Domingos Sávio e Nikolas Ferreira votam contra projeto de taxação dos super-ricos

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Por 323 votos a favor, 119 contra e uma abstenção, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (25) o projeto de lei de taxação dos super-ricos. A proposta antecipa a cobrança de Imposto de Renda de fundos exclusivos e passa a taxar aplicações em offshores, empresas no exterior que abrigam investimentos. Após a votação do texto principal, todos os destaques foram rejeitados. Agora, segue para o Senado.

O deputado divinopolitano, Domingos Sávio, e o deputado mais votado do país, Nikolas Ferreira, ambos do PL, votaram contra o Projeto. A bancada do PL na Câmara dos Deputados demonstrou que não quer mesmo aumentar a cobrança de impostos dos super-ricos. Foram 12 voto a favor, 13 contrários e 73 abstenções do partido.

A bancada mineira na Câmara, em sua maioria votou a favor da taxação. Veja como votou a bancada mineira

Ana Pimentel (PT) – sim
André Janones (Avante) – sim
Aécio Neves (PSDB) – sim
Bruno Farias (Avante) – abstenção
Célia Xakriabá (Psol) – sim
Dandara (PT) – sim
Delegada Ione (Avante) – sim
Delegado Marcelo (União Brasil) – sim
Diego Andrade (PSD) – abstenção
Domingos Sávio (PL) – não
Dr. Frederico (Patriota) – não
Duda Salabert (PDT) – abstenção
Emidinho Madeira (PL) – não
Eros Biondini (PL) – não
Euclydes Petterse (Republicanos) – abstenção
Fred Costa (Patriota) – sim
Gilberto Abramo (Republicanos) – sim
Hercílio Diniz (MDB) – sim
Igor Timo (Podemos) – sim
Júnio  Amaral (PL) – não
Lafayette Andrada (Republicanos) – sim
Leonardo Monteiro (PT) – sim
Lincoln Portela (PL) – não
Luís Tibé (Avante) – sim
Luís Fernando (PSD) – sim
Marcelo Álvaro (PL) – não
Maurício do Vôlei (PL) – abstenção
Miguel Ângelo (PT) – sim
Misael  Varela (PSD) – sim
Mário Heringer (PDT) – sim
Nely Aquino (Podemos) – sim
Newton Cardoso Júnior (MDB) – abstenção
Nikolas Ferreira (PL) – não
Odair Cunha (PT) – sim
Padre João (PT) – sim
Patrus Ananias (PT) – sim
Paulo Abi-Ackel (PSDB) – sim
Paulo Guedes (PT) – sim
Pedro Aihara (Patriota) – sim
Pinheirinho (PP) – sim
Rafael Simões (União Brasil) – sim
Reginaldo Lopes (PT) – sim
Rodrigo de Castro (União Brasil) – sim
Rogério Correia (PT) – sim
Rosângela Reis (PL) – sim
Samuel Viana (PL) – sim
Stefano Aguiar (PSD) – sim
Wellington Prado (Solidariedade) – sim
Zé Silva (Solidariedade) – sim
Zé Victor (PL) – não

O QUE É A TAXAÇÃO

A aprovação da proposta ocorreu no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a nomeação de Carlos Antônio Vieira Fernandes para a presidência da Caixa Econômica Federal. Ele entra no lugar de Rita Serrano, que deixou o cargo.

O projeto foi aprovado com várias mudanças. Os deputados fizeram mudanças significativas que reduziram as taxas a serem aplicadas.  O relator do projeto, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), concordou em elevar, de 6% para 8%, a alíquota para quem antecipar, tanto nos fundos exclusivos como nas offshores, a atualização de valor dos rendimentos acumulados até agora. Originalmente, o governo tinha proposto 10%.

Em relação às offshores, o relator fixou uma alíquota linear de 15% sobre os rendimentos. O governo originalmente tinha proposto alíquotas de 0% a 22,5% conforme os rendimentos anuais. O relator alegou que a diferença de alíquotas entre os fundos exclusivos de longo prazo (15%) e os 22,5% para as offshores geraria o efeito contrário do que o governo pretendia e provocaria fuga de capitais do Brasil, com super-ricos mudando de domicílio fiscal.

IMPACTO

As mudanças farão o governo arrecadar menos que o previsto. Pela proposta original, o governo tinha a pretensão de reforçar o caixa em R$ 20 bilhões em 2024 e em até R$ 54 bilhões até 2026. A equipe econômica ainda não divulgou uma estimativa de receitas com as novas votações.

O governo precisa reforçar o caixa em R$ 168 bilhões para cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, conforme estipulado pelo novo arcabouço fiscal, aprovado no fim de agosto pelo Congresso. A tributação dos super-ricos representa uma das medidas mais importantes para obter receitas.

FUNDOS AGRÍCOLAS E IMOBILIÁRIOS

O relator da proposta, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), fechou um acordo com a bancada ruralista sobre o aumento no número de cotistas nos Fiagros, fundos de investimento em cadeias agroindustriais. O número mínimo de cotistas para que os Fiagros e os fundos de investimentos imobiliários, regidos pela mesma legislação, obtenham isenção de Imposto de Renda, saltou de 50 para 100.

O governo tinha proposto mínimo de 500 cotistas e, na semana passada, fez uma contraproposta de 300 cotistas. O relator também criou uma trava para limitar as cotas entre parentes a 30% do patrimônio líquido do fundo, incluindo parentes de segundo grau.

Pedro Paulo também acatou uma sugestão para que empresas que operem no país com ativos virtuais, independentemente do domicílio, passem a ser obrigadas a fornecer informações periódicas de suas atividades e de seus clientes à Receita Federal e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão que combate a lavagem de dinheiro.

DEFINIÇÕES

Instrumentos personalizados de investimentos, com um único cotista, os fundos exclusivos exigem pelo menos R$ 10 milhões de entrada e taxa de manutenção de R$ 150 mil por ano. Atualmente, apenas 2,5 mil brasileiros aplicam nesses fundos, que acumulam patrimônio de R$ 756,8 bilhões e respondem por 12,3% da indústria de fundos no país.

Atualmente, os fundos exclusivos pagam Imposto de Renda (IR), mas apenas no momento do resgate e com tabela regressiva, quanto mais tempo de aplicação, menor o imposto. O governo quer igualar os fundos exclusivos aos demais fundos de investimento, com cobrança semestral de IR conhecida como come-cotas. Além disso, quem antecipar o pagamento do imposto pagará alíquotas mais baixas.

Em relação à taxação das offshores, o governo quer instituir a tributação de trusts, instrumentos pelos quais os investidores entregam os bens para terceiros administrarem. Atualmente, os recursos no exterior são tributados apenas e se o capital retorna ao Brasil. O governo estima em pouco mais de R$ 1 trilhão (pouco mais de US$ 200 bilhões) o valor aplicado por pessoas físicas no exterior.

Confira o projeto da câmara

FUNDOS EXCLUSIVOS

  • Instrumento: originalmente era medida provisória, mas texto foi incorporado a projeto de lei;
  • Como é: tributação apenas no momento do resgate do investimento;
  • Tributação: alíquota de 15% (fundos de longo prazo) ou de 20% (fundos de curto prazo, de até um ano) de Imposto de Renda sobre os rendimentos uma vez a cada semestre por meio do mecanismo chamado “come-cotas” a partir do ano que vem. Fundos com maiores prazos de aplicação têm alíquotas mais baixas por causa da tabela regressiva de Imposto de Renda;
  • Atualização antecipada: quem optar por começar a pagar o come-cotas em 2023 pagará 8% sobre o estoque dos rendimentos (tudo o que rendeu até 2023). O governo propôs dois modelos de pagamento

– 8% para quem parcelar em quatro vezes, com a primeira prestação a partir de dezembro. Na medida provisória, o governo tinha proposto alíquota de 10% nessa situação;

– 15% para quem parcelar em 24 vezes (dois anos), com primeira prestação a partir de maio de 2024.

OFFSHORE E TRUSTS

  • Instrumento: projeto de lei;
  • Como é: recursos investidos em offshores, empresas no exterior que abrigam fundos de investimentos, só pagam 15% de Imposto de Renda sobre ganho de capital se voltarem ao Brasil;
  • Tributação: 15% de cobrança anual de rendimentos a partir de 2024, mesmo se dinheiro ficar no exterior. Governo tinha proposto alíquotas progressivas de 0% a 22,5%, conforme os rendimentos anuais
  • Apuração: lucros das offshores serão apurados até 31 de dezembro de cada ano
  • Forma de cobrança: tributação dos trusts, relação jurídica em que dono do patrimônio transfere bens para terceiros administrarem.
  • Como funcionam os trusts: atualmente, legislação brasileira não trata dessa modalidade de investimento, usada para reduzir o pagamento de tributos por meio de elisão fiscal (brechas na legislação) e facilitar distribuição de heranças em vida;
  • Atualização antecipada: quem optar por atualizar o valor do estoque dos rendimentos (tudo o que rendeu até 2023) pagará menos. Nesse caso, a adesão é voluntária. O governo propôs dois modelos de pagamento

– 8% para quem parcelar em quatro vezes, com a primeira prestação a partir de dezembro. Na medida provisória, o governo tinha proposto alíquota de 10% nessa situação;

– 15% para quem parcelar em 24 vezes (dois anos), com primeira prestação a partir de maio de 2024.

 

  • Variação cambial: lucro com alta do dólar não será tributado em duas situações

– variação cambial de depósitos em conta corrente ou em cartão de crédito ou débito no exterior, desde que os depósitos não sejam remunerados;

– variação cambial de moeda estrangeira para vendas de moeda de até US$ 5 mil por ano.

Fiagro e fundos de investimentos imobiliários

  • Definição: Fiagros são fundos de investimento em cadeias agroindustriais, fundos de investimentos imobiliários são fundos que aplicam em imóveis

– Como é: fundos com pelo menos 50 cotistas e com cotas negociadas na bolsa de valores ou em mercados de balcão de derivativos têm isenção de Imposto de Renda

– O que muda: para obter isenção de IR, número mínimo de cotistas sobe para 100, com limite de cotas entre familiares a 30% do patrimônio líquido total, incluindo parentes até o segundo grau. Receita Federal tinha proposto 500 cotistas, depois reduziu proposta para 300

  • Impacto: segundo relator, de 70 fundos do tipo, apenas quatro perderiam a isenção do IR

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram
Com Agência Brasil


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