Após repercussão, Câmara divulga nota de repúdio; Prefeitura permanece em silêncio

“Dois tiros na cabeça foi a fala de um pastor em Divinópolis sobre moradores de rua. É de um absurdo sem tamanho: gente que devia pregar acolhimento defende execução. Tem gente que precisa mais de evangelho do que de púlpito”. Essa foi a reação da deputada estadual Lohanna França (PV), após tomar conhecimento do discurso de ódio contra moradores de rua proferido pelo pastor Wilson Botelho, no plenário da Câmara. O fato ocorreu no último dia 4, durante reunião da Comissão de Justiça, supostamente para discutir soluções após o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) e os vereadores Matheus Dias (Avante) e Wellington Well (PP), acusarem municípios vizinhos de enviar moradores de rua para Divinópolis. Leia reportagem.
O discurso do pastor não se resumiu à incitação à violência contra a população de rua. O líder religioso admitiu que já transportou moradores de rua de Divinópolis para outros municípios, se colocou como “braço direito da Polícia Militar”, disse que foi apoiado por um Coronel e ainda confessou crimes de ameaça e discriminação.
PREFEITO INVESTIGADO
A deputada Lohanna França protocolou nesta terça-feira (9) representações no Ministério Público, no Ministério do Desenvolvimento Social e no Ministério dos Direitos Humanos contra o pastor Wilson Botelho. Lohanna também denunciou o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) por possível violação às diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua e da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). O prefeito afirmou que não prestará atendimento para moradores de rua de outras cidades, o que fere, inclusive resolução do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).
CÂMARA
A Câmara Municipal tentou blindar o discurso do pastor Wilson Botelho, porém se viu obrigada a se manifestar após a repercussão do caso. No início da noite desta terça-feira (9), às 19h19, o Legislativo publicou uma nota de repúdio e disse que “as falas [do pastor Wilson Botelho] registradas durante a reunião são inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática e com o dever de proteção à dignidade humana”.
Na nota, a Câmara disse, ainda, que “não compactua com quaisquer práticas, que atentem contra a integridade física, a segurança ou a dignidade das pessoas e repudia veementemente as declarações que incentivam ou enaltecem a violência e a intimidação”.
Embora não tenha formalizado um pedido oficial, a Câmara disse que “solicita às autoridades competentes a apuração dos fatos e a tomada das providências legais cabíveis, inclusive quanto a eventuais responsabilizações penais e administrativas”.
PARTIDO DOS TRABALHADORES
Em nota, o Diretório Municipal do PT classificou o discurso do pastor como “uma fala desumana, criminosa e incompatível com qualquer perspectiva de direitos humanos”.
Na nota, o partido também repudiou as atitudes da secretária municipal de Desenvolvimento Social, Juliana Coelho. “Repudiamos também a postura da secretária municipal de Desenvolvimento Social, Juliana Coelho, que, em vez de se posicionar contra tamanho absurdo, preferiu criticar o vereador Vítor Costa (PT) — justamente por defender a universalidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Ainda mais grave é o fato de que a secretária apareceu em vídeo ao lado do prefeito Gleidson Azevedo, reforçando a ideia ilegal e discriminatória de que pessoas em situação de rua que não sejam de Divinópolis não teriam direito a atendimento”, disse o partido.
O PT também condenou o silêncio da Prefeitura, já que até esta quarta-feira (10) ainda não houve nenhuma manifestação oficial da administração municipal sobre o discurso violento do líder evangélico. “O silêncio e a omissão da gestão municipal diante das falas do pastor, ao mesmo tempo em que reproduz preconceito e exclusão em vídeo oficial, demonstram conivência com a violência e abandono da responsabilidade pública”, afirmou o partido.
VEREADORES EM SILÊNCIO
Dos 17 vereadores, apenas Vitor Costa (PT) condenou os ataques proferidos pelo pastor Wilson Botelho contra a população de rua. Outros 15 vereadores ignoraram completamente o assunto, inclusive os dois vereadores do PV, Kell Silva e Rodyson do Zé Milton, embora a deputada Lohanna França, principal nome da legenda em Divinópolis, tenha se pronunciado e agido contra as atitudes do governo municipal no tratamento à população de rua.
Já Matheus Dias (Avante), o vereador que lidera os ataques à população de rua, criticou a nota de repúdio feita pela Câmara e pelo PT ao discurso de ódio proferido por Wilson Botelho. Mais uma vez, se colocando como vítima, Matheus Dias disse que ninguém fez nota de repúdio quando ele foi supostamente ameaçado. As supostas ameaças denunciadas por Matheus Dias até hoje não foram provadas. “Eu não vou ficar batendo tambor aqui pra maluco dançar. Não vou ficar batendo tambor pra vereador dançar, pra prefeito aqui da região dançar… A fala que tivemos aqui que foi citada do pastor, foi uma fala infeliz, mas engraçado que ninguém se preocupou com nota de repúdio quando esse vereador foi ameaçado nessa Casa. Agora, estão fazendo nota de repúdio, partido fazendo nota de repúdio, não sei quem mais tá fazendo nota de repúdio. Eles são seletivos”, disparou o vereador, que se intitula como missionário da Missão Maria de Nazaré.
Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação