O “amansador de cavalos” deixou um acervo de mais de 800 peças

Com a presença de amigos, artistas e autoridades municipais, foi sepultado na manhã desta quinta-feira (24) no Cemitério de Ermida, o corpo do artista plástico de Divinópolis, Jadir João Egídio. Nascido na zona rural, o artista começou sua vida artística com mais de 40 anos de idade e deixou um acervo com mais de 800 peças entalhadas em madeira. Nascido em Djalma Dutra em 1931, Jadir morreu aos 94 anos. Uma de suas últimas exposições em Divinópolis, aconteceu em julho de 2018, quando ele mostrou 14 de suas peças no Espaço GTO da Câmara Municipal.
O escultor foi um dos destaques do Pequeno Dicionário do Povo Brasileiro, Século XX, de Lélia Coelho Frota, (Ed. Aeroplano, 2005), que assim definiu Jair João Egídio: “O trabalho de Jadir possui completa autonomia formal e expressa a sua religiosidade de maneira única. Nele, retratos de homens e mulheres próximos, do seu convívio do dia-a-dia, assumem a gravidade do sofrimento e do silêncio de muitas imagens da escultura românica, afinidade que ele denota sem haver jamais tomado conhecimento desse capítulo da história da arte ocidental”.
Jadir tinha um modo singular de esculpir: não fazia desenhos prévios, apenas dispunha a madeira escolhida diante de si e começava o entalhe, cortando, esculpindo, “retirando o material que recobre a figura que vai surgindo”, como ele próprio descreveu.
O QUE ELE FEZ

Entre outras ocupações singelas, foi amansador de cavalos, peão e batedor de manteiga, até poder comprar uma carroça e tornar-se entregador de mercadorias. Em 1968, ao completar a descida por uma estradinha rural que circundava um grande morro, foi acometido por um mau pressentimento: avistou um tenebroso caminhão que iniciava o percurso descendente e sentiu que corria perigo. Manobrou rápido: encostou o mais que pôde a carroça e o cavalo no barranco, mas foi inútil. Foram arrastados, o animal morreu e Jadir seriamente ferido, principalmente nas costas, tormento do qual nunca mais se recuperaria de todo.
Jadir recomeçou a vida produzindo arreios e chicotes. Certa vez reparou num galho que sua esposa Cecília trouxe para queimar no fogão de lenha e teve vontade de pegar o canivete e entalhar. E viu surgir algo que o deixou muito admirado. O primeiro freguês a quem mostrou a peça logo a quis comprar e ofereceu um valor muitas vezes superior aos utensílios que Jadir costumava produzir.
Alegre com a descoberta, e muito católico, logo Jadir estava entalhando santos e cenas da Bíblia, que foram o seu tema por toda sua trajetporia artistica. Começava assim, a partir de um momento de desamparo e dor, uma carreira marcada por importantes participações. Dentre elas algumas com curadoria de Emanoel Araújo, como “Negras Memórias, Memórias de Negros”, “Brasileiros, Brasileiras” e a Mostra do Redescobrimento “Brasil 500 Anos”.
Reportagem: Jotha Lee
Com informações apuradas de fontes literárias