Prisão de terrorista bolsonarista que planejou atentado em Brasília aumenta tensão para posse de Lula; veja depoimento do terrorista

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George Washington de Oliveira, bolsonarista preso por planejar ato terrorista em Brasília no fim de semana, confessa o crime em depoimento (Foto: PCDF)

A prisão no sábado (24), véspera de Natal, do homem suspeito de ter tentado explodir um caminhão de combustível em Brasília aumentou o clima de tensão em torno da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ocorrerá em uma semana.

Petistas, aliados do futuro mandatário e autoridades do país temem novas tentativas de terrorismo e dizem que aumenta a pressão para a desmobilização do acampamento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) no QG do Exército, na capital federal, a poucos quilômetros da cerimônia de posse.

Bolsonaro não se manifestou sobre o episódio e apenas postou uma mensagem de Natal nas redes sociais. Já autoridades envolvidas na cerimônia do dia 1º de janeiro falam na necessidade de revisão dos planos e reforço do policiamento diante do cenário.

Desde o resultado das eleições proclamado no segundo turno, bolsonaristas se reúnem no local para protestar contra a vitória do petista. Eles pedem intervenção militar e alimentam o discurso de que Lula não vai tomar posse.

No apartamento alugado em Brasília por George Washinton a Polícia encontrou um grande arsenal (Foto: PCDF)

A PRISÃO

O empresário foi preso na noite de sábado (24) com um arsenal de armas e bombas na capital federal e confessou ter colocado uma bomba em um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília. Em coletiva à imprensa, o delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Robson Cândido, informou que o preso é um empresário do Pará, de 54 anos, que faz parte do grupo bolsonarista acampado em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. Ele confessou que pretendia cometer um atentado terrorista na capital federal para chamar atenção do movimento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que quer impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.

“Ele confessou que realmente tinha a intenção de fazer um crime no aeroporto, que seria destruir um porte ou algo do tipo para causar o caos e o objetivo dele era justamente chamar atenção para o movimento que eles estão empenhados”, disse Cândido.

O homem foi preso após tentativa de explodir um caminhão-tanque, que estava próximo ao aeroporto de Brasília. A prisão ocorreu após denúncia à polícia da presença de um artefato explosivo, que logo em seguida foi detonado pelo grupo anti-bomba.

“Ele é morador do Pará e veio justamente para participar de manifestações no QG [Quartel General do Exército]. Ele faz parte desse movimento de apoio ao atual presidente [Jair Bolsonaro] e estão imbuídos nessa missão, segundo ele, ideológica, mas que saiu do controle e as autoridades policiais, principalmente aqui em Brasília, iremos tomar todas as providências”, acrescentou.

O delegado-geral afirmou ainda que atentados com bombas nunca foram registrados em Brasília. A Polícia Civil do DF encontrou armas, munições e outras emulsões explosivas com o homem em um apartamento no bairro do Sudoeste alugado pelo Bolsonarista. Apesar de ter registro como Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), o material encontrado estava irregular.

“Nós não iremos permitir que nenhum tipo de manifestação possa causar mal às pessoas ou ao patrimônio público”, assegurou. “Ele é CAC, porém está tudo fora das normas e será autuado por posse, porte de arma ilegal de fogo, munições e artefatos explosivos e crime contra o Estado Democrático de Direito”, completou.

MINISTRO DA JUSTIÇA

Na tarde deste domingo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, publicou nas redes sociais que “oficiou à Polícia Federal para acompanhar a investigação e, no âmbito de sua competência, adotar as medidas necessárias quanto ao artefato encontrado ontem (24) em Brasília. Importante aguardarmos as conclusões oficiais, para as devidas responsabilizações.”

Por meio do Twitter, o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública do governo eleito, Flávio Dino, classificou de “terrorismo” a tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília investigada pela polícia de Brasília.

“Os graves acontecimentos de ontem [sábado] em Brasília comprovam que os tais acampamentos ‘patriotas’ viraram incubadoras de terroristas. Medidas estão sendo tomadas e serão ampliadas, com a velocidade possível”, afirmou Dino. “O armamentismo gera outras degenerações. Superá-lo é uma prioridade”.

Flávio Dino agradeceu a rapidez da Polícia Civil do DF. “Reitero o reconhecimento à Polícia Civil do DF, que agiu com eficiência. Mas, ao mesmo tempo, lembro que há autoridades federais constituídas que também devem agir, à vista de crimes políticos”, disse. “Não há pacto político possível e nem haverá anistia para terroristas, seus apoiadores e financiadores”.

Em uma nova postagem, o futuro ministro postou que pretende propor que o Procurador Geral da República e o Conselho Nacional do Ministério Público constituam grupos especiais para combate ao terrorismo e ao armamentismo irresponsável. “O Estado de Direito não é compatível com essas milícias políticas.”

O DEPOIMENTO

A Justiça do Distrito Federal determinou a prisão preventiva do empresário bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, 54 anos, após audiência de custódia realizada na tarde desse domingo (25). Ele confessou ter planejado um atentado a bomba próximo ao aeroporto de Brasília. George Washington foi transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda.

George Washington foi preso em flagrante, no sábado, por investigadores da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul). Ele estava no apartamento onde morava de aluguel, no Sudoeste. No momento da detenção, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) encontrou armas, mais de mil munições, explosivos e materiais como querosene de aviação, além de um detonador por dispositivo remoto da bomba. Os artefatos foram transportados pelo acusado em uma caminhonete, do Pará para a capital federal.

Dono de uma rede de postos de gasolina no estado onde reside, George Washington decidiu, ao término do segundo turno das eleições, deixar a mulher e os filhos na cidade de Xinguara para viajar a Brasília e integrar o grupo bolsonarista que protesta em frente ao Quartel-General do Exército contra a vitória nas urnas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

AUDIÊNCIA

Em audiência de custódia, a juíza Acácia Regina Soares converteu a prisão em flagrante do apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) em preventiva, para garantir a segurança pública, uma vez que, além da bomba, ele tinha uma grande quantidade de armas e munições.

“Busca também assegurar o meio social e a própria credibilidade dada pela população ao Poder Judiciário, vez que os armamentos e artefatos encontrados em posse do autuado possuem grande potencial lesivo, entre elas um fuzil AR10, duas espingardas calibre 12, 30 cartelas de munição 357 magnum, 39 cartelas de munição 9mm contendo 10 munições intactas não deflagradas, duas caixas contendo 50 munições de 9mm, entre outros, capazes de causar danos a uma grande quantidade de pessoas e bens”, frisou a juíza.

Em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, George Washington admitiu que pretendia distribuir as armas e as munições para apoiadores de Bolsonaro acampados em frente ao QG do Exército. Ele afirmou que o plano para a explosão nos arredores do aeroporto de Brasília foi arquitetado nesse acampamento e que a ideia inicial era explodir o artefato na subestação de energia de Taguatinga.

O detido relatou duas versões para colocar em prática o plano terrorista. Uma de explodir a bomba em um caminhão-tanque, com querosene de aviação, próximo ao estacionamento do aeroporto de Brasília — onde o artefato foi encontrado —; e a outra de explodir a bomba na estrutura da subestação de energia elétrica de Taguatinga, para “gerar caos que levaria à decretação de estado de sítio”.

A bomba seria explodida por meio de um dispositivo remoto. “No dia 22/12/2022, vários manifestantes do acampamento conversaram comigo e sugeriram que explodíssemos uma bomba no estacionamento do aeroporto de Brasília durante a madrugada e, em seguida, fizéssemos denúncia anônima sobre a presença de outras duas bombas no interior da área de embarque”, relatou no depoimento.Também segundo ele, “no dia seguinte, (23/12/2022) uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”.

Segundo o suspeito, a envolvida teria desistido de levar a bomba, mas outro homem, com o nome de Alan, se comprometeu a transportar o explosivo à estação em Taguatinga. Esse bolsonarista, porém, teria mudado de ideia e retomado o plano de levar perto do aeroporto.

O empresário contou que a ideia ocorreu no dia da diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na ocasião, bolsonaristas fizeram violentos ataques no centro de Brasília.

“No dia 12/12/2022, houve o protesto contra a prisão do índio, onde eu conversei com os PMs e os bombeiros responsáveis por conter os manifestantes, que me disseram que não iriam coibir a destruição e o vandalismo, desde que os envolvidos não agredissem os policiais”, detalhou. “Ali ficou claro para mim que a PM e o bombeiro estavam ao lado do presidente (Bolsonaro) e que em breve seria decretada a intervenção das Forças Armadas.”

Ainda de acordo com ele, “ultrapassado quase um mês, nada aconteceu”. “Então, resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de estado de sítio para impedir instauração do comunismo no Brasil”, admitiu.

FONTES
Agência Brasil
Polícia Civil do Distrito Federal
Justiça do Distrito Federal

 

 


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