O presidente Jair Bolsonaro voltou a protagonizar um novo ataque à profissionais de imprensa. Durante agenda, nesta segunda (21), em Guaratinguetá, no estado de São Paulo, Bolsonaro gritou com uma repórter, mandando que ela calasse a boca enquanto a jornalista tentava fazer uma pergunta. “Cala a boca. Vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam”, vociferou o presidente.
Bolsonaro foi à cidade para acompanhar a cerimônia de formatura da Escola de Especialsitas da Aeronáutica. A chegar na Aeronáutica, em Guaratinguetá, ele desembarcou do carro oficial sem máscara e cumprimentou e abraçou apoiadores. O fato foi motivo de quetionamento pela repórter verbalmente agredida.
Os ataques de Bolsonaro à jornalista estiveram entre os assuntos mais comentados do dia na rede social Twitter. Hastags como “covardia”, “descontrole”, “desequilibrado”, “surto” e “surtado” foram usadas por diversos políticos, populares e personalidades para se referir ao fato. Entre os políticos que se manifestaram publicamente esteve o governador do estado e adversário político do presidente, João Dória (PSDB).
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), por outro lado, falou em necessidade de respeito à imprensa livre. Nas redes sociais, postou: “A Covid, as mortes e os reflexos sobre o país, embora possam aflorar maus sentimentos, impõem absoluta necessidade de união em torno de soluções. Parte fundamental desse esforço é a Imprensa, que deve ser respeitada e livre para cumprir o dever de informar, mesmo na divergência”
Bolsonaro também atacou verbalmente, nesta segunda, a Rede Globo, que no último final de semana veiculou um editorial no qual destacava a marca de 500 mil mortos pela Covid-19 registrada pelo Brasil. O editorial foi lido no Jornal Nacional. O âncora, William Bonner, afirmou na ocasião que “foram muitos e muito graves os erros” cometidos pelo governo Jair Bolsonaro durante a pandemia. Não houve manifestação de pesar da presidência em relação aos mortos pela covid.
As falas do presidente contra a jornalista lembram uma cena do Regime Militar na qual o general Newton Cruz manda, com o mesmo tom autoritário, que um repórter cale a boca ao ser questionado diante das câmeras. O fato ocorreu em 1983 e o jornalista agredido na ocasião foi o repórter Honório Dantas. Na ocasião, Newton Cruz chegou a pular contra o repórter, agarrando ele pelo pescoço. O país vivia os últimos anos do regime militar.
Esta não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro agride verbalmente jornalistas. No ano passado, por exemplo, indagado sobre o caso Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro e investigado por participar de um esquema de “rachadinha” de verba de gabinete, ele disparou contra outro repórter: “vontade de encher tua boca de porrada”.
Dados do Repórteres Sem Fronteiras indicam que o Brasil caiu duas posições no ranking de liberdade de imprensa desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência. A organização já contabilizou mais de 400 ataques diretos a veículos de imprensa e jornalistas. As principais vítimas são profissionais da imprensa mulheres.
A visita do presidente à Guaratinguetá também foi marcada por protestos. Ao chegar na Aeronáutica, onde ocorreria a agenda, o presidente foi recebido com gritos de “fora Bolsonaro” e “genocida”
Fonte: Congresso em Foco