Em discurso alucinado, Bolsonaro diz que Brasil não pode ser um país de “maricas”, ameaçou com “pólvora” os Estados Unidos e ignorou os mais de 162 mil mortos pela Covid

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Em um discurso alucinado feito na tarde desta terça-feira (10) no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro defendeu que o país tenha pólvora para fazer frente a ameaças internacionais em torno da Amazônia, disse que a pandemia do coronavirus foi superdimensionada, pois “todos tem que morrer um dia” e finalizou dizendo que o Brasil não pode ser um país de “maricas”. Sobre a alusão de “ter pólvora” para enfrentar as ameaças, Bolsonaro  não citou explicitamente a quem fazia referência, mas deixou implícito se tratar de Joe Biden, que venceu a eleição americana. Bolsonaro é um dos poucos chefes de Estado que ainda não reconheceram a vitória de Biden contra o atual presidente Donald Trump.

“O Brasil é um país riquíssimo. Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que se eu não apagar o fogo da Amazônia levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, né, Ernesto?”, disse se dirigindo ao chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. “Porque quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, se não, não funciona. Precisa nem usar a pólvora, mas precisa saber que tem”, continuou.

No fim de setembro, em debate com Trump, Biden ameaçou o Brasil com sanções econômicas caso o país não contenha o desmatamento e as queimadas em suas florestas. O adversário de Trump propôs um aporte de US$ 20 bilhões para ajudar o Brasil na conservação do meio ambiente. “Parem de destruir a floresta. E, se vocês não pararem, irão enfrentar consequências econômicas significativas”, citou como contrapartida.

Sobre o sistema eleitoral brasileiro, Bolsonaro voltou a dizer, sem provas, que ele é “passível de fraude, sim”. “Eu entendo que eu só me elegi presidente porque eu tive muito voto.” A fala foi proferida no momento em que Trump questiona o resultado das urnas na eleição americana e a cinco dias do pleito municipal no Brasil. Na semana passada, Bolsonaro defendeu a volta do voto impresso no Brasil, o que já foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O chefe do Executivo também afirmou que sua vida na presidência da República é “uma desgraça” e que ele não tem um dia de paz. “A minha cadeira está à disposição. Não sou super-homem. Aquela pipoca lá tem criptonita, ou um formigueiro”, disse ele.

MARICAS

Foi a primeira aparição pública de Bolsonaro após ter comemorado a suspensão de testes da vacina chinesa contra o coronavírus. Ele voltou a minimizar a pandemia. Segundo ele, a covid-19, que matou mais de 162 mil pessoas no Brasil, foi “superdimensionada”. “Tenho sentimento por todos que morreram, mas foi superdimensionada”, disse ele.  “Tudo agora é pandemia. Tem que acabar com esse negócio.”

Bolsonaro fazia críticas à geração atual que se preocupa com a pandemia de covid-19. “Lamento os mortos. Todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas”, disse. “A geração hoje em dia é Toddynho, Nutella, ‘Zap’”.

O discurso ocorreu horas após Bolsonaro ter celebrado no Facebook a interrupção, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do estudo clínico da vacina CoronaVac. O imunizante é desenvolvido pelo Instituto Butantan, do governo paulista, em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech. Os testes foram suspensos em razão da morte de um voluntário, que posteriormente foi comprovado que o motivo não foi a vacina.

Bolsonaro voltou a condenar o fechamento do comércio e disse que a segunda onda do vírus – preconizada por especialistas e autoridades de saúde – significa uma forma de “amedrontar o povo”. “O que faltou para nós não foi um líder, faltou deixar um líder trabalhar, porque eu fui eleito para isso.” Sem especificar, Bolsonaro disse que estudos indicam que não chega a 20% o número de óbitos por covid-19. Ele mesmo ressaltou que esses pretensos estudos ainda não foram comprovados oficialmente.

Segundo a última atualização do Ministério da Saúde, mais de 5,6 milhões de brasileiros foram diagnosticados com a covid-19, dos quais 162 mil morreram vítima do vírus. O discurso negacionista de Bolsonaro contraria recomendações das autoridades de saúde internacionais, líderes de nações desenvolvidas e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Fonte: Congresso em Foco

 

 


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