PROTESTO NO LEGISLATIVO
Mais de 80 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e de Combate às Endemias (ACE) ocuparam o plenário da Câmara Municipal de Divinópolis durante a sessão realizada na tarde desta quinta-feira (4). A manifestação foi motivada por mais uma decisão do prefeito Gleidson Azevedo (PSC), que não cumpriu as regras da Emenda Constitucional 120, que definiu o piso salarial da categoria. Na folha de pagamento liberada nesta quinta-feira, a administração não reconheceu o piso salarial de R$ 2.424, como também desconsiderou progressões de carreira, insalubridade e outros benefícios garantidos pela Constituição. Nos contracheques dos agentes foi mantido o valor do salário de R$ 2.004,58 e, para se chegar ao valor de R$ 2.424,00, a Prefeitura utilizou o “complemento salarial”, que não entra nos vencimentos como salário.
Antes da ocupação da Câmara, a Prefeitura divulgou uma nota admitindo que estava burlando a Emenda Constitucional: “(sic) … Todo ACS e ACE, que em seus vencimentos não atingirem o Teto Constitucional de dois salários mínimos, será pago a diferença deste valor na verba “Complemento de Piso ACS/ACE”.
Vários vereadores se pronunciaram em defesa dos agentes, porém, alguns permaneceram em silêncio, não fazendo nem mesmo referência à presença da categoria na sessão da Câmara, como foi o caso de Israel da Farmácia (PDT) e Diego Espino (PSC). Outros não se inscreveram para pronunciamentos, entre eles Rodyson do Zé Milton (PV), Ana Paula do Quintino (PSC), Josafá Anderson (CDN) e o irmão do prefeito, Eduardo Azevedo (PSC), que registrou presença na sessão, mas permaneceu fora do plenário durante toda a reunião.
PRONUNCIAMENTOS
Todos os vereadores que fizeram pronunciamentos durante a sessão declararam apoio aos agentes, inclusive colocando-se à disposição da classe para pressionar o prefeito a cumprir a lei. Os pronunciamentos mais duros foram dos vereadores Lohanna França (PV), Flávio Marra (Patriota), Hilton de Aguiar (MDB) e Ademir Silva (MDB).
A vereadora Lohanna França criticou a nota divulgada ontem à tarde pela Prefeitura, após a reação dos Agentes diante do descumprimento da Emenda Constitucional 120. “A nota é fake news. Por que é Fake News? Porque a Emenda Constitucional diz que o vencimento [dos agentes] não poderá ser inferior a dois salários mínimos. Ao mesmo tempo em que eles [prefeito e vice-prefeita] descumprem a Emenda Constitucional e dizem que estão pagando, eles estão desconsiderando o tempo de serviço dos trabalhadores. A verdade é que eles estão levando esse dinheiro para algum lugar. Porque o dinheiro veio”, afirmou Lohanna.
A vereadora citou o termo de compromisso assinado com o Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis e Região Centro-Oeste (Sintram) pelo então candidato Gleidson Azevedo em 2019. “O interessante é a falta de palavra do prefeito, porque ele assinou um termo de compromisso [com o Sintram] e no quinto ponto falou assim: valorização do servidor público através da correção e distorções existentes no GH com a exclusão de aumento diferenciado para categorias de servidores em separado”, lembrou Lohanna.
Leia íntegra do termo de compromisso assinado pelo então candidato Gleidson Azevedo com o Sintram
O vereador Flavio Marra também criticou duramente a gestão do prefeito Gleidson Azevedo. “Cadê a gestão que falou que ia olhar para aqueles que mais precisavam? Tem servidor que trabalha 10, 20 anos para bancar salário de marajá na Prefeitura. Lá tem marajá que ganha R$ 15 mil por mês. E o prefeito vem e tira o direito do servidor. A PEC dá com uma mão, a gestão tira com a outra”, disse Marra,
O vereador Hilton de Aguiar (MDB) chamou à responsabilidade o deputado Cleiton Azevedo (PSC), irmão do prefeito, a interceder em favor dos Agentes. “Foi ele quem avalizou a candidatura do irmão a prefeito”. E acrescentou: “Não adianta ficar fazendo vídeozinho de ilariê pra lá e pra cá. Faça um vídeo bonito, senhor prefeito, chame esse povo todo que esta aqui de azul falando que vai ajudar essas pessoas”.
O vice-presidente da Câmara, vereador Ademir Silva (MDB) lembrou das promessas feitas pelo então candidato a prefeito Gleidson Azevedo, especialmente a valorização dos servidores. “Mas isso foi em campanha. Agora, é outra coisa. Vira as costas para os servidores, inclusive desrespeitando as leis do nosso país. É uma lei federal que está sendo descumprida”, disse Ademir. “Nós tínhamos um vereador aqui nessa casa chamado Cleitinho que era um ferrenho defensor dos servidores. Nós tínhamos a Janete [hoje vice-prefeita] que era ferrenha defensora de todos os servidores. E hoje, ela está lá, de que jeito? De costas para o servidor”, disse Ademir, se posicionando de costas para o plenário.
O presidente da Câmara, Eduardo Print Júnior, se reuniu com representantes dos agentes ainda durante a reunião. Também participaram do encontro o presidente do Sintram, Wellington Silva, e a conselheira Lucilândia Monteiro. Print Júnior prometeu que dará todo apoio aos agentes, acrescentando que vai interceder junto à administração para que a Emenda Constitucional 120 seja cumprida integralmente.
SINTRAM
O presidente do Sintram, Wellington Silva, que está trabalhando junto aos agentes desde o início do ano nas reivindicações pelos direitos da classe, confirmou que se o prefeito não cumprir a legislação, o sindicato vai denunciá-lo por crime de responsabilidade. “Infelizmente teremos que tomar essa medida. Estamos tentando desde o início do ano uma solução através do diálogo, mas o prefeito tem se negado a conversar. O descumprimento de lei é crime e o prefeito vem descumprindo leis desde o início do mandato, como já descumpriu, por exemplo, a Lei do Gatilho. Não era nossa intenção e muito menos dos agentes de saúde chegar a esse ponto, mas se esse é o único caminho, então teremos que segui-lo”, afirmou Wellington Silva.
O crime de responsabilidade está previsto no inciso XIV, do artigo 1º, do Decreto-Lei 201/67, que dispõe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores:
- Art.1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
- —–
- XIV – Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente;
De acordo com o Decreto 201, o crime de responsabilidade previsto no inciso XIV é passível de pena de prisão de três meses a três anos. Além disso, a condenação definitiva em qualquer dos crimes definidos no artigo 1º, acarreta a perda de cargo e a inabilitação, pelo prazo de cinco anos, para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação, sem prejuízo da reparação civil do dano causado ao patrimônio público ou particular.
ASSEMBLEIA
Após a manifestação na Câmara, os agentes se reuniram em assembleia em frente ao Sintram. A categoria decidiu fazer nova manifestação na próxima terça-feira (9), com uma concentração em frente ao Centro Administrativo no período da manhã. A tarde, a partir das 13h, os agentes se concentrarão em frente à sede do Sintram e, em seguida, sairão em passeata seguindo pela Avenida Getúlio Vargas, seguindo pela Rua Rio de Janeiro, Sete de Setembro e descendo pela Rua São Paulo, finalizando em frente à Câmara Municipal. Em seguida, a categoria ocupará novamente o plenário do Legislativo durante a sessão ordinária.
De acordo com decisão da assembleia, o Sintram fará uma notificação através de ofício à Câmara Municipal, , solicitando ao Legislativo a adoção de medidas para que o prefeito cumpra a legislação.
Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram
Foto: Com cartazes de protesto e muito barulho, agentes de saúde ocuparam a Câmara nesta terça-feira (Crédito: Pollyana Martins)