No melhor estilo bolsonarista, o prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo) teria se utilizado de verbas públicas para fazer campanha política e atacar adversários, com a divulgação de fake news e outros mecanismos de caráter duvidosos. Na tarde desta quinta-feira (29/02), a deputada estadual Lohanna França (PV), um dos alvos preferidos da família Azevedo, denunciou o que chamou de “gabinete do ódio” bancado pelo município e criado a partir de um terminal de computador instalado na Secretaria de Administração.
Após sofrer vários ataques, inclusive de cunho pessoal, do perfil de fofocas “Notícias e Babados”, administrado pela ex-assessora de monitoramento de mídias sociais da Prefeitura de Divinópolis, Vanessa Bernardes, a deputada fez uma denúncia na Polícia Civil e na entrevista desta quinta-feira Lohanna apresentou detalhes do inquérito que já foi concluído. Segundo a deputada, o perfil foi criado no Instagram no dia 23 de março do ano passado e para isso, teria sido utilizado um computador instalado na sala 311, do Centro Administrativo, onde funciona a Secretaria Municipal de Administração (Semad).
A administradora do perfil, Vanessa Bernardes, foi contratada para monitoramento das mídias sociais, no gabinete da secretária de governo e vice-prefeita, Janete Aparecida, no final de janeiro do ano passado, com um salário bruto de R$ 4.847,13. A partir de sua contratação vieram várias denúncias, principalmente a utilização das redes sociais, em horário de expediente, para campana favorecendo o senador Cleitinho Azevedo.
Em maio de 2023, Vanessa Bernardes foi exonerada do cargo e o caso gerou até boletim de ocorrência policial. Ela acusou a vice-prefeita Janete Aparecida de assédio moral e de ofensas pessoais graves. Vanessa saiu atirando para todos os lados e ameaçou denunciar o prefeito e o senador Cleitinho Azevedo, com quem trabalhou desde a campanha para vereador do hoje senador.
Apesar das ameaças, Vanessa não fez nenhuma denúncia e continua mantendo o perfil de fofocas “Notícias e Babados” no Instragram. O perfil continua sendo utilizado para atacar desafetos da família Azevedo e promover os seus mandatos.
MINISTÉRIO PÚBLICO
De acordo com a deputada Lohanna França, a conclusão do inquérito policial que mostra um forte indício do uso da máquina pública para favorecimento dos irmãos Azevedo. “O gabinete do ódio nunca foi tão real”, afirmou Lohanna. A deputada disse que adotará as providências legais.
Além de uma ação judicial, Lohanna disse que voltará a acionar o Ministério Público para que seja instaurado um procedimento investigativo sobre o uso da máquina pública indevidamente, já que, supostamente, Vanessa Bernardes administrava o perfil durante o horário de expediente.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Em nota oficial a Prefeitura negou todas as acusações e disse que não tem conhecimento do inquérito policial. Através da Secretaria de Governo (Segov), a Prefeitura disse que foi surpreendida “com a fala da deputada Estadual, Lohanna, acusando o município de ter criado um gabinete do ódio para lhe fazer ataques”.
Segundo a Prefeitura, “nenhum representante do Executivo Municipal foi chamado, em momento algum, para prestar depoimento, desconhecendo o inquérito mencionado pela deputada”. Acrescentou que, caso as denúncias sejam confirmadas, “os responsáveis responderão por tais atos”.
“É importante ressaltar, ainda, que a responsável pelo blog não faz mais parte da Secretaria de Governo desde maio de 2023. A Prefeitura já está providenciando pedido de acesso ao inquérito para conhecimento de seu teor, no intuito de tomar as providências cabíveis”, finalizou.
SEMAD
Mais tarde, em outra nota oficial, a Secretaria Municipal de Administração negou que o perfil tenha sido criado na sala 311 da Prefeitura, conforme denunciou a deputada.
“A Prefeitura de Divinópolis, por meio da Secretaria Municipal de Administração, Orçamento, Informação, Ciência e Tecnologia (Semad) vem repudiar a fala da Deputada Lohanna França, que em entrevista afirma que perfil fake foi criado na sala 311 do Centro Administrativo, sede do Gabinete do Secretário”, diz a nota.
A nota afirma, ainda, que “a fala [da deputada] foi leviana ou minimamente ignorante, ao afirmar que a criação do perfil aconteceu na sala 311 do Centro Administrativo. O link de internet da Prefeitura de Divinópolis, tem seu endereço fiscal, ou seja, o endereço da fatura, a Avenida Paraná, 2.601, SL 311, São José. (…) Isso se deve ao fato de que a fatura é de responsabilidade da Semad, logo, a fatura é entregue pelos correios na sala 311 para seu devido processamento de liquidação e pagamento”.
Segue a nota: “Ao afirmar que a criação aconteceu na sala 311, a Deputada Lohanna distorce as informações. Como Deputada, dispondo de amplo assessoramento técnico, a mesma deveria ter a informação que, em uma rede de computadores coorporativa, a localização do acesso não se da apenas pelo endereço do link, mas sim pelo rastreamento do equipamento utilizado, com identificação de seu MAC address ( identificador numérico atribuído a uma interface de rede (NIC), dispositivo Wi-Fi ou Bluetooth, usado como endereço físico em uma rede local). Somente através desse número único é possível afirmar o local que partiu o acesso”.
Segundo a Semad, a Prefeitura possui mais de 150 locais diversos em toda a cidade, “(sic) que pode-se utilizar de sua rede de dados, já que o link de dados é recebido no Centro Administrativo da Prefeitura e redistribuido por rede interna própria para estes locais”.
A Semad disse ainda que, após ter acesso ao inquérito policial, tomará todas as medidas necessárias para contribuir com as investigações, acrescentando que “não pactua com qualquer atitude ilegal e repudia qualquer tipo de conduta vedada na utilização das redes de computadores da Prefeitura de Divinópolis”.
Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram