Enquanto sistema de saúde agoniza em Divinópolis, hospitais regionais continuam sendo palanques políticos

Compartilhe essa reportagem:

A espera de conclusão, obras do Hospital Regional voltam a agenda política em ano eleitoral (Foto: SES/MG)

O sistema de saúde público de Divinópolis entrou em colapso e a rede assistencial da cidade, incluindo estado e município, não tem mais capacidade para atender a demanda. Conforme decreto de calamidade pública que entrou em vigor na semana passada, até mesmo usuários de planos de saúde estão buscando atendimento nas unidades municipais. A situação atual é uma tragédia anunciada, diante das ações e omissões da política e da falta de lideranças sérias para a cidade.  

Embora haja raríssimas exceções, essa é a regra predominante hoje em Divinópolis.  Órgãos que deveriam agir em defesa do cidadão estão comprometidos com os currais eleitorais montados aqui e ali. A Comissão de Saúde e a Mesa Diretora da Câmara são marionetes manipuladas pelo prefeito e não têm poder político para liderar uma campanha confiável para moralizar a condução da saúde pública. O Conselho Municipal de Saúde, enfraquecido nos últimos anos, por vezes até detecta os problemas e fica nisso. O colapso da rede pública é político e administrativo.

A UPA 24h, com todo aparato técnico necessário, se tornou uma enorme de cabeça para a população, por obra dos governos municipais, que entregaram a unidade para gestores terceirizados, cercados de suspeitas e administrativamente incompetentes. Já são 10 anos de terceirização, com três gestores e, em todos os casos, o cidadão pagou uma alta conta, inclusive com vidas. Já o Hospital Regional, também incluído na lista de salvação, desde 2010 vem sendo utilizado como palanque eleitoreiro, consumindo dinheiro público que na verdade serve apenas para os discursos pré campanhas eleitorais, como acontece esse ano, por exemplo.

Em 2010, o então governador Antônio Anastasia, manipulado por Aécio Neves, lançou pedras fundamentais de hospitais regionais em várias cidades de Minas. Divinópolis foi uma delas. Começou então a saga da mentira, para garantir votos por longos anos a políticos oportunistas. Previsto para ser entregue em 2014, o Hospital continua sendo apenas objeto para campanhas eleitorais. Também foi assim em outras cidades, como Teófilo Otoni e Juiz de Fora, para citar dois exemplos.

Com as obras paralisadas em 2016, depois de um gasto de R$ 90 milhões, o hospital regional de Divinópolis, que deveria atender a 54 cidades, cumpre apenas sua finalidade política. Em novembro de 2023, véspera de ano eleitoral, o governo do Estado anunciou mais R$ 40 milhões para a conclusão da obra. Não faltaram políticos para posar ao lado de Zema, com sorriso abertos e discursos ensaiados, anunciando o milagre do fim da obra. Os recursos são provenientes do Acordo de Reparação ao rompimento de barragem da Vale, em Brumadinho. Na semana passada, em entrevista à Rádio Minas, o deputado Eduardo Azevedo (PL) disse que esse mês o governador anunciará a data de conclusão das obras do Hospital.  

MAIS PALANQUE

Essa situação não é exclusiva de Divinópolis. Ao anunciar a construção dos hospitais regionais em 2010, Antônio Anastasia não tinha a menor preocupação com a entrega do serviço para a população. As “obras” já haviam garantido o capital político necessário para sua reeleição e futura eleição ao Senado.

Outro exemplo está na cidade de Juiz de Fora, onde a obra do hospital regional, iniciada em 2010, está paralisada desde 2017. Em abril deste ano, o Governo do Estado informou que não dará continuidade às obras do Hospital naquela cidade, sob o argumento de que se trata de uma intervenção de alto risco, numa construção com graves problemas estruturais. Isso encareceria a obra e aumentaria o tempo necessário para a sua conclusão. O total de recursos destinados ao término da construção é de R$ 150 milhões. A exemplo de Divinópolis, o hospital começou a ser construído em 2010.

É ano eleitoral. A continuidade de obras do hospital regional em Divinópolis continua sendo um excelente palanque, até mesmo para opositores. A expectativa do cidadão divinopolitano, diante de uma das maiores crises da história no sistema de saúde da cidade, é que Zema de fato anuncie esse mês a conclusão das obras do hospital regional e que não seja mais uma fake news daqueles que alicerçam reeleições em cima do oportunismo.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram


Compartilhe essa reportagem: