Presidente da Câmara comanda decisão e chama Polícia Militar para intimidar apoiadores da vereadora

A Câmara Municipal de Carmo do Cajuru deu um espetáculo grotesco na manhã desta quinta-feira (2) em reunião extraordinária convocada para apreciar recurso da vereadora Tainara Andrade (PT) contra decisão da Comissão de Ética que lhe impôs uma censura por motivos que carecem de embasamentos jurídicos claros. Por sete votos favoráveis e um contrário, o plenário manteve a decisão da Comissão de Ética. Entretanto, nem mesmo a Câmara sabe qual a real punição aplicada à vereadora.
Tainara Andrade está proibida de usar a Tribuna ou só não pode criticar o prefeito? A pergunta precisa ser esclarecida pela presidente da Câmara, Débora Nogueira (Podemos), que não explicou claramente qual é a medida repressora adotada contra a vereadora petista.
ENTENDA
Em uma sessão da Câmara no mês de agosto desse ano, a vereadora Tainara Andrade usou oito adjetivos para desqualificar o prefeito de Carmo do Cajuru, Vinicius Camargos (PP). “Chulo, megalomaníaco, demagogo, displicente, despreparado, incompetente, arrogante e prepotente”, disparou a vereadora naquela sessão de agosto para criticar o Chefe do Executivo.
O pronunciamento da vereadora, feito na Tribuna da Câmara, irritou o prefeito, que impetrou uma representação contra a parlamentar. Sem embasamento jurídico para formalizar qualquer acusação à vereadora, o prefeito não indicou qual o possível crime teria sido cometido por Tainara no bombástico pronunciamento de agosto. Ainda assim, a presidente da Câmara, Débora Nogueira, nomeou uma Comissão de Ética e “arranjou” um motivo: quebra de ética.
Há 15 dias, a Comissão de Ética deu seu parecer, por escrito, impondo censura à vereadora. Tainara Andrade entrou com um recurso contra a decisão, cujo julgamento pelo plenário aconteceu na manhã desta quinta-feira. Por 7 votos favoráveis e um contrário, a Câmara manteve a decisão da Comissão de Ética.
A decisão, sem embasamento jurídico convincente, reflete que a Câmara hoje é capacho do prefeito. A situação não é surpresa, já que dos 11 vereadores, apenas Tainara Andrade faz oposição ao Executivo.
Em sua defesa, Tainara Andrade alertou que há uma “interferência direta do Executivo no Legislativo de Carmo do Cajuru”. “A decisão da Comissão de ética é injusta e afronta o Legislativo. A voz do vereador é livre e inviolável, porque essa voz não é só minha, essa voz é do povo”, afirmou.
Ainda sobre a censura, Tainara acrescentou que a Tribuna é do povo. “Eu não preciso falar na tribuna, mas o povo precisa Se o vereador não pode mais fiscalizar o gestor e dar voz ao povo, então para que serve esse parlamento?”, questionou. “Eu não escolho a submissão, eu escolho a democracia”, acrescentou.
INTIMIDAÇÃO
A presidente da Câmara de Carmo do Cajuru, Débora Nogueira, pediu proteção à Polícia Militar, que enviou uma equipe para fazer a segurança da reunião da manhã desta quinta-feira. A truculência foi motivada pela presença de aliados da vereadora Tainara Andrade, que acompanharam a sessão. O ato de intimidação também foi questionado pela vereadora. “Nós estamos aqui com a presença da Polícia Militar, como se fosse haver tumulto. Nossa manifestação é pacífica”, assegurou.
PT DIVINÓPOLIS
O Diretório do PT de Divinópolis divulgou uma nota de solidariedade à vereadora Tainara Andrade e afirma que o processo é nuro de origem, pois a censura ao vereador só pode ser proposta pela Câmara Municipal. No caso em questão, a censura foi imposta a partrir de uma representação do prefeito.
VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA
O Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Divinópolis manifesta sua solidariedade e defesa da vereadora Tainara Andrade Quadros, injustamente alvo de penalidade de censura aplicada pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Carmo do Cajuru, a partir de denúncia apresentada pelo prefeito Vinícius Alves Camargos.
O processo administrativo em questão é nulo de origem: o Código de Ética da Câmara estabelece que a penalidade de censura só pode ser proposta por vereador, cidadão ou partido com representação no legislativo. O prefeito, que se identifica como tal no documento, não tem legitimidade para oferecer a denúncia. Além disso, a representação sequer aponta qual artigo do Código de Ética teria sido violado, carecendo de fundamentação mínima.
As críticas políticas da vereadora ao prefeito, feitas em 19 de agosto de 2025, fazem parte do exercício legítimo de sua função parlamentar. A Constituição Federal garante a imunidade das palavras, opiniões e votos dos vereadores em sua atuação, assegurando a liberdade de expressão e a independência do Legislativo.
A tentativa de silenciar a vereadora configura grave interferência do Executivo sobre o Legislativo.
O resultado em plenário, que manteve a decisão da Comissão de Ética por 7 votos a 1, representa um ato de covardia política contra uma parlamentar que cumpre seu papel de fiscalizar e questionar o governo municipal.
A voz da vereadora Tainara não é apenas dela, é a voz do povo que a elegeu. Calar Tainara é calar o povo de Carmo do Cajuru.
O PT de Divinópolis seguirá firme na defesa da democracia, da autonomia do Poder Legislativo e da liberdade de expressão de seus representantes.
Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação
** Essa reportagem foi revisada as 16h40 para correção do nome da presidente da Câmara de Carmo do Cajuru. Inicialmente, a publicação informou como presidente Débora Rodrigues, entretanto, o nome correto é Débora Nogueira, conforme foi revisado.