O Centro de Referência de Vigilância em Saúde Ambiental (Crevisa) voltou a ser notícia essa semana, após se tornarem públicos áudios do vereador Flávio Marra (Patriota). As gravações do vereador enviadas via whatsapp para a ex-coordenadora do Centro, Edimara Martins, revelam muito mais do que uma simples ingerência do parlamentar, que vem utilizando a causa animal como uma de suas plataformas políticas. Os servidores lotados no Crevisa têm sido alvos recorrentes das críticas feitas pelo parlamentar. Marra já fez acusações graves contra os servidores do Centro e ameaçou pedir a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar o órgão. Entretanto, ao contrário de cobrar do Executivo as soluções para os muitos problemas do Crevisa, o vereador escolheu os servidores como alvos, embora eles sejam apenas cumpridores de ordens superiores.
As acusações do vereador contra os servidores do Crevisa motivaram uma ação coletiva movida pelo Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis e Região Centro-Oeste (Sintram) contra o parlamentar. Na ação, impetrada em dezembro do ano passado, o Sintram reuniu um conjunto de provas, especialmente vídeos postados em redes sociais, através dos quais o vereador ataca agressivamente os servidores, inclusive com acusações sem apresentar provas.
Além de vídeos postados em suas redes sociais, o vereador também utilizou a Tribuna da Câmara para ataques aos servidores, fato, inclusive, que tem sido recorrente nas sessões desse ano. Além disso, a petição destaca que o vereador tem utilizado suas redes sociais como forma de indispor a população contra os servidores do Crevisa. Entre as acusações mais graves formuladas por Flávio Marra sem apresentação de provas estão maus tratos e até morte de animais.
ABANDONO
Em janeiro desse ano, após receber várias denúncias, o Sintram fez uma vistoria no local. Os diretores Geise Silva, Lucilândia Monteiro, Wantuil Alves, e o vice-presidente Wellington Silva, passaram algumas horas no Crevisa e encontraram o local em estado de abandono. Animais expostos à chuva, goteiras, infiltrações, mofo, telhado ameaçando desabar e servidores em risco diante da precariedade do local. “O que encontramos no Crevisa no início do ano foi estado de total abandono, mostrando o desrespeito do poder público municipal aos animais e aos servidores”, lembra o vice-presidente do Sintram, Wellington Silva, que esteve na vistoria feita em janeiro
NEGOCIATA
Essa semana, quatro áudios enviados pelo vereador Flávio Marra à ex-coordenadora do Crevisa, Edimara Martins, revelam uma possível negociata entre o parlamentar e o prefeito Gleidson Azevedo (PSC), com o Crevisa sendo utilizado como moeda de troca para fins políticos. Os áudios, amplamente divulgados em redes sociais, revelam o conflito entre o vereador e a ex-coordenadora, que não estaria priorizando os atendimentos no Crevisa solicitados pelo parlamentar. Para intimidar Edimara Martins, Marra relata nos áudios sua proximidade com o prefeito Gleidson Azevedo, a quem chama de “parceiro”, afirma que foi convidado para ser candidato a vice-prefeito numa eventual tentativa de reeleição de Gleidson e ainda diz que se comprometeu com o prefeito para retirar queixa feita na Polícia Civil contra o Crevisa e para cancelar o pedido de instauração de CPI em trocar de atendimento preferencial no Centro de Referência Animal. Em um dos áudios, Flávio Marra ameaça Edimara Martins e diz que dirá ao prefeito para escolher entre ele ou ela. Na semana passada, o prefeito escolheu o vereador e Edimara Martins foi exonerada do cargo de coordenadora do Crevisa.
Em entrevista concedida ao Jornal Agora, a ex-coordenadora dá um depoimento forte, diz que foi ameaçada de morte e revela que a pressão exercida sobre ela pelo vereador, as acusações de ser responsável por mortes de animais, entre outras formas de assédio, atingiram seu filho, que teve problemas na escola e também teve a saúde afetada. A entrevista completa está disponível no site do Jornal Agora.
AUDITORIA
As pressões exercidas por Flávio Marra para obter prioridade no Crevisa, além da exoneração de Edimara Martins, também motivaram a instauração de uma auditoria no Crevisa, especificamente no setor de Cuidado Animal. Através da Portaria 20/2022, o secretário de Meio Ambiente, Pabloneli Vidal, determinou a instauração da auditoria, que virá acompanhada de uma série de medidas administrativas, entre elas a suspensão pelo prazo de 30 dias, a contar do dia 24 desse mês, do serviço de castração animal. Além disso, os médicos veterinários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Seplam) terão um prazo de 10 dias para relacionar todos os prontuários de castrações realizadas em 2022 e encaminhar ao secretário Pabloneli Vidal.
A Portaria determina, ainda, que o Gerente de Regulação Ambiental, Francisco de Faria Campos Júnior, e os três médicos veterinários da Seplam, deverão fazer um inventário com os materiais, medicamentos e insumos que são destinados aos procedimentos realizados pela equipe do Cuidado Animal.
a auditoria deverá analisar o inventário de medicamentos, materiais e insumos e confrontá-lo com os processos de compra já em tramitação na Prefeitura para o setor. Também deverá analisar os prontuários de procedimentos realizados no setor e confrontá-los com a relação de animais atendidos constante do Aplicativo da Prefeitura.
A Comissão que vai conduzir a auditoria foi nomeada com os servidores Marina de Oliveira Menezes, Vilma Aparecida Messias, Francisco de Faria Campos Júnior, Gustavo Gontijo Dias e Cloves Gomes de Carvalho Júnior e terá até o dia 18 de novembro para concluir a investigação.
O vice-presidente do Sintram, Wellington Silva, que acompanha a situação do Crevisa desde o ano passado, alerta para o risco de criminalização dos servidores. “A auditoria é prudente, mas não deve ser utilizada como um instrumento do prefeito para acertar seus acordos políticos com o vereador Flávio Marra. É preciso evitar a criminalização dos servidores, que trabalham apenas cumprindo ordens superiores. Em todas as vezes que estivemos no Crevisa, constatamos a total falta de condições de trabalho, seja por falta de material, seja por falta de respaldo das chefias e até mesmo pelo assédio e pressão exercidos sobre a categoria. Portanto, a auditoria tem a obrigação de apontar de onde vem a responsabilidade para essa situação instalada nesse importante órgão de controle animal da cidade. O Sintram acompanhará atentamente essa situação”, declara Wellington Silva.
Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram