Em uma semana, Semusa isenta UPA de responsabilidade em duas mortes sob suspeitas de negligência médica

Compartilhe essa reportagem:

No dia 3 de maio, com uma foto da criança exposta no púlpito, a mãe de Thallya, Juliana Pinto, fez um doloroso depoimento na tribuna da Câmara: “Eu quero saber do que a minha filha morreu (Foto: Reprodução/TV Câmara)

A Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) divulgou no meio da tarde desta terça-feira (18) a conclusão da sindicância instaurada para apurar possível negligência médica, no atendimento dispensado à criança Thallya Beatriz da Silva Pinto Satiro, de 3 anos, que morreu em circunstâncias duvidosas na UPA 24h no dia 26 de abril. A mãe da menina, Juliana da Silva Pinto, ocupou a tribuna da Câmara no dia 2 de maio para pedir justiça.

Segundo a Semusa, “após análise do histórico dos atendimentos dispensados à paciente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto Cordeiro Martins, foi identificado que os profissionais médicos que atenderam a menor se valeram de todos os meios disponíveis naquela unidade para elucidação dos sintomas relatados”.

Ainda de acordo com a Semusa, no atendimento realizado no dia 24 de abril, foram solicitados exames de sangue, urina e RX, “sem que os mesmos tenham sugerido a existência de patologias que demandassem o aprofundamento investigativo nas dependências da UPA”.

De acordo com a Semusa, o registro de atendimento da criança demonstrou um diligente exame físico bem criterioso. “Ademais, a médica assistente orientou retorno em caso de intercorrências e encaminhou a criança à Estratégia Saúde da Família para acompanhamento médico assistencial e para extensão de propedêutica”, afirma a sindicância da Semusa.

Ainda segundo a Semusa, no atendimento do dia 26 de abril “em virtude de a paciente já ter entrado em parada cardiorrespiratória alguns minutos após sua chegada à Unidade, o que exigiu que toda equipe médica se desdobrasse nas manobras de ressuscitação, não foi possível realizar exames físicos e laboratoriais. No entanto, foram realizados exames post mortem”.

Afirma ainda que “após a constatação do óbito, foi solicitada pela médica assistente a realização de necropsia para elucidação das razões que concorreram para tal evolução. No entanto, a devolutiva da Polícia Civil foi no sentido de que tal expediente é realizado apenas em casos de morte violenta”, ou seja, não foi feita a necropsia.

O resultado da sindicância mais uma vez isenta a UPA e seu corpo médico de qualquer responsabilidade. Há exatamente uma semana, a Semusa também isentou a UPA de responsabilidades pela morte de Tatielle Scarlat Ferreira, mãe de três filhos, que a exemplo de Thallya, foi atendida diversas vezes na UPA e mandada para casa.

Nos dois casos, foram ignorados os depoimentos das duas famílias. A Semusa, pela nota oficial divulgada nas duas situações, ignorou as denúncias das famílias, principalmente sobre negligência médica. A nota da Semusa não faz referência a possível depoimento de familiares. O resultado unilateral de sindicâncias não pode ser conforto para famílias que perderam entes queridos, que ainda tinha toda uma vida pela frente, ainda mais quando estão conscientes de que houve várias tentativas de encontrar um atendimento médico decente justo.

Ainda mais estranho, é que nos dois casos, a Semusa divulgou o resultado da sindicância em nota oficial, porém o conteúdo da das duas sindicâncias não foi divulgado, como também, em nenhum dos casos, a Secretaria citou a causa das mortes.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação  Sintram


Compartilhe essa reportagem: