Depois de descolorir os cabelos para comemorar a vitória do irmão, Cleitinho anuncia projeto para por fim à indústria da multa

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Em Divinópolis, multas de trânsito no governo do irmão do Cleitinho aumentaram mais de 112%

Cleitinho mostrou o "antes e o depois" de descolorir o cabelo, mas no Senado reapareceu com a cabeça raspada (Fotos: Reprodução)
Cleitinho mostrou o “antes e o depois” de descolorir o cabelo, mas no Senado reapareceu com a cabeça raspada (Fotos: Reprodução)

Depois de passar as eleições acompanhando a vitória do seu irmão Gleidson Azevedo (Novo), reeleito prefeito por mais quatro anos, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) decidiu comemorar a conquista de forma inusitada. No domingo à noite, após a divulgação dos resultados, o senador apareceu de cabelos descoloridos. No Instagram, ele postou vídeo durante sua visita a um salão de cabeleireiro para descolorir os cabelos. No vídeo, o senador mostrou o “antes e o depois” e comemorou a vitória do irmão: “Deu ‘nóis’ de novo”.

Já em Brasília, com o cabelo raspado, o senador partiu para o ataque e nesta quinta-feira (10) anunciou em seu Instagram que vai acabar com indústria das multas de trânsito no Brasil. “Vou pra cima pra acabar com essa fábrica de multas no Brasil”, escreveu. O senador explicou que “criou” um projeto que “proíbe agentes de trânsito de multarem no Brasil”. Ainda segundo o senador, a nova função dos agentes seria apenas “educar e orientar”.

As reações foram imediatas e, ao contrário do que esperava o senador, houve questionamento a respeito de sua proposta. Um dos comentários na postagem definiu o que já ocorre em Divinópolis, onde os agentes de trânsito já não exercem mais a função de fiscalização e aplicação de multas, já que as infrações agora são emitidas por meio eletrônico. “Daqui uns dias não precisarão mais dos agentes pra multar mesmo, pois estão enchendo as cidades de câmeras de videomonitoramento alegando ser pra segurança pública e utilizam das mesmas apenas para multar”, observou um internauta.

Já outro foi mais adiante e questionou: “Quem comete crime de trânsito ou atropela alguém, pois estava mexendo no telefone? Vai ser só orientado a não fazer novamente, né?”. Outro observou: “A Máfia está nos radares. E não nos agentes”.

DIVINÓPOLIS

O projeto do senador Cleitinho, segundo o próprio, pretende acabar com as multas de trânsito. O discurso populista é o mesmo do irmão prefeito, Gleidson Azevedo, que já se declarou contra a penalização de motoristas infratores. Porém, a realidade confirma os falsos discursos. Um levantamento do Sistema do Serviço Federal de Processamento de Dados – Serpro, empresa responsável pelo processamento das multas aplicadas em Divinópolis, mostra que o discurso é um e a prática é outra. Em Divinópolis, nos primeiros quatro meses de 2024, houve um aumento de 112,98% no volume de multas de trânsito em relação ao mesmo período do ano passado.

Em 2023, nos quatro primeiros meses do ano, foram aplicadas 5.136 multas. Esse ano, no mesmo período, foram 10.939 autuações de infrações de trânsito.  Somente no mês de abril foram aplicadas 3.453 multas, média de 115,1 multas por dia. A média mensal de multa nos primeiros quatro meses de 2023 foi de 1.284, enquanto a média mensal no mesmo período de 2024 foi de 2.735 penalizações por infração de trânsito.

AGENTES DE TRÂNSITO – Na semana passada, os agentes de trânsito de Divinópolis divulgaram uma carta aberta à população, explicando o número excessivo de multas em 2024. “Nos últimos meses, temos observado um aumento significativo no número de multas de trânsito em nossa cidade. Gostaríamos de esclarecer que a acusação de que os agentes de trânsito estão realizando uma perseguição política é caluniosa e infundada. Esse aumento não está relacionado a questões políticas, mas sim à implementação do sistema de estacionamento rotativo eletrônico, conhecido como Vaga Azul”, diz a carta.

De acordo com os agentes “houve um erro na divulgação de como seria o funcionamento do aplicativo Vaga Azul em relação à adoção do débito automático. A prefeitura informou que essa medida garantiria que os motoristas não seriam autuados, mas, na verdade, isso não é garantido pelo princípio da fiscalização pública”.

A carta aberta dos agentes explica, ainda, que “essa informação do débito automático induziu os motoristas ao erro, causando um grande número de multas que poderiam ter sido evitadas se a secretaria tivesse informado de forma correta. Essa responsabilidade é da direção da Settrans e não da fiscalização”.

Os agentes lembram, ainda, “que a administração da secretaria de trânsito é de responsabilidade do prefeito, e qualquer ação adotada passa pelo aval dele. Portanto, o fato de o prefeito atribuir a responsabilidade exclusivamente à fiscalização é um desvio de responsabilidade, pois é ele quem dirige a cidade e supervisiona todas as ações administrativas”.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram


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