Conta de luz ficou mais cara para quatro em cada cinco brasileiros, diz Datafolha

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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha e encomendada pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) indicou que a conta de luz ficou mais cara em relação ao início da pandemia de covid-19 para 78% dos entrevistados. Para 79% deles, a conta de luz passou a pesar mais no orçamento familiar, e 74% buscaram diminuir o consumo de energia em suas residências para economizar.

A pesquisa, que ouviu 2.077 pessoas em todas as regiões brasileiras, também apontou que a o valor da energia elétrica vem sendo considerada “cara” ou “muito cara” por cerca de 83% dos entrevistados – cinco em cada seis brasileiros acreditam que o valor é acima do possível. O valor vem se mantendo em valores altos anualmente desde 2015 (quando 88% consideravam a conta de luz cara ou muito cara).

Na pesquisa mais recente, 13% consideram o valor “justo”. Quem considera a conta de luz barata ou muito barata são apenas 4% da população.

Segundo o presidente-executivo da Abraceel, Reginaldo Medeiros, a energia é considerada mais cara pelo brasileiro de renda média. “A população de renda baixa tem a tarifa social, com muito desconto – e 25% dos brasileiros tem essa tarifa social”, disse. “É o brasileiro de renda média que tem essa sensação [de que a conta está cara], porque para ele não há esse subsídio na tarifa. Muitas classes na energia elétrica recebem subsídios, mas a tarifa residencial a partir de 220 kW/mês de consumo, fora de programas sociais, paga a tarifa integral. ”

Questionados sobre o porquê de a conta ser cara, 53% justificaram que há impostos e taxas excessivas na tarifa; outros 19% alegam que seria a falta de concorrência que causa a pressão dos preços. Sobre a escolha do mercado, o índice favorável tem aumentado ano após anos: hoje, 81% dos brasileiros entrevistados gostariam de escolher seu fornecedor de energia.

A pesquisa também mostra que 92% dos brasileiros gostariam de gerar energia elétrica em casa. A questão da chamada “geração distribuída” é tema de um Projeto de Lei (PL 5829/2019), de autoria do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM). A proposta, considerada polêmica, já foi incluída na pauta do dia do Plenário da Câmara, mas não chegou a ser apreciado.

PRESSÃO DEVE CONTINUAR

A conjuntura atual indica que esta sensação de alto custo na energia elétrica deve permanecer por algum tempo. O país enfrenta uma baixa histórica dos reservatórios de água que compõem a maior parte da nossa matriz energética – com as maiores secas em 91 anos de medições, o risco de que falte água para as usinas do Rio Paraná é real, indicou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em junho. Isso colocaria em risco quase 53% da geração de energia no país.

O baixo índice pluviométrico, assim como os baixos níveis das represas que abastecem as hidrelétricas brasileiras, já forçaram a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a instaurar uma versão mais cara da bandeira vermelha 2, com a cobrança na conta de luz de R$9,49 para cada 100 kWh consumidos.

Mateus Tolentino Gonçalves, diretor da consultoria de energia elétrica Prime Energy, pondera que o problema enfrentado pelo país com o preço da energia (assim como sua percepção) tem múltiplas causas – mas que a pouca chuva é uma razão predominante. O analista considera o cenário atual como desafiador. “Estamos muito dependentes do próximo período úmido, próximo ciclo de chuvas”, disse. “A gente vai caminhar para níveis de reservatórios muito baixos, até batendo recordes históricos”.

Ele argumenta que esta não é a primeira vez que o país enfrenta este tipo de pressão: além do racionamento de 2001, o sistema brasileiro sofreu situações de estresse em 2008 e entre 2014-2015.  Nesta época, entre o primeiro e o segundo mandato de Dilma Rousseff, o país começava a ver um “efeito rebote” de uma redução artificial da conta de luz. O valor aumentou consideravelmente (assim como a percepção dos brasileiros: o índice da Abraceel  registrou que 67% das pessoas achavam a conta cara em 2014; eram 88% no ano seguinte).

Desta vez, uma recuperação econômica causada pelo final da fase aguda da pandemia pode realmente colocar o sistema de energia em xeque. “O ONS e o Ministério de Minas e Energia têm trabalhado para ter o máximo de flexibilidade para operar o sistema sem sobressaltos – parece que vão conseguir”.

Nesta segunda-feira (2), o Ministério levou a consulta pública uma portaria para incentivar que as indústrias, grandes consumidoras de energia elétrica, aceitem uma oferta de redução voluntária de demanda de energia elétrica, podendo inclusive alterar seus horários de funcionamento para momentos onde a demanda por energia seja menor, como as madrugadas.

Reginaldo também acredita que é importante que o governo federal atue não apenas para mitigar os problemas de baixa reserva energética, como também conscientize a população em geral. “Seria muito importante uma campanha muito clara do governo expressando que estamos com dificuldade no suprimento de energia, e que é importante que as pessoas colaborem, para que não tenhamos que entrar na questão do racionamento”, explicou. “É preciso revitalizar aquelas ideias que tivemos em 2001, que todos se conscientizaram que estavam vivendo uma situação energética. É necessário que o sinal seja claro.”

Fonte: Congresso em Foco

 

 


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