trabalham para trazer o desenvolvimento do estado e o governo acha que são um entrave. Já houveram declarações diversas, em todos os cantos do estado, sobre essa questão. Ele  quer de todo jeito entregar a Cemig,  a Copasa, e essa posição faz a gente desconfiar que ele tem interesse nessas  privatizações, o interesse de adquirir alguma fatia, alguma coisa, porque não tem condição, é  um governo que desdenha o tempo inteiro da empresa”, declarou.

PRESSÃO

Alair denunciou também a pressão que os trabalhadores estão sendo submetidos para que aceitem o acordo que traz retrocessos para a categoria  e para a não adesão ao movimento grevista. “Ontem, companheiros, que estavam aqui na greve,  receberam ligações de dentro da empresa para que eles retornassem para o trabalho, é uma prática antissindical.  A pressão que a Cemig está fazendo lá dentro é muito velada, porque a direção está chegando, reunindo os trabalhadores, fazendo pressão para que aceitem a proposta com retirada de direitos. Ela está fazendo pressão para o trabalhador entrar e logo, em seguida, bater o ponto, porque se ele não bater o ponto as horas vão ser cortadas. Tivemos trabalhadores que ficaram 15 minutos aqui fora e foi cortado o tempo dele”, denunciou o dirigente.

Alair disse que o movimento em Divinópolis está sendo construído e que alguns trabalhadores  não estavam na porta da empresa durante o protesto, mas aderiram a greve ficando em casa, tanto os que trabalham na sede na rua Itapecerica como na Usina do Gafanhoto.  “O movimento continua, ontem nós iniciamos nossa greve, entramos na Justiça, no TRT, com o dissídio coletivo de trabalho, agora estamos aguardando o que a Justiça irá definir. Tem rumores que hoje poderia acontecer uma negociação, mas sabemos perfeitamente que a Cemig, assim como ela fez em outras reuniões anteriores, vai somente para enrolar e não apresenta nada. Ela  quer que o trabalhador e o sindicato aprovem uma proposta com retirada de direitos”, disse.

AGÊNCIAS

Questionado se as agências de atendimento estão fechadas ao público, Alair disse que não, pois muitas foram terceirizadas. “Elas estão funcionando, porque isso é um projeto que a Cemig executa, a longo prazo, de terceirização dessas  agências. Hoje, não tem trabalhador da Cemig nessas agências, são como uma franquia  e  se o dono não consegue bater a meta,  no  próximo contrato ele  não estará mais.  Antes a agência era aqui no prédio, agora está em um local privado e os consumidores ficam a mercê de um atendimento, que não é aquele atendimento que ele esperava, de ser atendido por um profissional  da Cemig. A rotatividade é muito grande, o salário são baixíssimos e os trabalhadores são totalmente explorados. O consumidor não pode ficar um tempo excessivo para tirar suas dúvidas a respeito de uma solicitação porque o atendente tem que despachar esse consumidor. O cidadão  não pode ficar mais que cinco, dez minutos na mesa do atendente”, criticou.

MOBILIZAÇÃO

Alair finalizou dizendo que os trabalhadores estão mobilizados e unidos e que realmente é difícil lutar contra um sistema totalmente desigual, mas o Sindieletro continuará firme para garantir o direito dos seus representados. “Com a aprovação da reforma trabalhista e agora com a reforma da previdência, o trabalhador se sente muito acuado, mas nós estamos dispostos a fazer essa luta contra a retirada de direitos, contra a implantação da reforma trabalhista em nosso acordo coletivo e também para poder fortalecer os trabalhadores contra todas essas retiradas de direito a nível nacional e estadual”, finalizou.

SINTRAM

O vice-presidente do Sintram, Wellington Silva, que também representa o sindicato no Movimento Unificado de Divinópolis,  lutando contra a privatização das estatais, esteve presente apoiando os trabalhadores da Companhia. “Nós, da diretoria do Sintram, temos o posicionamento sempre solidário aos companheiros de outras categorias e não é diferente com o pessoal da Cemig, do Sindeletro, que sempre foram nossos parceiros de luta. Com relação à privatização da Cemig, nós, da diretoria do Sintram, somos totalmente contra. Ao contrário que o governo sempre prega que a privatização vai favorecer à população, nós entendemos que é justamente o contrário, a privatização irá precarizar o serviço, a qualidade do serviço irá cair, além de encarecer”, disse.

REPRESSÃO

Wellington lamentou a postura da gerência da Cemig, unidade Divinópolis, visto que no momento do protesto haviam três viaturas da Polícia Militar, sendo que o movimento era totalmente pacífico e ordeiro, não havendo necessidade de tamanho aparato policial.  “Deparamos com um aparato policial, com três viaturas, que foram acionadas  pelos gerentes da unidade, segundo  informações dos companheiros do Sindieletro.  Lamentamos demais a forma como o gerente e o governo  vêem lidando com essa situação de greve, que é um de direito do trabalhador, do movimento sindical, de parar as atividades quando as coisas estão desfavoráveis para a  classe trabalhadora. Estamos vivendo um período tenebroso, onde o  diálogo ficou em segundo plano, agora a base é da repressão, de tentar intimidar, mas eles se enganam porque o movimento sindical nunca teve vida fácil, o sindicato foi moldado através da luta, da resistência e não será diferente agora”, frisou o líder sindical.

Reportagem: Flávia Brandão
Comunicação Sintram