Reação de Gleidson Azevedo divide opiniões nas redes sociais

Tramita na Câmara Municipal de Divinópolis o Projeto de Lei 137/2025, de autoria do vereador Matheus Dias (Avante), que pretende incluir o Dia dos Legendários no calendário oficial de eventos e festas do município de Divinópolis. Se aprovado, a Prefeitura terá que colocar a máquina pública a serviço de um grupo supostamente cristão, realizando ações informativas de promoção do grupo Legendários.
Embora não se tenha notícia de nenhuma atividade relevante em favor da comunidade local, Matheus Dias justifica sua iniciativa afirmando que “em Divinópolis, os Legendários desempenham um papel relevante na comunidade, contribuindo para a construção de uma sociedade mais solidária, baseada em princípios de respeito, empatia e compromisso espiritual”.
O projeto é mais uma iniciativa do que se pode chamar da bancada cristã da Câmara Municipal, encabeçada por Wesley Jarbas (Republicanos), Matheus Dias (Avante), Breno Júnior (Novo) e Wellington Geraldo (PP). Os quatro vereadores de legendas ativas da direita pertencem a grupos religiosos e dos 177 projetos de Lei Ordinária apresentados pelo Legislativo esse ano, nove tratam de questões ligadas a movimentos evangélicos, que incluem leitura da Bíblia nas escolas, criação de datas comemorativas e reconhecimento de utilidade pública. Todos esses projetos continuam tramitando e nenhum deles foi pautado até agora para votação em plenário.
LEGENDÁRIOS
Junto a essa chuva de projetos supostamente de interesse religioso, surgem manifestações contrárias. Na semana passada, uma manifestação contra o grupo Legendários ganhou destaque. Na madrugada de quinta-feira (24), o muro de proteção da área externa do Centro Administrativo, amanheceu pichado, com os dizeres: “Legendários – Cornos, lixo”.
Imediatamente a Prefeitura reagiu e em nota oficial, classificou a manifestação como uma atitude de “vândalos com manifestação de ódio, intolerância religiosa, incitação à violência e desprezo aos direitos humanos. Criminosos, ainda não identificados, que ofenderam diretamente ao estado democrático de direito”, afirmou.
Embora não tenha sido feito um boletim de ocorrência, a nota oficial cobrou investigação: “A Prefeitura de Divinópolis espera que essa e outras manifestações correlatas venham a ser investigadas para apuração de conduta criminosa. Registrando assim um compromisso com os valores democráticos e com o combate a todas as formas de ódio e preconceito”.
DÉBORA DO BATOM
No mesmo dia, o prefeito Gleidson Azevedo (Novo), integrante do grupo Legendários usou suas redes sociais. Em um vídeo, onde o prefeito aparece inicialmente cobrindo a pichação com spray, Gleidson Azevedo esbravejou e repetiu o discurso da nota oficial publicada pela Prefeitura. Ao mesmo tempo em que defendeu a liberdade religiosa, Gleidson Azevedo condenou o Estado laico: “O Estado pode ser laico, mas Divinópolis é do Senhor”, disse em tom indignado.
Mais grave, ainda, foi o prefeito tentar fazer uma correlação irresponsável entre a pichação no muro da Prefeitura, com a condenação pelo STF da cabeleireira Débora Rodrigues, a 14 anos de prisão, pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. “Agora, lá em Brasília, a Débora, por conta de um batom pegou 14 anos de prisão. E olha que o amor venceu, hein. E aqui? Aqui nóis vai investigar. Será que vai ser dois pesos e duas medidas? Eu sei que isso aqui é uma perseguição política. Eu não vou parar”.
Gleidson Azevedo omitiu os crimes nos quais Débora Rodrigues foi enquadrada e condenada a 14 anos de prisão. Responsável pela pichação “Perdeu, Mané”, na estátua da Justiça, durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Débora Rodrigues foi condenada pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.
REAÇÕES
A reação à defesa enfática dos Legendários pelo prefeito dividiu opiniões, que destacaram a discriminação no discurso do prefeito. Um perfil comentou na postagem feita pelo prefeito no Instagram: “Prefeito, é importante lembrar que Divinópolis é uma cidade laica. Ninguém é obrigado a concordar com a sua afirmação de que ‘Divinópolis é do Senhor’. Respeito é fundamental, sim, e a intolerância religiosa é crime, nisso estamos de acordo. Mas me diga: se a situação envolvesse uma manifestação de religiões como o candomblé, o senhor teria a mesma postura pública? É preciso ter cuidado com o que se fala, especialmente em cargos públicos, para não reforçar desigualdades ou exclusões”.
Outro perfil foi mais agressivo, na reação ao slogan ‘Divinópolis é do Senhor’: “Que senhor? Aquele que defende só os interesses dos seus? Cria tipo Gleidson, vai pregar na sua igreja, prefeitura é lugar de trabalhar”. “Estado laico, não misture a sua religião com sua função no Executivo”, destacou outro.
Entre os comentários favoráveis ao prefeito na mesma postagem, a maioria repetiu ‘Divinópolis é do senhor’, enquanto outros pediam punição.
Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação