Depois de ser proibida de falar do superfaturamento na educação, Laiz Soares agora está impedida de denunciar o caos na UPA 24h

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Em junho, com uma foto da criança, a mãe de Thallya, Juliana Silva Pinto, pediu ajuda na Tribuna da Câmara após criança morrer em circunstâncias misteriosas na UPA; Legislativo cruzou os braças (Foto: Reprodução/TV Câmara) – Veja reportagem publicada no dia 4 de julho

Quantas mortes suspeitas ocorreram na UPA 24h em Divinópolis nos últimos três anos? Crianças e adultos tiveram mortes misteriosas, que mereceram apenas sindicâncias da Secretaria Municipal e Saúde (Semusa), cujos relatórios nunca foram divulgados. A última morte ocorrida na unidade, cujas circunstâncias ainda não foram esclarecidas, foi da menina Thallya Beatriz, de quatro anos. Além da cobertura da imprensa local, a morte mereceu uma reportagem do Jornal O Tempo, sob o título “Em meio à superlotação, menina de 4 anos morre em UPA de Divinópolis”.   

As consequências da morte continuam obscuras e a sindicância encomendada pela Semusa declarou que não houve erro médico ou negligência no atendimento da criança, conforme denunciado pela mãe Juliana Silva Pinto, inclusive em pronunciamento na Tribuna da Câmara. Entretanto, o relatório da Comissão de Sindicância considerando que não houve nenhuma anormalidade, nunca foi divulgado.

A morte de Thallya Beatriz é apenas a ponta de um iceberg que envolve a gestão do Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp) à frente da única unidade de urgência e emergência de uma cidade com mais de 240 mil habitantes.  A solução encontrada pela administração foi a rescisão do contrato de prestação de serviços com o Instituto, o que ocorreu em julho desse ano. A rescisão contratual foi feita em meio a muitas reticências, já que a Prefeitura fez questão de inocentar o Ibrapp de qualquer responsabilidade pelas mortes ocorridas na unidade.

NA CAMPANHA

A morte da menina Thallya Beatriz, bem como outros óbitos de crianças e adultos em circunstâncias misteriosas, além da qualidade do atendimento e da superlotação da UPA, deveriam pautar as discussões na campanha eleitoral em curso. Afinal, são decisões políticas – certas ou erradas – que determinam a qualidade do atendimento da unidade que chega à população.

A candidata a prefeita, Laiz Soares (PSD), bem que tentou trazer o tema para o debate, porém, mais uma vez, foi impedida pela Justiça. Conforme o Portal do Sintram noticiou na sexta-feira (13), o Ministério Público Eleitoral havia representado ao Juiz da 102ª Zona Eleitoral, Juliano Abrantes, solicitando a retirada de um vídeo postado no Instagram da candidata, no qual uma senhora de 73 anos reclamava do atendimento da UPA.

O Ministério Público alegou que o vídeo foi impulsionado, com o pagamento de R$ 299,00 para que a publicação tivesse preferência nas buscas na internet e atingisse o maior número de pessoas. O MP alegou que a conduta é vedada pela legislação eleitoral. O juiz Juliano Abrantes, acatou a argumentação do Ministério Público e no início da noite de sexta-feira concedeu liminar determinando a retirada do vídeo das redes sociais de Laiz Saores. Diante da decisão, o vídeo foi retirado imediatamente pela campanha da candidata.

O vídeo proibido pela Justiça  Eleitoral contem o depoimento de Dona Maria da Conceição, 73 anos, residente no Bairro Jardinópolis. Veja o que Dona Maria da Conceição diz no vídeo:

Dona Maria da Conceição, 73 anos, moradora do Bairro Jardinópolis (Foto: Reprodução/Instagram)

“ (sic) A vergonha da UPA… a vergonha… falta de atenção com a pessoa pobre. Eu quero saber o que é que esse prefeito está fazendo por nós, pelo pobre? Olha, gente, eu sou moradora do bairro Jardinópolis há mais de trinta anos já. Nessa gestão aí, do prefeito aí, eu sofri muito na nossa comunidade, porque a conversa no começo, a propaganda, foi muito bonita… gritava nas redes sociais, o irmão fazia aquele alarme todo, levantava os braços: ‘que eu vou fazer isso, isso aquilo, porque nós estamos aí’. Muito bonito… o homem ganhou. A festa era bonita, a imagem era muito bonita. Então o que aconteceu foi isso, terminou o mandato e nós estamos na verdadeira porcaria, pra não dizer outro nome. Eu sou uma pessoa de 73 anos já, vou completar agora, e sou moradora do bairro Jardinópolis há 30 anos, olha que eu conheço isso aqui, tá uma vergonha, viu? Tá uma vergonha! Agora vamos ver… Sou ignorante, não tenho leitura e tudo, mas eu entendo um pouquinho. A nossa saúde tá um caos, principalmente nos bairros”.

EDUCAÇÃO

Essa é a segunda medida contra Laiz Soares por abordagem a temas que comprometem o atual governo. Há 10 dias, o juiz Juliano Abrantes Rodrigues proibiu Laiz Soares (PSD), de usar a expressão “Na educação, escândalos de superfaturamento”, em seus programas eleitorais. A decisão liminar atendeu a uma representação concedida ao candidato à reeleição Gleidson Azevedo (Novo), que entrou com um pedido de direito de resposta contra a candidata.

Além de ter proibido Laiz Soares de citar a expressão, o juiz também concedeu um minuto de direito de resposta ao candidato que se sentiu ofendido. O juiz disse na decisão liminar que a expressão na educação, escândalos de superfaturamento “traz a ideia de que Gleidson Azevedo, como prefeito de Divinópolis, pagou por preço excessivo ou irregular para adquirir bens e contratar serviços para a educação. Além de tal conduta trazer prejuízos ao patrimônio público municipal, pode ser caracterizada como infração penal, como fraude à licitação ou peculato”.

A expressão utilizada por Laiz Soares fez referência ao relatório da CPI da Educação, que em 2022 investigou compras de móveis, brinquedos e material didático pela Secretaria Municipal de Educação. A CPI concluiu que houve um superfaturamento de preços da ordem de R$ 7,1 milhões. O brinquedo playball, que integrava a relação de compradas investigadas, foi adquirido na época pela Prefeitura por R$ 9.990,00. A CPI encontrou o mesmo brinquedo por R$ 6,690,00.

A Secretaria adquiriu 120 unidades do brinquedo playball ao custo total de R$ 1,1 milhão. O que chama a atenção é que menos de dois anos após as compras, os brinquedos estão abandonados ou inutilizados.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram


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