Semana da Consciência Negra em Divinópolis discute políticas inclusivas e combate ao racismo

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Nesta quarta-feira (20/11) é comemorado o “Dia da Consciência Negra”, data importante que remete a luta histórica do povo negro em busca da igualdade racial.  Em Divinópolis, será promovido pelo Movimento Negro de Divinópolis – Mundi e pela 12ª Superintendência Regional de Ensino de Divinópolis/MG o Seminário “Étnico Racial Consciência Negra”, no dia 20/11, no horário de 7h às 11h30, na Câmara Municipal, com alunos da rede pública de ensino. Desde ontem uma tenda educativa e informativa  está no quarteirão fechado da Rua São Paulo explicando a importância da data e das políticas inclusivas, bem como o combate ao racismo. A diretora do Sintram, Rafaela Silva, esteve hoje (19/11) na tenda convocando a população para participar de uma  pesquisa no local e ressaltando a importância da data.

A sindicalista e integrante do Movimento Unificado Negro de Divinópolis – Mundi, Maria Catarina Laborê, fala sobre a importância do Dia da Consciência Negra e convida população para atividades (Crédito: Flávia Brandão/Sintram)

A sindicalista e integrante do Movimento Negro de Divinópolis, Maria Catarina Laborê, esteve no Sintram, e em entrevista falou sobre a importância das atividades da Semana e convocou a população a participar. A sindicalista ressaltou que o Brasil vive o “mito da democracia racial” e agradeceu o apoio ao evento e espaço concedido pelo Sintram para falar da temática que só é abordada pela mídia quando ocorre algum escândalo de racismo, como aconteceu recentemente em um jogo do Atlético, com um segurança que foi vítima de racismo. “Qual a história do dia 20 de novembro? A data é  referência máxima do nosso maior herói da luta dos negros no Brasil, que foi Zumbi dos Palmares, que morreu exatamente em  20 de novembro de 1695. Lá se vão 324 anos e nós, negros que lutamos contra o racismo, pela promoção da igualdade social,  temos esse compromisso de continuar nessa luta de Zumbi dos Palmares”, ressaltou.

Maria Catarina explica os heróis e heroínas negras, infelizmente, demoraram a ser reconhecidos no Brasil e ainda há muito a caminhar na promoção da igualdade racial e combate ao racismo, inclusive  trabalhando para que a Lei 10.639, que obriga o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas redes de ensino, seja cumprida, visto que muitos educadores ainda a desconhecem. “Há pouco tempo, em 1995, Zumbi de Palmares foi reconhecido e por incrível que parece só no dia 09 de janeiro de 2003 foi editada a primeira lei assinada pelo ex-presidente Lula. (…) Ele assinou a Lei 10. 639, decretando a obrigatoriedade do ensino da cultura africana  e afro- brasileira na educação nacional. O educador tem que saber que é preciso trabalhar uma pauta social, uma pauta pela diversidade (…). Implementar a lei não é fácil, tem lugares  que a gente chega, que tem educadores que não sabem o que é a lei e ela é obrigatória em toda a rede de ensino pública e privada e  nas universidades”, explicou.

Maria Catarina disse que é preciso explicar para a população a importância das políticas inclusivas e falar das mesmas não somente no dia 20 de novembro, mas de uma forma constante e transformada.

SEMINÁRIO

Outra atividade importante da semana será o seminário Étnico Racial da Consciência Negra.  O encontro será na Câmara Municipal de Divinópolis no horário de 7h às 11h30 com cerca de 300 alunos e convidados que contribuirão com o debate. “A educação vai trazer o que foi trabalhado, qual fruto desse trabalho. O seminário que irá pautar pela apresentação de trabalho dos alunos, a manifestação dos alunos, porque o racismo ainda existe nas escolas e muitas das vezes não são encaminhados os casos. Numa escola uma auxiliar de serviços gerais chamou a diretora de macaca. Alunos e mães chegam para a gente e falam: “_Estão rindo do meu cabelo”. Às vezes, a criança quer afastar da escola, por situações como essas. O que a gente pede, enquanto educadora étnico-racial que sou há muito tempo e agora no Movimento, que as pessoas denunciem”, orientou.

DENUNCIE

Maria Catarina afirma que o racismo ainda está muito presente nas escolas e é preciso denunciar e combater esse crime.  “Hoje nós temos a Comissão da Igualdade dentro da OAB,  temos  advogados para olhar esses casos”, alerta. A militante disse que o primeiro ato é registrar um boletim de ocorrência e na sequência orienta que o cidadão procure o Movimento Negro Unificado de Divinópolis e disponibilizou o próprio telefone para que as vítimas de racismo a procurem para receber o apoio e orientação: 9-995685-92. “Não podemos ficar calados”, alerta, Catarina, citando que há poucos meses atendeu uma moça que prestava serviços em um hotel da cidade e era vítima de racismo pela patroa.

TENDA

Segundo Catarina a questão da “Consciência Negra” precisa ser trabalhada além das escolas, neste sentido é que nos dias que antecedem ao Seminário, uma tenda educativa e informativa está instalada no quarteirão fechado da Rua São Paulo. “Nós vamos dialogar com a população, vamos ter um material excelente falando da obrigatoriedade da lei, explicando que é uma lei anti-racista. Vamos  mostrar o que já avançamos no Brasil em termos de leis. (…) Então queremos dar aulas públicas, informações simples, desmitificando tudo que fala a respeito da África e falar desse problema crucial na sociedade brasileira, pois se há um país com racismo,  em que ele é implementado na íntegra, é no Brasil, de forma velada, no olhar. A gente vai falar sobre isso com a população”, disse.

Catarina disse que no local será distribuído um questionário para verificar o que incomoda, o que causa preocupação em relação à população negra. Os dados desse levantamento mostrarão as principais necessidades, que sobressaíram e  as mesmas serão trabalhadas posteriormente pelo Movimento Negro – Mundi.

CONSELHO

A militante disse que nos próprios comércios da cidade, no interior das igrejas, na imprensa, nos cargos públicos, na gestão municipal, etc,  ainda é difícil ver o rosto negro, por isso é tão importante discutir a questão e avançar nas políticas inclusivas. Apesar dessas dificuldades, Catarina ressaltou avanços na cidade e  adiantou que está trabalhando junto a vereadores e a Procuradoria do Município de Divinópolis para enviar para a Câmara Municipal projeto de Criação do Conselho da Igualdade Racial. “Para nós, do movimento militante, não existe partidarismo e nem pode existir, nós temos que sentar com todos porque a abolição foi um processo de articulação. Estou muito feliz,  o projeto de lei já está nas nossas mãos, a gente está  fazendo algumas reparações e são raríssimos os municípios que implementam o Conselho Municipal da Igualdade racial”, disse.

SINTRAM

A diretora de comunicação, Rafaela Silva, esteve hoje na tenda informativa e educativa, e convidou à população a participar das atividades ( Credito: Flávia Brandão/Comunicação Sintram)

A diretora de Comunicação do Sintram, Rafaela Silva, esteve presente na manhã de hoje na tenda informativa e educativa, falando sobre a importância da data e convocando a todos a contribuírem com a pesquisa, que está sendo realizada no local até a tarde de hoje. “Convidamos a população de Divinópolis, não só a população negra, mas como um todo, para vir participar desse momento, dessa discussão. Nós precisamos reforçar essa questão que é tão pouco discutida, que é a questão do racismo, da valorização do negro no Brasil, e é uma questão de construção histórica, então chamamos para prestigiar esse momento.  A gente percebe ao longo das discussões , que às vezes o pessoal não quer discutir, não quer se posicionar, mas é necessário esse posicionamento hoje para mostrar que somos uma população de diversidade, uma população que precisa ser reconhecida e valorizada”, disse a diretora.

Reportagem: Flávia Brandão
Comunicação Sintram

 


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