A diretoria do Sintram deu o pontapé inicial ontem (20/11) para trazer para o debate a construção e execução de ações que visem à preservação e promoção da saúde mental dos servidores públicos municipais de Divinópolis. Preocupada com os relatos de casos de suicídio entre trabalhadores da Prefeitura, a diretoria convocou representantes da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) e do Centro de Referência a Saúde do Trabalhador (Cresst) para que, em parceria, a questão seja discutida e trabalhada.
O vice-presidente do Sintram, Wellington Silva, disse que o resultado do encontro foi positivo e já retirados alguns encaminhamentos. O primeiro será o envio de ofício à Prefeitura de Divinópolis para discutir a necessidade de recomposição do quadro de profissionais do Cresst, para melhor suporte a saúde dos servidores. “Iremos solicitar a contratação de um assistente social, uma vez que a assistência social do Cresst aposentou e não foi contratado outro profissional para o lugar. Além disso, vamos solicitar a contratação de mais um psicólogo para fazer o atendimento ambulatorial porque o Centro agora mudou o foco, ou seja, é trabalhado apenas problemas psicológicos do servidor relacionados ao local de trabalho e antes o Cresst também fazia o atendimento clínico. Entendemos que esse atendimento também é importante até para prevenção e tratamento quando o trabalhador chega lá com problemas relacionados à psicologia”, disse o vice-presidente.
Outro encaminhamento será o envio de convite para integrar o grupo de discussão a representante do Núcleo de Suicidologia da Universidade de São João Del Rey, em Divinópolis, Nadja Cristiane Lappann Botti, que é psicóloga, mestra, doutora e professora da Universidade. “A intenção é debater sobre esse número alto de suicídios, que vem ocorrendo neste período entre os servidores e achar uma estratégia de prevenção para que nossos servidores consigam resolver problemas e conflitos internos, para não chegar a esse ponto trágico”, disse o vice-presidente.
O vice-presidente disse que serão também convidados para o próximo encontro a diretora da Atenção Primária à Saúde e a técnica em referência em Psicologia. Além disso, será reforçando o convite aos representantes do Sintemmd, considerando que a Semed é hoje a Secretaria com maior número de afastamentos dos servidores, e ao representante da Vigilância em Saúde do Trabalhador. “Vamos encaminhar o ofício à Nadja, representante do Núcleo da UFSJ, e assim que tivermos esse retorno com a data que ela pode participar, iremos entrar em contato com todo esse grupo de profissionais, que esteve hoje conosco, para que possamos continuar a discussão encontrando um caminho para resolvermos o problema”, disse.
AFASTAMENTOS
A enfermeira do trabalho do Cresst e também presidente da Comissão de Readaptação e Requalificação Profissional, Inara Aparecida Tavares, presente na reunião, relatou que os afastamentos por transtornos mentais, que são CID F, tem realmente um número muito acentuado na Prefeitura de Divinópolis, o que traz uma incapacitação muito grande para o trabalho. “Com relação a Secretaria que mais se afasta por esse CID são os servidores da Secretaria Municipal de Educação, então temos feito sim alguns trabalhos preventivos dentro do Cresst, mas estamos longe de estar na nossa meta, do que a gente gostaria de estar oferecendo para esse trabalhador”, disse a profissional.
Ela explica que hoje o Centro tem uma equipe média para atender os servidores, ou seja, equipe de enfermagem, psicologia e o núcleo social. A profissional explica que o trabalhador acima de 15 dias de afastamento fica sendo responsabilidade do Diviprev e um acompanhamento mais de perto é feito daqueles afastamentos que superam seis meses. “Todo mês recebemos a notificação do Diviprev sobre esses atestados, afastamentos, e nós, enfermeiros do trabalho, fazemos esse levantamento de dados com os servidores que são afastados acima de seis meses. Pegamos todos esses dados e fazemos um contato direto por telefone ou fazemos visita domiciliar para saber como anda a saúde deste trabalhador”, disse. A enfermeira explica que é feita uma busca ativa pelo paciente. “Em alguns casos como esse servidor possivelmente já teve algum contato com a psicologia, temos uma rede de interação da enfermagem, médico e psicologia, que faz esse acolhimento, até a busca ativa pelos próprios psicólogos”, disse Irara.
SUPORTE
A psicóloga do Cresst também presente na reunião, Fernanda Santos, explicou como é feito o atendimento aos servidores afastados, que precisam de apoio psicológico. “A enfermagem encaminha para nós esses servidores e fazemos o acolhimento. Dentro desse acolhimento, fazemos uma avaliação. Como houve uma mudança, hoje fazemos o acompanhamento psicológico de servidores que tenham algum sofrimento emocional diante de situações relacionadas ao trabalho. Quando o sofrimento não é relacionado ao trabalho encaminhamos esses servidores para fazerem uma psicoterapia ou outro tipo de tratamento porque de repente a demanda nem é da Psicologia”, disse.
A profissional destaca que discutir o problema de forma preventiva e coletiva é fundamental, visto que a a maior dificuldade é a continuidade do atendimento por parte do paciente. “Geralmente, quando a gente faz o acolhimento no primeiro momento, que é um momento mais grave, de crise, às vezes essas pessoas não têm essa continuidade e o fato de estarmos reunidos e pensando estratégias conjuntas seria até uma forma de estar viabilizando a continuidade do atendimento dessas pessoas”, disse a psicóloga.
SEMED
Representando a Secretaria Municipal de Educação esteve presente a coordenadora do Centro de Referência aos Profissionais da Educação, Eliana Elisa Gonçalves, que ressaltou a importância de discutir o problema da saúde mental, que hoje atinge várias pessoas. “Acredito que a depressão e o suicídio são o mal do século por causa do estilo de vida atual mesmo de muito estresse, informações, atividades. Isso tudo leva ao adoecimento dos profissionais, das pessoas de uma forma geral, é realmente uma preocupação. Na educação percebemos o quanto as escolas ficam prejudicadas com isso porque o índice de licença é muito alto. (…) à vezes, prejudica o andamento dos trabalhos, mas isso é geral, percebemos que os alunos também enfrentam o problema. Essa iniciativa de buscar saídas, de melhoria da qualidade de vida e trabalho é muito importante, pensando alternativas que possam minimizar esse quadro”, disse.
PREVENÇÃO
A Secretaria Municipal de Saude foi representada pela diretora de Saúde mental, Adriana Carvalho, que ressaltou que é fundamental trabalhar a prevenção. “Sabemos que o problema não é só com os servidores, a questão de saúde mental é mundial principalmente em relação a prevenção ao suicídio, pois há altos índices em todos os lugares. Então iremos oferecer o apoio aos servidores junto ao Sintram, montando um núcleo com as pessoas de cada setor para trabalhar sobre esses fatores, o que está levando as pessoas ao adoecimento. Trabalhar a prevenção e não apenas quando o problema se agrava”, disse.
Reportagem: Flávia Brandão
Comunicação Sintram