CPI da Cemig investiga atuação do partido de Romeu Zema no desmonte da estatal para facilitar sua privatização

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A CPI da Cemig, instaurada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para investigar o possível desmonte da companhia para facilitar sua privatização, avançou nas duas últimas semanas ouvindo dois importantes depoimentos. No dia 11, a CPI ouviu o presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho.  O papel do diretor-presidente da Companhia, na suposta estratégia de desmonte e descrédito da empresa com o objetivo de viabilizar politicamente a sua privatização, deu o tom da reunião.

Presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho em depoimento à CPI

Diversos deputados questionaram a racionalidade e a legalidade de uma série de decisões administrativas em que o depoente esteve envolvido, a começar por sua escolha pela Exec, empresa de headhunter (seleção de executivos) supostamente ligada a dirigentes do Partido Novo, o mesmo do governador Romeu Zema.

Ao responder aos questionamentos do relator da CPI da Cemig, deputado Sávio Souza Cruz (MDB), o presidente da estatal admitiu que, por orientação da Exec, teve de se submeter a uma entrevista ao empresário João Amoêdo, fundador e candidato a presidente pelo Novo em 2018, antes mesmo de ter suas credenciais checadas pela Cemig e ter conhecido o governador.

Uma das principais linhas de investigação da CPI da Cemig dá conta de que Reynaldo Passanezi seria apenas um preposto para romper resistências internas e externas e pôr em prática o plano do governo estadual de privatizar a estatal, conforme intenção exposta em diversas manifestações públicas do governador.

Entre outros temas polêmicos, ao final de quase quatro horas de depoimento, o presidente da Cemig admitiu a possibilidade de participar de uma acareação com o ex-diretor-adjunto de Suprimentos, Logística e Serviços Corporativos da Cemig, João Polati Filho.

A sugestão foi do relator Sávio Souza Cruz, em alusão a denúncia recebida pela CPI em depoimento colhido em setembro do ano passado. Na ocasião, João Polati relatou aos deputados ter sido insistentemente pressionado pelo superior a “encontrar uma forma” de manter a empresa AeC no call center da companhia energética do Estado, mesmo após ela ter perdido a licitação para o serviço.

A AeC foi fundada pelo então secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico do governador Romeu Zema, Cássio Azevedo, já falecido, o que seria mais um indício do cerco partidário à Cemig. “Eu nego. Seguramente jamais fiz isso”, afirmou Reynaldo Passanezi.

Segundo o já apurado pela CPI da Cemig, e lembrado no depoimento desta sexta (11), os serviços remunerados da Exec também teriam sido utilizados em outras ocasiões pela estatal para contratação de outros executivos, e, em alguns casos, teriam sido contratados os indicados pelo presidente Reynaldo Passanezi, conforme admitiu.

DIRIGENTE DO PARTIDO NOVO

Empresário Evandro Negrão de Lima, dirigente do Partido Novo, depõe à CPI

Em depoimento nesta terça-feira (15) à CPI o empresário Evandro Negrão de Lima, dirigente do Partido Novo, tratou com naturalidade a sua participação no processo de escolha do atual presidente da estatal, como uma espécie de consultor. No entanto, essa não foi a mesma avaliação da maioria dos membros da comissão, que questionaram a legitimidade de alguém sem qualquer vínculo formal com o governo ou a empresa para participar desse tipo de decisão estratégica.

O envolvimento do empresário, vice-presidente do diretório estadual do Novo, na seleção de Reynaldo Passanezi Filho para o comando da Cemig levanta suspeitas sobre a ingerência e o uso político da companhia pelo partido, uma das linhas de investigação da CPI.

Evandro Lima indicou a headhunter (empresa de seleção de executivos) Exec para a escolha do presidente, solicitou e recebeu em seu nome um orçamento do serviço, negociou valores em nome da estatal e participou das entrevistas dos candidatos.

Evandro Lima admitiu ter participado da escolha do presidente da Cemig, mas negou ter poder de decisão na estatal. Ele disse não ter nenhum poder de decisão na Cemig, tendo participado apenas da escolha do seu presidente, a pedido do então secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Cássio Azevedo, já falecido.

Ele confirmou que integrou a equipe de transição do governo, também de maneira informal e sem remuneração, e que participou de avaliações de postulantes ao secretariado, mais uma vez levadas a cabo pela Exec, que tem entre seus sócios integrantes filiados ao Novo.

Quanto a pesquisa realizada pela Cemig que teria apontado a sua diretoria como a de pior avaliação da história da empresa, disse que ela mede apenas o engajamento das pessoas com as atividades propostas pela estatal, não constituindo uma ferramenta de opinião dos funcionários.

Fonte: ALMG
Fotos: Guilherme Dardanhan/ALMG

 

 

 

 


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