Entidades acusam Bolsonaro de incentivar agressões a jornalistas

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As agressões e as ameaças físicas e verbais feitas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro contra profissionais de imprensa no ato pró-intervenção militar nesse domingo (3) geraram diversas manifestações de repúdio e de defesa da liberdade de expressão. O repórter fotográfico Dida Sampaio e o motorista Marcos Pereira, do jornal O Estado de S. Paulo, foram agredidos fisicamente. O repórter Nivaldo Carboni, do site Poder 360, levou um chute. O fotógrafo Orlando Britto também foi empurrado. Outros profissionais foram hostilizados por bolsonaristas.

Entidades como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) acusaram o presidente de incitar esse tipo de comportamento contra a imprensa. Mesmo presente e tendo conhecimento da agressão durante o ato, Bolsonaro nada fez para conter a violência. “É o próprio presidente e seus ministros que incentivam as agressões contra a imprensa e seus profissionais”, disse a ABI por meio de nota.

Bolsonaro já fez o gesto de “banana” para jornalistas e incitou apoiadores a hostilizarem repórteres que fazem a cobertura na entrada do Palácio da Alvorada.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também repudiou as agressões, assim como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ministros do Supremo Tribunal Federal. Até o início desta manhã, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo, Dias Toffoli, não haviam se manifestado. O episódio ocorreu no Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.

Veja as manifestações de entidades e autoridades:

Abraji:

Agressões a jornalistas são resultado da postura de Bolsonaro
Em pleno Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, jornalistas foram hostilizados e covardemente agredidos por militantes políticos ao realizarem a cobertura de manifestações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Tais acontecimentos evidenciam o risco cada vez maior ao qual o discurso belicoso e ultrajante do presidente da República expõe os repórteres brasileiros.

No começo da tarde de domingo, 03.mai.2020, Dida Sampaio, do Estadão, tentava fotografar o presidente na rampa do Palácio do Planalto, quando manifestantes o derrubaram duas vezes da escada em que ele estava, desferindo chutes e um soco no estômago do jornalista. O repórter Fabio Pupo, da Folha de S. Paulo, foi empurrado ao tentar defender o colega. O motorista do Estadão, Marcos Pereira, levou uma rasteira do mesmo grupo. A equipe do Estadão e o repórter Nivaldo Carboni, do site Poder 360, que também levou um chute, tiveram que deixar o local escoltados pela Polícia Militar. As ameaças não pararam: até quando os profissionais estavam dentro da viatura, apoiadores do presidente batiam no vidro do carro. O Estadão afirma que os repórteres Júlia Lindner e André Borges foram insultados, mas não agredidos fisicamente.

Um dos mais destacados e premiados repórteres fotográficos do país, Orlando Brito, de 70 anos, também foi empurrado pelos manifestantes. Com 54 anos de profissão e passagens por diversos veículos do país, registrando alguns dos mais importantes episódios da política brasileira, inclusive o período da ditadura militar, Brito cobria o ato incentivado por Jair Bolsonaro para o website Os Divergentes. Conforme seu relato, qualquer pessoa com câmera fotográfica e credencial estava sendo ofendida, independentemente do veículo no qual trabalhava.

Outros eventos que mobilizaram jornalistas no fim de semana também produziram casos de hostilidades e agressões contra repórteres no exercício da profissão.

No sábado, 02.mai.2020, durante a cobertura das manifestações contra e a favor do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, em Curitiba, um apoiador de Bolsonaro atacou um repórter cinematográfico da afiliada da TV Record em Curitiba (RICTV). Robson Silva se preparava para fazer uma transmissão ao vivo, quando o homem com bandeira do Brasil partiu para cima dele, tentou acertá-lo no rosto e derrubar a câmera no chão. Outros cinegrafistas presentes em frente à Polícia Federal evitaram a agressão física e, felizmente, ninguém se feriu.

No feriado de primeiro de maio, Dia do Trabalhador, conforme relatos enviados à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), militantes favoráveis a Bolsonaro tentaram agredir equipes de reportagem na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Os apoiadores do presidente tentavam impedir um protesto de enfermeiros por melhores condições de trabalho no combate à pandemia.

Os novos ataques se somam aos ocorridos no dia 19.abr.2020, quando jornalistas foram alvo de ofensas e agressões por parte de militantes do presidente Bolsonaro em Brasília, São Paulo e Porto Alegre. Nas últimas semanas de março, dois estudos deram dimensão do agravamento da situação dos jornalistas no mundo: a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) mostrou que três em cada quatro jornalistas já enfrentaram intimidação ao apurar notícias sobre a pandemia de covid-19. No ranking da organização Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de imprensa, o Brasil caiu duas posições em relação a 2019.

Tais agressões são incentivadas pelo comportamento e pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro. Seus ataques aos meios de comunicação, teorias conspiratórias e comportamento ofensivo fomentam um clima de hostilidade à imprensa, além de servirem de exemplo e legitimarem o comportamento criminoso de seus apoiadores. É inaceitável que militantes favoráveis ao governo saiam às ruas com objetivo expresso de intimidar os profissionais de imprensa, quando o próprio governo federal definiu o jornalismo como atividade essencial durante a pandemia.

A deterioração da liberdade de imprensa, fomentada por autoridades eleitas e servidores públicos, é um risco grave para a democracia. A Abraji e o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) cobram das instituições republicanas que protejam o direito da sociedade à informação. Os três poderes, nas três esferas, não podem se mostrar passivos diante da violência física e simbólica contra os jornalistas, e devem punir agressões e reagir aos discursos antidemocráticos.

Diretoria da Abraji e Observatório da Liberdade de imprensa da OAB, 03 de maio de 2020.

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Fenaj:

 

Nota oficial: Jornalistas são agredidos em pleno dia de luta dos trabalhadores
O 1° de maio, dia de Luta dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, foi marcado por mais violência contra os/as jornalistas em Brasília. O Sindicato dos Jornalistas do DF e a Federação Nacional dos Jornalistas repudiam a escalada de violência contra os trabalhadores por parte de apoiadores do governo de extrema direita.

Dois casos foram registrados

Jornalistas foram agredidos verbalmente na porta do Palácio do Alvorada por seguidores de Bolsonaro, que esperavam o presidente. A segurança do Palácio nada fez diante da situação.

Em um protesto silencioso de enfermeiros na Praça dos Três Poderes, onde pediam segurança para os trabalhadores e reforço no isolamento social para evitar mais mortes, tanto manifestantes quanto repórteres fotográficos e equipes de reportagem também foram agredidos por seguidores de Bolsonaro. Um militante de extrema-direita partiu para agressão física dos manifestantes. A PM do DF também nada fez.

O SJPDF e a Fenaj repudiam tamanha violência neste 1º de maio. A escalada de agressões contra jornalistas é incentivada por Bolsonaro e seus apoiadores, que não respeitam a democracia e a liberdade de expressão.

O Sindicato coloca sua assessoria jurídica a disposição da categoria para providências contra os agressores. Também iremos pedir providências para a Polícia Militar e a segurança da Presidência da República.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal
Federação Nacional dos Jornalistas

Brasília, 2 de maio de 2020.

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Nota emitida pela ABI:

Fonte: Congresso em Foco


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