O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) afirmou nesta quarta-feira (30) que o depoimento do porteiro do condomínio do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre a liberação de um dos investigados no assassinato da vereadora Marielle Franco não é compatível com a gravação da chamada feita pelo interfone da portaria.
De acordo com o MP, o áudio salvo no sistema do condomínio confirma que quem autorizou a entrada do ex-PM Élcio Queiroz foi o sargento aposentado Ronnie Lessa, outro investigado pela morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Os dois militares se encontraram horas antes do crime, em 14 de março de 2018.
O Ministério Público explicou que, apesar de a planilha de controle do condomínio indicar que Élcio iria à casa 58, que é propriedade do presidente Bolsonaro, a gravação demonstra que a casa contatada para dar a autorização foi a 65. Além disso, peritos do MP identificaram a voz do homem que atendeu a ligação como sendo a de Lessa.
De acordo com o MP, as planilhas que registram as presenças do condomínio foram apreendidas em 5 de outubro deste ano. Somente neste momento, com a menção da casa 58, a investigação passou a envolver o presidente da República.
Cerca de dois dias depois do documento ser recolhido pelas autoridades, o síndico do condomínio entregou as gravações que registram as chamadas da portaria à polícia. Os áudios foram periciados e atestados como verídicos.
Segundo a promotora Simone Sibilio, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Autorizado (GAECO), ainda não foi possível identificar por qual motivo o porteiro do condomínio teria dito à polícia, em duas ocasiões, que a voz responsável por autorizar a entrada de Élcio era a de “seu Jair”.
Caso seja comprovado que o porteiro mentiu nos depoimentos, ele pode ser processado por falso testemunho. Na coletiva de imprensa nesta quarta-feira, Sibilio confirmou que o funcionário teria mentido, mas depois evitou dizer isso categoricamente.
“A prova técnica juntada aos autos mostra que no dia 14 de março de 2018 às 17h07, quem autoriza a entrada de Élcio Queiroz no condomínio é Ronnie Lessa”, afirmou.
PORTEIRO MENCIONOU BOLSONARO
Na terça-feira (29), o Jornal Nacional divulgou que o porteiro do condomínio de Bolsonaro, no Rio de Janeiro, havia mencionado o nome do militar em um depoimento à polícia do Rio, no âmbito da investigação que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes.
De acordo com a reportagem, o funcionário afirmou que um dos suspeitos de matar a vereadora esteve na região horas antes do crime e teve autorização de alguém identificado como o “senhor Jair”, na casa 58, onde mora o presidente, para entrar.
O ex-policial Elcio Queiroz, no entanto, dirigiu-se para a casa de outro suspeito que também mora no condomínio, Ronnie Lessa. Naquela data, Bolsonaro estava em Brasília, participando de atividades na Câmara. Ambas as informações estavam na reportagem da Globo.
Fonte: MPRJ