Senador ofereceu PIX de R$ 200 para alunos do Joaquim Nabuco que acertassem cinco perguntas

O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) foi denunciado no Ministério Público pelo vereador Vitor Costa (PT) nesta segunda-feira (6), após a exposição de alunos da Escola Estadual Joaquim Nabuco de Divinópolis. O senador postou um vídeo em suas redes sociais, onde ele aparece em frente a escola, no horário da saída de estudantes do ensino médio, e oferece um PIX de R$ 200 para o estudante que acertasse a cinco perguntas envolvendo política.
Vários estudantes na faixa de 16 anos de idade passaram pela mesa que o senador instalou na calçada em frente a escola. O que parecia ser uma iniciativa educativa, não passou de constrangimentos para muitos jovens que não souberam responder perguntas envolvendo questões políticas. A atitude do senador foi vista também como uma crítica aos educadores, indiretamente responsabilizados pelo desconhecimento político dos estudantes.
Após a pirotecnia populista feita pelo senador, o vereador Vitor Costa reagiu: “Não passou de mero espetáculo para as redes sociais. Perguntas que eu tenho certeza que o próprio senador Cleitinho talvez não saiba responder, se ele não colar”, disparou.
O vereador desafiou o senador a conhecer a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento normativo que define as aprendizagens essenciais e as competências que todos os alunos da Educação Básica brasileira devem desenvolver, da pré-escola ao ensino médio. “Duvido que ele saiba o que é o BNCC, que instrui a ensinar política nas escolas voltada para formar pensamentos críticos, para formar cidadãos conscientes e capazes de eleger representantes, não politiqueiros”, disse o vereador.
No entendimento de Vitor Costa, a ação do senador foi uma grave exposição dos jovens. “Expor menores e de certa forma também atacar os profissionais da educação, não deveria ser a postura de um senador da República. Não podemos naturalizar esse tipo de prática”, afirmou. “O que nós vimos foi apenas uma tentativa de desmoralizar a escola pública e reforçar a ideia de que a política é algo distante, inacessível, usada para constranger em vez de educar. Ridicularizar adolescentes não vai resolver os problemas do Brasil”, finalizou Vitor Costa.
BÍBLIAS
As escolas da rede pública não possuem especificamente educação política em sua base curricular, o que pode ser uma das justificativas para que estudantes desconheçam temas como número de deputados, número de senadores ou qual foi o último senador eleito por Minas Gerais, como propôs Cleitinho Azevedo nas perguntas formuladas aos estudantes da Escola Joaquim Nabuco.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, porém não aborda diretamente a “educação política” como um componente curricular obrigatório, mas sim a formação para a cidadania e a comunicação de ideias. No Senado Federal tramita há dois anos o Projeto de Lei 4.088/2023 que inclui o tema educação política e direitos da cidadania na grade curricular obrigatória da educação básica, que envolve a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
A relatora do Projeto, senadora Fátima Leitão (PT), defende a implantação da política na grade curricular. “A educação política promove a formação de cidadãos que se reconhecem como tais e sabem se posicionar em meio à sociedade, seja nas eleições, enquanto eleitores ou candidatos, seja na reivindicação de seus direitos e no cumprimento de seus deveres, seja, ainda, na contribuição para a construção de uma sociedade mais livre, justa e solidária”, declarou a senadora.
CÂMARA MUNICIPAL
A educação política de estudantes não é um tema que interesse à maioria absoluta dos vereadores que compõem a Câmara Municipal de Divinópolis. Ao contrário de apresentar propostas de uma boa educação, vereadores de extrema direita estão abarrotando os legislativos de todo o país com projetos doutrinários para obrigar a leitura da Bíblia nas escolas. Embora não haja previsão na grade curricular do Ministério da Educação, a leitura da Bíblia já está regulamentada por lei em várias cidades de Minas.
É o caso de Divinópolis, por exemplo. A própria Câmara inicia suas sessão com a leitura de um versículo bíblico. Nas escolas da cidade, há uma lei de 2003, de autoria do ex-vereador Marcos Vinicius Alves da Silva. Pastor evangélico, Marcos Vinicius apresentou projeto que foi aprovado em 2003 e se transformou na Lei 5.566/2003, que autoriza as escolas da rede pública municipal “a procederem à leitura de um versículo bíblico, de forma facultativa para os alunos que manifestarem interesse”.
Em agosto desse ano, foi aprovado projeto de lei de autoria do vereador Matheus Dias (Avante) que dispõe sobre a leitura bíblica como recurso paradidático nas escolas públicas da cidade. O projeto foi transformado na Lei 9.567/2025, sancionada pelo prefeito Gleidson Azevedo (Novo) em 11 de agosto desse ano. Matheus Dias é autor do Projeto de Lei 137/2025, que institui e inclui no calendário oficial de eventos e festas da cidade o dia municipal dos legendários. A proposta ainda está em tramitação.
O contraponto para essa onda de doutrinação religiosa na Câmara Municipal de Divinópolis é o Projeto de Lei 196/2025, da vereadora Kell Silva (PV). O projeto estabelece a leitura da Constituição da República como recurso paradidático nas escolas públicas e particulares do município. O projeto ainda aguarda pareceres.
Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram