Prefeito de Divinópolis admite traição a ex aliados e confessa ter denunciado Print Júnior e Kaboja

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Os vereadores Eduardo Print Júnior (PSDB) e Rodrigo Kaboja (PSD), afastados dos mandatos, já são réus na 2ª Vara Criminal de Divinópolis, acusados pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e corrupção passiva na Câmara. Os dois foram pegos pela Operação Gola Alva, deflagrada pelo MP, com participação da Polícia Civil. No dia 25 de maio, por decisão judicial, Rodrigo Kaboja foi afastado do cargo, enquanto Print Júnior foi removido da presidência da Câmara, porém mantido no cargo de vereador. No dia 10 de outubro, Print Júnior foi afastado também da função de vereador. O MP pediu a prisão provisória dos dois vereadores, porém o pleito foi negado pelo juiz Mauro Riuji Yamani, da 2ª Vara Criminal. Além dos dois vereadores, o juiz também aceitou a denúncia contra o empresário Celso Renato Alves de Vasconcelos Lima Júnior.

Eles são acusados de integrar um esquema para aprovação e apresentação de projetos de alterações na Lei de Uso e Ocupação do Solo, especialmente com modificações no zoneamento urbano. O esquema beneficiaria empresários da construção civil, que confessaram o pagamento de propina. Oito empresários, entre eles Nicácio Diegues Júnior, também envolvidos no esquema, fizeram acordo de delação com o MP e evitaram a denúncia na Justiça.

ABORDAGEM PÚBLICA

Essa semana, pela primeira vez, o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) admitiu publicamente que foi ele o responsável pela denúncia que culminou na Operação Gola Alva. Em entrevista ao Programa Café com Política, da Rádio FM O Tempo 91,7, o prefeito afirmou ter sido o autor da denúncia. “Quem fez a denúncia de corrupção pela primeira vez na história de Divinópolis fui eu. Eu fiz uma denúncia junto ao Ministério Público em meados de 2022, o Ministério Público, em maio deste ano, afastou os dois vereadores, e agora na conclusão da investigação, comprovou que teve corrupção lá dentro da Câmara, e nesse período agora, de dois meses pra cá, a oposição tentou distorcer os fatos, como se eu tivesse qualquer tipo de participação por alguns áudios que foram vazados da investigação”, disse o prefeito.

O EMPRESÁRIO CHAVE

Ao afirmar que a oposição “tentou distorcer os fatos” diante de áudios vazados enviados ao empresário Nicácio Diegues Júnior, o prefeito usa o discurso que lhe foi dado pelo Ministério Público. De acordo com o MP “não houve elementos” para suspeitar da participação do prefeito no esquema de propina.

Entretanto, os áudios vazados indicam uma negociata com o empresário Nicácio Júnior para aprovação do Projeto de Lei 48/2021, de autoria de Rodrigo Kaboja e Print Júnior. O Projeto, aprovado e transformado na Lei Municipal 8.827/2021, alterou a altura máxima das construções, de quatro para oito pavimentos, mais a garagem, em área onde o empresário Nicácio Diegues constrói um empreendimento imobiliário.

Nicácio fez acordo de delação com o MP e é peça chave no esquema de propina, uma vez que a denúncia que gerou a Operação Gola Alva, partiu de um empreendimento de sua propriedade. Em entrevista concedida no último dia 16, os promotores Leandro Willi e Marcelo Valadares, titulares na investigação, afirmaram não ter encontrado evidências do envolvimento do prefeito. Segundo Marcelo Valadares, eventuais citações do prefeito no processo foram encaminhadas para apuração na Procuradoria da República de Minas Gerais.

Na entrevista concedida à Rádio FM O Tempo, o prefeito admite ser o autor dos áudios vazados. “Desde o início da minha gestão já existia lá em Divinópolis um projeto que chama ‘Adote um bem público’, então desde que eu assumi a prefeitura, eu chamei todos os empresários para contribuir com a cidade (…), então tem vários áudios meus falando com empresários e alguns desses áudios meus eles colocaram para poder entender que eu estaria pedindo alguma coisa, mas os próprios áudios, se todo mundo escutar os áudios, vai ver que não tem nenhum tipo de má conduta minha”, afirmou.

Veja a transcrição dos áudios

AUDIO 1 – (sic) querido, cês me largou mesmo hein? Tô aqui garrado para poder agilizar essa questão do Projeto procês fazer “600” andar aí e ocês não me ajuda, uai. Já pode ir lá nas ruas pra começar a calçar? E o nosso negócio lá da [rua] Goiás? Os canteiros da Goiás vai dar certo né? Cês tem que me ajudar meu fio.

AUDIO 2 – (sic) Nicácio, eu tô te ligando aí, cê não me atende. Eu tô com o Kaboja aqui. Cê não atende nenhum de nós dois. Nóis é parceiro seu aí. Eu conversei com cê na segunda, terça-feira, cê não começou tirar a terra? Cê falou que ia começar a tirar a terra. Eu já falei que pode tirar essa merda aí do seu terreno, essa terra aí… num vai ter multa, não vai ter fiscal pra encher o saco não, gente. Vou ter que ligar pro Mário de novo?

AUDIO 3 – (sic) Ô Nicácio, aqui é 24 horas. Tudo que cê precisar é na hora, pode ter certeza disso. Fala tudo que cê precisa que eu vou acelerando eles aqui.

AUDIO 4 – (sic) Oi cê já protocolou o negócio lá já pra gente começar esse trem lá amanhã?

A investigação do MP ignorou os áudios enviados pelo prefeito. Esses áudios estão anexados ao processo, uma vez que foram extraídos do celular do empresário Nicácio Júnior na primeira etapa da Operação Gola Alva, ocorrida no dia 25 de maio.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram

 

 


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