Quero me lembrar do Carioca caçando borboletas

Compartilhe essa reportagem:

 

 

Ele, empresário de sucesso, estava muitos passos adiante do empresariado da cidade. Na década mais dura do regime militar, Carioca transgredia com os desfiles de moda, que apresentavam o que havia de mais top no universo da moda masculina e feminina, à disposição na mais badalada boutique da cidade, a 5ª Avenida. Meninas lindas, com roupas que eram o último grito da moda, estavam na passarela. Em muitas ocasiões, com pouca roupa, o que era uma afronta aos censores de plantão.

Eu, jovem radialista iniciante, às voltas com a Polícia Militar por usar os microfones da então Rádio Emissora Lagoa da Prata para atacar duramente a violência policial, conheci meu velho e inesquecível amigo no final de 1979. Apresentei um desfile de modas da 5ª Avenida no Clube Lagopratense e, de lá para cá, essa amizade só cresceu.

Essa amizade ficou ainda mais forte na década de 1990, quando o Jornal Agora promoveu a maior festa da juventude divinopolitana. Era a Gincana do Jornal Agora, realizada na Savassi, com duração de uma semana. Fui o apresentador da Gincana por nove anos consecutivos. Sempre no inverno. Era um frio daqueles, que aquecíamos na Cervejaria Savassi, com drinques madrugada a dentro.

Lá estavam as equipes Garra, do meu querido Ricardo Garrafa, da Família Romanzini (o patriarca Zé Romanzzini, a matriarca Deolinda, Lu, Leca, Paulinho) e outros tantos amigos. Lá estava a equipe Balaio de Gato, do saudoso Jorge Miranda, da Jocélia; a Equipe Funil do Dú, do Humberto Pozzollini. E a equipe Nova República, do Pedro Antônio, do Paulinho Boca, do Kaboja, do Túlio Furletti e… do Carioca.

Bons tempos meu velho e já muito saudoso amigo….

Não tive peito para ir me despedir de você neste dia cinzento de agosto. Com a generosidade de sempre, o presidente do Sintram, Marco Aurélio Gomes, autorizou a utilização desse espaço para que eu pudesse me despedir. Certamente os servidores municipais que leem esse texto também não se opõem. Pois todos sabem que perder um irmão dói até o último íntimo da alma.

Envelhecemos, o corpo ficou menos ágil, o coração deu sinais, e já não nos víamos com a frequência que gostaríamos. Meros detalhes. Pois será eternamente uma honra abissal, indescritível, ter compartilhado essa amizade que não morrerá jamais.

E para me despedir, relembro um dos fatos que me fará sempre lembrar do Carioca com felicidade. Foi em uma das gincanas do Jornal Agora que presenciei a cena da qual quero lembrar do Carioca para sempre. Durante uma das provas, a organização pediu um “lepidóptero”, que nada mais é do que as conhecidas mariposas e borboletas. E lá estava o Carioca, às margens do Rio Itapecerica, com uma rede presa ao cabo de madeira, na tentativa de capturar o tal lepidóptero pedido pela tarefa da gincana. Era como uma criança feliz, brincando à beira do Rio, correndo às margens do Rio. Feliz como ele sempre foi.

Quero me lembrar sempre de você, Carioca, caçando lepidópteros. Pois assim saberei que você continua feliz.

À família, fica o meu beijo… Vá em paz meu inesquecível amigo.

 

 


Compartilhe essa reportagem: