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10/12/2025 - 15h03

Em maio, Adélia Prado foi recebida com pompa pelo jornalista Pedro Bial (Foto: Reprodução/Globoplay)

Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação

“Ela está para o verbo divino, assim como a clorofila está para o sol”. Foram com essas palavras que o jornalista Pedro Bial recebeu a escritora divinopolitana Adélia Prado para uma de suas últimas entrevistas, que foi exibida em maio pela TV Globo e pelo canal fechado GNT. Bial, um dos mais importantes jornalistas do país, não economizou elogios à escritora divinopolitana, montou um cenário com referências à cidade natal da poeta e reverenciou a mineira com declamação de seus poemas e todas as honras que se dedica a uma grande estrela. A entrevista, dividida em duas partes, tinha como objetivo lembrar que Adélia Luísa Prado chega aos 90 anos no próximo dia 13, um sábado de dezembro iluminado pela escrita da jovem senhora, que nasceu em Divinópolis, na beira da linha, mas é orgulho do Brasil.

Na entrevista Adélia contou detalhes de sua técnica para escrever. Disse que “dorme” com seus poemas e os lê em voz alta para chegar ao nível de excelência de sua arte. Descontraída, ela riu muito durante a entrevista. Aliás, eles riram. Bial e Adélia formaram uma dupla tão afinada, que a entrevista mais parecia um encontro de amigos conversando sobre aquilo que amavam.

Adélia contou que escreve seus poemas à mão. “Me dá mais prazer a escrita”, disse com a simplicidade da professora que ela sempre será. Contou que “descobriu” mesmo que queria ser escritora ao deparar com seu estilo próprio no livro Bagagem, uma de suas mais famosas obras. Revelou que seu estilo foi descoberto ao ler um dos livros de Carlos Drumond de Andrade, o grande poeta mineiro, que antes da fama da grande dama da poesia, nascida na beira da linha, um dia escreveu: “Adélia já viu a Poesia, ou Deus, flertando com ela (…) Adélia é fogo, fogo de Deus, em Divinópolis”.

HOMENAGEM

Aos 90, Adélia ganha homenagem em sua terra natal (Foto: Reprodução/Globoplay)

Os 90 anos de  Adélia Prado serão comemorados oficialmente pela Prefeitura de Divinópolis durante três dias. De hoje até sábado, a Secretaria Municipal de Cultura (Semc) preparou uma programação especial e profundamente simbólica para celebrar os 90 anos dessa mulher, esposa, mãe, avó, professora e, finalmente, poeta, que ensinou gerações a enxergar o extraordinário nos gestos mais simples e que elevou o nome de Divinópolis aos mais respeitados espaços da literatura. Guiada pelo conceito de exaltar a sensibilidade, a força literária e a presença luminosa da escritora em sua cidade natal, a “Semana de Homenagem a Adélia Prado” reúne literatura, música e memória histórica.

A programação começa nesta quarta-feira (10), com o encontro “Palavra Encantada: Adélia entre Nós”, realizado na Biblioteca Municipal Ataliba Lago, às 19h. O evento, planejado para ser uma experiência sensorial e acolhedora, reunirá leitores, estudiosos, crianças, artistas e admiradores da autora em uma celebração que envolverá declamações poéticas, trechos dramatizados, reflexões sobre sua trajetória, depoimentos afetivos e um momento especial de contação de histórias acompanhado de atividades de colorir. O ambiente será preparado para que cada participante vivencie a literatura de Adélia como ela sempre nos convidou a viver a vida, com serenidade, profundidade e encantamento.

Na quinta-feira (11) a reverência continua com o concerto “Cantiga de Natal: noventa anos de Adélia”, apresentado pela Escola Municipal de Música Maestro Ivan Silva no Museu Histórico de Divinópolis, na Praça da Catedral, às 19h30. O repertório escolhido dialoga com a sensibilidade religiosa e a espiritualidade presentes na obra da poeta, especialmente por meio de referências à simplicidade, às narrativas bíblicas e ao lirismo do cotidiano que permeia textos como “Cantiga dos Meninos Pastores”. A fusão entre música natalina, poesia mineira e memória afetiva promete oferecer ao público uma noite emocionante, envolta pela mesma luz que atravessa a escrita da homenageada.

Encerrando a semana comemorativa, no sábado (13), será inaugurada a exposição “Adélia Prado: Filha de Divinópolis”, no Museu Histórico, às 18h. A mostra reúne documentos, fotografias, manuscritos, edições raras, registros pessoais e relatos que revisitam fases marcantes da vida e da obra da escritora. O público encontrará uma narrativa curatorial inédita, cuidadosamente organizada para revelar nuances menos divulgadas da poeta e evidenciar sua profunda relação com a cidade. A exposição permanecerá aberta por 90 dias, simbolizando os noventa anos de Adélia, e marcará o início do Ano Cultural em Homenagem a Adélia Prado, que se estenderá ao longo de 2026 com ações permanentes, incluindo a criação de uma sala dedicada exclusivamente à escritora dentro do próprio museu.

Para o secretário municipal de Cultura, Mardey Russo, a homenagem reafirma o orgulho de Divinópolis em reconhecer Adélia como parte essencial de sua identidade.  “Com essa agenda cultural, a Prefeitura reforça o reconhecimento e a valorização de Adélia Prado, celebrando sua influência e sua importância para a identidade de Divinópolis. A população é convidada a participar dos eventos e a homenagear a poeta que ajudou a eternizar a cidade através das palavras”, afirmou o secretário.

AFINAL, QUEM É ESSA ESTRELA?

Nascida em 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis, Adélia Prado é poeta, professora, romancista e licenciada em Filosofia. Tornou-se nacionalmente conhecida na década de 1970, quando Carlos Drummond de Andrade destacou publicamente seu talento, impulsionando a publicação de seu livro de estreia, Bagagem, em 1976. Desde então, construiu uma obra vasta e vigorosa, que inclui títulos como O Coração Disparado e Manuscritos de Felipa, marcada por lirismo, espiritualidade, existencialismo e pela exaltação da vida comum.

Ao longo de quase seis décadas de produção literária, Adélia recebeu importantes reconhecimentos, entre eles o Prêmio Jabuti, o Prêmio Guimarães Rosa, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras no ano passado e o Prêmio Camões, além da Ordem do Mérito Cultural, concedida em 2014. Foi a primeira mulher a receber o Prêmio Conjunto da Obra pelo Governo de Minas, 2017, e já foi indicada à Academia Brasileira de Letras, consolidando-se como uma das vozes mais influentes e celebradas da literatura


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