Chile reage a acusações feitas por Bolsonaro ao presidente do país e convoca embaixador brasileiro

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A declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o debate entre os candidatos à Presidência, no último domingo, 28, acusando o presidente do Chile, Gabriel Boric, de ter ateado “fogo em metrô” durante os protestos de 18 de outubro de 2019 e que pediam maior igualdade social, quando era ativista de esquerda, causaram reação no país vizinho. O embaixador brasileiro no país, Paulo Roberto Soares Pacheco, foi chamado à capital chilena para consultas sobre o caso, informou a chanceler Antonia Urrejola.  O governo brasileiro não se manifestou sobre a reação chilena.

Em nota, o governo chileno afirmou: “O uso político da relação bilateral para fins eleitorais, baseado em mentiras, desinformações e deturpações, corrói não apenas os laços entre nossos países, mas também a democracia, prejudicando a confiança e afetando a irmandade entre os povos”. O governo vizinho disse também que as falas de Bolsonaro “são inaceitáveis e não estão de acordo com o tratamento respeitoso devido aos chefes de Estado ou com as relações fraternas entre dois países latino-americanos”.

Durante o debate na TV Bandeirantes, ao atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário nas eleições deste ano, Bolsonaro afirmou: “Lula apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tocar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo o nosso Chile?”. “Consideramos essas acusações gravíssimas. Obviamente, são absolutamente falsas e lamentamos que em um contexto eleitoral as relações bilaterais sejam aproveitadas e polarizadas por meio da desinformação e das notícias falsas. Convocamos o embaixador brasileiro na chancelaria em nome do secretário-geral de política externa, onde lhe enviaremos uma nota de protesto”, disse Urrejol.

Segundo o jornal chileno La Tercera, Urrejola afirmou que os chilenos estão convictos de que não é assim que se faz política, ainda mais quando se trata de dois chefes de Estado eleitos democraticamente, e que, mesmo com as diferenças ideológicas, deveria existir uma relação de respeito. A ministra das Relações Exteriores disse ainda que é preciso fortalecer a relação com o Brasil: “Esperamos poder continuar enfrentando os diferentes desafios como povos irmãos que somos, apesar dessas declarações do presidente Bolsonaro”. Ainda conforme a publicação, quando Gabriel Boric soube das declarações de Jair Bolsonaro, procurou Urrejola para, com ela, conversar sobre como responder.

Gabriel Boric, de 35 anos, é ex-líder estudantil e o presidente mais jovem da história do Chile. Sua vitória representou guinada à esquerda no país e rompeu com três décadas de alternância entre os partidos de centro, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, nos anos 1990. No início deste ano, Bolsonaro se recusou a ir à posse de Gabriel Boric e enviou o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos).

No debate, Bolsonaro citou também os governos da Argentina,  Venezuela, Colômbia e Nicarágua. “O nosso prezado presidente Lula apoiou, na Nicarágua, Ortega, que agora persegue cristãos, prende padres, expulsa freiras. Uma perseguição religiosa sem tamanho. E quando ele é questionado sobre isso, ele diz: ‘Não devemos meter o nariz em outros países’”, afirmou o presidente brasileiro.

Em suas transmissões semanais de quinta-feira, Bolsonaro  tem criticado esses governos vizinhos, ressaltando que o Brasil estaria recebendo da Venezuela “mais de 500 pessoas por dia “fugindo da fome, da miséria, da violência”. Já as críticas sobre a Argentina incluem a economia do país, e sobre a Colômbia o susposto fato de que o presidente Gustavo Petro defende a liberação de drogas e libertação de presos. Em entrevista ao “Jornal Nacional”, na semana passada, Bolsonaro evidenciou, propositalmente,  uma “cola” em sua mão esquerda com as palavras: “Nicarágua”, “Argentina”, “Colômbia” e “Dario Messer”, também conhecido como “o doleiro dos doleiros”.

Fonte: Estado de Minas
Foto: O presidente chileno, Gabriel Boric, já foi alvo de ataques anteriores de Bolsonaro (Foto: La Moneda)

 

 


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