Grupo de Poetas relata corte de poemas durante live de lançamento do Projeto “Minha Cidade Lê” e denuncia censura na gestão Gleidson Azevedo

Compartilhe essa reportagem:

Dois poemas foram cortados de vídeo produzido pelo grupo e enviado à Semed; Secretária de Educação negou censura pela pasta e prometeu exibição em outro momento

O Coletivo de Poetas de Divinópolis Arteferia denunciou censura política sofrida pelo grupo em momento cultural da live de lançamento do “Projeto Minha Cidade Lê”, no dia 17 de junho, em transmissão pelo Youtube do Centro de Referência dos Profissionais da Educação – CRPE, da Secretaria Municipal de Educação de Divinópolis – Semed. Dentro da parceria firmada pelo Arteferia com a Semed /CRPE, havia sido acertada a participação do grupo na live de lançamento, através da produção de um vídeo. No dia da transmissão dois poemas foram cortados do vídeo produzido e enviado pelo grupo.  Indignados pela censura ocorrida, o Coletivo Arteferia oficiou à Semed  repudiando o fato e comunicando a suspensão da parceria até apresentação de soluções para o caso. Em resposta, Andreia Dimas, Secretária de Educação, negou censura por parte da pasta e alegou que o incidente se deu em “decorrência de uma conduta equivocada interna” e prometeu exibição dos poemas em outro momento cultural.

O servidor Cláudio Guadalupe, que é um dos idealizadores do Arteferia e já esteve no Sintram, relatando o trabalho do grupo para promoção da poesia em Divinópolis, explicou que o Arteferia havia procurado o Centro de Referência dos Profissionais da Educação- CRPE da Semed para uma parceria envolvendo o trabalho dos poetas  junto aos professores e os educandos do município.  “A ideia era fazer um trabalho futuro de mobilização da rede municipal em torno da poesia e as ideias estavam  amadurecendo junto com o CRPE da Semed no sentido de ter um projeto até maior. Além da formação dos professores, pensávamos criar um movimento pela poesia na rede, organizar um festival de declamações, envolver os alunos e professores  com essa linguagem poética”, explicou.

Dentro dessa discussão da parceria, Guadalupe conta que o CRPE sugeriu a realização de um sarau no momento cultural do Projeto Minha Cidade Lê, o grupo aceitou e produziram então o vídeo para o dia da transmissão. “Nós editamos um vídeo com poemas relacionados a Divinópolis. Estávamos no mês de junho, julho e  produzindo os textos para um novo fanzine, que foi todo voltado para as questões de Divinópolis,  refletindo a situação social, política de Divinópolis e comemorando o aniversário da cidade”, explicou Claudio.

Indignação

Cláudio conta que os integrantes do grupo ficaram indignados quando perceberam a retirada de dois poemas do vídeo. A censura foi relativa aos poemas dos servidores Silvânio Alves e José Heleno Ferreira.  Cláudio apresentou os poemas e destacou que os mesmos tratam de situações atuais e a retirada dos mesmos é injustificável. O poema do professor José Heleno traz como título “A estupidez daqueles que nos mandam calar a boca” e aborda o autoritarismo. Já o do servidor Silvânio com o título “Divinópolis-MG” faz uma reflexão sobre o negacionismo no município. “O poema do José Heleno é um poema, que cabe tanto para a situação nacional, como para Divinópolis também. É um poema que no conjunto dos poemas, não tinha tanto peso do ponto de vista: “_Ah é uma crítica direta ao prefeito” ou alguma coisa neste sentido. Não! É um poema que está tratando de algo, que estamos vivendo na sociedade brasileira, que é o autoritarismo, o fascismo, que está crescendo em nossa sociedade. O outro do Silvânio é mais referente a cidade, mas  de fato  se formos verificar ao longo dos anos, a cidade teve mudanças. A cidade  era muito mais acolhedora, ele não está falando inverdades (…) é um sentimento.  O poeta sente o que as pessoas estão vivendo e quer passar  isso para o poema, é um direito e dever do poeta. A poesia é uma forma de resistência contra situações de opressão, contra governo autoritários, contra aquilo que incomoda a humanidade, o que subtrai o jeito da gente ser diverso, plural”, relatou Cláudio.

Ofício

Cláudio conta que o Coletivo questionou o fato a Secretaria de Educação – Semed e houve então uma reunião com o diretor de Educação/ Semed, Leandro Ferreira, que reconheceu o erro e disse que a pasta iria se retratar em relação ao fato. Na sequência, um ofício foi enviado pelo Grupo à secretaria de Educação, Andreia Dimas, repudiando a censura sofrida e comunicando o afastamento temporário da parceria entre as partes, enquanto a Secretária não apresentasse soluções para o impasse. Ainda manifestaram que o ato cometido de retirada dos poemas (censura) remete aos piores momentos da história do povo brasileiro, bem como de outros povos ao longo da história.

Em resposta a Secretária Andreia Dimas, repudiou a “suposta censura política” e se esquivou da responsabilidade do corte dos poemas. “Esclarecemos que não houve em nenhum momento, qualquer tipo de censura por parte da Secretaria Municipal de Educação. O incidente ocorrido se deu em decorrência de uma condução equivocada interna, que realizou a seleção dos vídeos que eram pertinentes a tema, sem comunicar ao Arteferia, todavia, promoverá a transmissão dos vídeos que não foram divulgados, em outro momento cultural oportuno”, respondeu a secretária.

Ainda no oficio, a secretária Andreia ressaltou que entendem que educar é “um ato político e que censurar é exatamente ação contrária a avanços na prática educativa” e manifestou o interesse pela continuidade da parceria. “Enfatizamos a valorização e reconhecimento do Arteferia e reiteramos o desejo de parceria com esta secretaria”, manifestou a secretaria.

Quebra de Confiança

Guadalupe manifestou que  a censura existiu e os integrante do grupo  entendem que a confiança foi quebrada. “A resposta (do ofício)  foi inconsistente,dizendo que não houve censura, que foi um engano porque não avisaram a tempo que iriam retirar  os dois poemas. O pessoal não acreditou.  Não dá para acreditar porque são dois poemas, que tratam  exatamente do autoritarismo e o outro do negacionismo em  Divinópolis. São poemas, que retratam mais o que  está acontecendo na cidade, com a administração”, disse Cláudio, informando ainda que não houve tema para produção dos poemas, a criação era livre.

Trabalho

Cláudio disse que o Arteferia não irá desistir do trabalho junto aos educadores e educandos. “A gente acredita, que as escolas, que quiserem convidar o Coletivo para fazer um trabalho junto com os alunos, produzindo o fanzine, que é uma prática muito interessante, que é um jornalzinho artesanal, estamos dispostos a fazer esse trabalho”, disse.

Críticas

Guadalupe ainda disse que um novo ofício será enviado a Semed e será expresso que houve sim censura política, que são dois poemas que expressam o quadro vivido em Divinópolis e por isso foram censurados.  “Lógico, que é um coletivo de poetas mais críticos. Não é um coletivo de poetas, que faz poesia para ficar calado, não é isso. A nossa linha é que seja uma poesia bonita e reflexiva e lógico que teriam reflexões e uma das questões foi a situação, que se vive em Divinópolis”, disse

O servidor disse que por detrás da Semed existe uma gestão, que não aceita crítica, mas o Coletivo não terá seu trabalho freado, continuará resistindo e buscando outros parceiros para divulgação e valorização da arte da poesia em Divinópolis. “Reconhecemos na Andreia e o Leandro bons companheiros, mas existe uma administração que está por detrás disso, que não aceita nenhuma crítica, não aceita nada. As pessoas  podem falar o que quiserem, não da para você fazer formação de professores , falando isso pode, isso não pode. As pessoas vão expressar do jeito que querem”, criticou.

Ações

Cláudio disse as ações do grupo continuam e que no próximo dia 17 de agosto será realizada uma live com a escritora Roseana Muray.  No encontro virtual, a escritora irá falar sobre o trabalho, que desenvolve na área da Educação. “Ela tem um projeto de vários anos, que ela envolve escolas do Brasil inteiro (…). Ela faz um trabalho de conscientização com os alunos através da linguagem poética”, disse. O grupo tem buscado outras frentes para divulgar a poesia na cidade, uma das parcerias estabelecidas é com a Academia Divinopolitana de Letras e com a UEMG.

Contato

Os professores ou demais pessoas, que tiverem interesse em fazer parceria com o grupo, poderão fazer contato pelo whatsApp  (37) 9-9807-5040, falar com Claudio Guadalupe. Clique e confira na íntegra o vídeo do Coletivo Arteferia com os poemas, que foram censurados.

Reportagem: Flávia Brandão
Comunicação Sintram

 

 


Compartilhe essa reportagem: