Presidente da Câmara censura mãe na Tribuna Livre para blindar deputado Eduardo Azevedo

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Ana Lúcia foi ao Legislativo pedir ajuda após morte da filha e foi silenciada ao citar o deputado Eduardo Azevedo, irmão do prefeito

Ana Lúcia foi censurada pelo presidente da Câmara, Israel da Farmácia, e impedida de cobrar ajuda ao deputado Eduardo Azevedo (PL), irmão do prefeito (Fotos: Reprodução TV/Câmara)

Enquanto a saúde pública atinge um dos momentos mais críticos da história de Divinópolis e o Poder Executivo, acobertado pela Câmara, maquia soluções, a população já não tem onde recorrer. O Ministério Público, que já deveria, de ofício, ter intervido para evitar o alongamento do caos, faz vistas grossas e nem mesmo diante de tantas denúncias de negligência em todo o sistema, especialmente na UPA 24h, não assume sua responsabilidade de defesa do cidadão.

Esse ano, cidadãos que perderam entes queridos na UPA, foram presenças constantes no uso da Tribuna Livre da Câmara em busca de socorro. Saíram de mãos abanando, pois, tal qual o Ministério Público, o Legislativo ouve, mas não age, com o agravante de acobertar o Executivo.

O caos instalado na UPA 24h é administrativo. A unidade, inaugurada em 2014, funciona a 10 anos nas mãos de terceiros. De Vladimir Azevedo, passando por Galileu Machado até chegar a Gleidson Azevedo, não houve preocupações com os cidadãos. Os três prefeitos entregaram a UPA para organizações sociais suspeitas e a unidade virou caso de polícia. As duas gestões anteriores da UPA – Fundação Santa Casa e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS) – só perderam os gordos contratos após uma avalanche de fraudes e irregularidades. O atual gestor, o Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp), não menos suspeito do que os administradores anteriores, continua na gestão apesar da reconhecida incompetência administrativa e a confirmação de fraudes em contratações e uso de recursos.

CENSURA

Na reunião da Câmara da última terça-feira (18), a dona de casa Ana Lúcia Ferreira Duarte, ocupou a Tribuna Livre da Câmara para pedir esclarecimentos sobre a morte de sua filha Isabela Cristina Cordeiro, de 27 anos. Isabela deixou uma filha de quatro anos e a mãe diz que ela já foi enviada morta para a cidade de Oliveira em busca de leitos, após atendimento na UPA.

Não bastasse a dor de uma mãe que perde uma filha de 27 anos, Ana Lúcia ainda foi censurada pelo presidente da Câmara, Israel Mendonça, o Israel da Farmácia (PDT). Um dos integrantes da tropa de choque do feudo Azevedo, Israel impediu que Ana Lúcia fizesse uma cobrança pública ao deputado estadual Eduardo Azevedo (PL).

Leia alguns trechos do pronunciamento de Ana Lúcia

“Minha filha morreu no dia 18, hoje está fazendo três meses, minha filha tinha 27 anos só. Ela morreu, eles encaminharam ela morta para Oliveira. Eu sei que ela estava morta porque eu sou cuidadora, eu vi minha filha morrendo. Eu vi minha filha morrendo, ela morreu na minha frente. Para tirar a culpa da UPA, eles levaram ela para Oliveira. Só que é pura mentira, pura mentira, ela morreu na minha frente. No caminho [para Oliveira] o médico não estava olhando ela, dentro da ambulância do SAMU, ele não estava olhando ela, ele estava olhando para mim.”

“Chegando lá [em Oliveira] eles não fizeram nada. Ele [o médico] entrou em uma sala, pôs ela perto do necrotério, tinha um vidro, uma porta de vidro, eu vendo ele, pôs ela lá e saiu, ele não chegou perto dela, depois chegou perto de mim e falou que ela tinha falecido”.

“O pai deles [Gleidson, Eduardo e Cleitinho Azevedo] morreu, estava lá no hospital, num hospital particular. Por que ele não levou o pai dele para a UPA? Se a UPA é tão boa, por que não levou ele para lá? Não desejo mal para ele, não. Mas o dia, prefeito, que um filho seu, uma mãe, um irmão adoecer, leva para a UPA. Se a UPA é tão boa, leva para lá, então. Leva para lá. Porque se você está aí hoje, foi a custa dos pobres, não foi dos ricos, não. Foram os pobres que te pôs a ser rico. E hoje, a gente precisa de vocês, a gente tem que implorar.”

A filha de dona Ana Lúcia Ferreira Duarte, segundo ela relatou, foi encaminhada para atendimento Na UPA no dia 15 de abril, sendo diagnostica com pedra na vesícula. A filha, Isabela Cristina Cordeiro, aguardou uma vaga de internação por três, antes de morrer no dia 18 de forma misteriosa.

SINDICÂNCIA

Para dar uma resposta à população sobre as mortes suspeitas envolvendo a UPA, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) vai empilhando sindicâncias com resultados iguais. No dia 11 desse mês, a Semusa publicou uma nota sobre a conclusão da sindicância que apurou as circunstâncias da morte de Tatielle Sarclat Ferreira. Esta semana, a Secretaria divulgou através de nota o resultado da sindicância que apurou a morte da menina Thallya Beatriz. Nos dois casos, a conclusão da sindicância é praticamente a mesma.   

CONCLUSÃO DA SEMUSA NO CASO TATIELLE: “Após análise do histórico dos atendimentos dispensados à paciente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto Cordeiro Martins, a análise técnica indicou a não existência de relação causal entre as condutas médicas e o desfecho fatídico do caso. No entanto, a comissão, de forma conservadora, recomendou o encaminhamento da ocorrência ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM/MG) para conhecimento e análise. A recomendação da Comissão foi acatada pela secretária municipal de Saúde, Sheila Salvino, que promoverá o acionamento do conselho em questão”.

CONCLUSÃO DA SEMUSA NO CASO THALLYA: “Diante do exposto e, ainda que a Comissão não tenha identificado conduta negligente da médica assistente, recomendou-se, como aceno de boa-fé, o encaminhamento da ocorrência ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais para conhecimento e análise do resultado da Sindicância. A recomendação da Comissão foi acatada pela Secretária Municipal de Saúde que promoverá o acionamento do conselho em questão”.

ONDE ESTÃO OS RELATÓRIOS?

A Secretaria Municipal de Saúde não deu publicidade aos dois relatórios da comissão de sindicância, como deveria ter feito. Nos dois casos, a Semusa comunicou as conclusões através de notas oficiais, divulgadas via Diretoria de Comunicação da Prefeitura. Os dois relatórios não foram publicados no Diário Oficial dos Municípios, o que seria o procedimento correto e transparente, para o conhecimento de toda a metodologia utilizada na investigação.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram


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