“Acabei com Lava Jato, porque não tem corrupção no governo”, diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (7) que “acabou” com a operação Lava Jato porque “não existe mais corrupção no governo”. A fala aconteceu durante cerimônia de lançamento do programa Voo Simples, no Palácio do Planalto.

“É um orgulho, uma satisfação que eu tenho de dizer para essa imprensa maravilhosa nossa, que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”, disse. “Eu sei que isso não é virtude, é obrigação. Para nós, fazemos um governo de peito aberto”, completou.

A prerrogativa de encerrar operações como a Lava Jato, no entanto, cabem à Procuradoria-Geral da República (PGR). Na semana passada, a PGR, garantiu apoio institucional à continuidade dos trabalhos realizados pelas forças-tarefa da Lava Jato de Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo.

O braço paulista da operação foi encerrado na terça-feira (29), com a saída dos últimos quatro procuradores do grupo. Desde então, todas as investigações estão sob responsabilidade da procuradora Viviane de Oliveira Martinez, a quem outros sete membros manifestaram “incompatibilidades insolúveis” em setembro e pediram desligamento do grupo.

Na reunião da semana passada, o procurador-geral, Augusto Aras, e a subprocuradora-geral Lindôra Araújo ouviram de Alessandro de Oliveira, de Curitiba; Eduardo El Hage e Almir Sanches, do Rio e Viviane Martinez, de São Paulo, como estão seus trabalhos e quais suas necessidades locais para a manutenção das investigações em andamento.

NOVA FASE

Nesta quarta-feira (7) foi deflagrada 76ª fase da Operação Lava Jato, com o cumprimento de quatro mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro. As medidas aprofundaram apurações relacionadas a esquemas de corrupção na área comercial da Petrobras, especialmente no comércio de bunker, como é denominado o produto escuro usado como combustível de navio.

Essa é mais uma fase que se insere na frente destinada a investigar ilícitos praticados em negócios da área comercial da Petrobras, composta por várias gerências subordinadas à Gerência Executiva de Marketing e Comercialização, que por sua vez está situada imediatamente abaixo da Diretoria de Abastecimento.

REAÇÕES CONTRÁRIAS

O ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima e diferentes políticos reagiram negativamente à declaração de Jair Bolsonaro de que “acabou” com a operação Lava Jato porque “não existe mais corrupção no governo”.

O antigo membro da força-tarefa em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos Lima, disse pelo Facebook, que Bolsonaro acabou com a Lava Jato “por medo”. Ele também afirmou que o presidente é “um dos responsáveis por matar” a operação. Para isso se uniu a “Renans, Maias, Aras, Toffolis e Gilmares, e todos, de mãos dadas em torno do grande acordão nacional, resolveram salvar o sistema podre e nefasto da corrupção política. Bolsonaro é um estelionato vergonhoso”, disparou Carlos Fernando.

Já o deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse que Bolsonaro “jamais poderia dizer que acabou com a Lava Jato, isto é interferir no MPF”, o parlamentar complementou afirmando que o discurso do presidente “é criminoso e ridículo”.

A ex-líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), acusou o presidente de mentir e disse que ele protege os novos aliados. Joice rompeu com o presidente no fim do ano passado, após divergências no PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente. “Acabou com a Lava Jato para proteger os novos aliados”, afirmou.

O líder do Novo na Câmara, Paulo Ganime (RJ), disse que lógica é “péssima” e negou que a corrupção tenha acabado no Brasil. O Novo é uma das bancadas mais alinhadas ao governo no Congresso.

O líder do Podemos na Câmara, deputado Léo Moraes (RO), reiterou a necessidade de apoiar a Lava Jato. O partido é um dos maiores defensores da operação no Congresso. “Precisamos continuar apoiando o combate à corrupção em nível federal, estadual e municipal. O Brasil avançou muito nos últimos anos. Precisamos aproveitar o ‘despertar’ da sociedade e a renovação política para avançar ainda mais na agenda anticorrupção no país”, disse.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, disparou: “Bolsonaro desmanchou o COAF; colocou o amigo do amigo dos filhos no comando da PF; pôs na PGR um inimigo da Lava Jato; forçou a demissão de Moro; mudou a Receita pra blindar o enriquecimento familiar; indicou pro STF um aliado do Centrão. O que acabou foi o combate à corrupção”.

Fonte: Congresso em Foco