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Governo Zema coloca o Estado a venda para pagar dívida contraída por Newton Cardoso e que cresceu 8% no atual governo

Governo Zema coloca o Estado a venda para pagar dívida contraída por Newton Cardoso e que cresceu 8% no atual governo

Zema ignora oposição e continua seu projeto de venda do patrimônio do Estado (Foto: Reprodução/SEF-MG)

Embora a situação não seja tratada na Assembleia Legislativa de Minas Gerias (ALMG) com a transparência necessária, a situação financeira do Estado está longe do equilíbrio. Nos últimos anos, o crescimento da dívida com a União obrigou cortes em investimentos e nos últimos quatro anos, o Estado registra altos déficits orçamentários.

De acordo com Gabriela Abreu, da Secretaria do Tesouro Nacional, os R$ 165 bilhões da dívida mineira foram contraídos por empréstimos internos e internacionais, precatórios, reestruturação e parcelamento de débitos com a União e outras dívidas não vinculadas a instituições financeiras. Ou seja, a dívida que está colocando o Estado perto da inviabilidade foi contraída por irresponsabilidade do governo do Estado ao longo dos últimos 25 anos. Agravou-se no atual governo com um crescimento de 8% nos últimos. Gabriela Abreu informa, ainda, que a dívida do Estado cresceu 36% de 1990 a 2023, enquanto a inflação acumulada no mesmo período foi de 31,7%.

Os empréstimos foram contraídos de 2008 a 2013 nos governos de Aécio Neves e Antônio Anastasia e somam juntos, em valores contratados, U$$ 6,1 bilhões. Em relação à dívida com a União, Minas possui quatro refinanciamentos, com um valor total de R$ 141 bilhões. A origem desses contratos remonta aos anos 1990, quando foram assinados pelo então governador Newton Cardoso para honrar dívidas mobiliárias e sanear bancos estaduais que seriam posteriormente privatizados. Em 2017, com a instituição do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), e 2022, para o financiamento de parcelas com o pagamento suspenso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), houve mais duas repactuações.

Com os juros e encargos previstos, a dívida com a União saltou de R$ 18,6 bilhões em 1998 para os R$ 141 bilhões e, 2023. Um dos pontos de maior controvérsia desses contratos foi o fator de correção definido: o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), indicador que sofre grande influência do câmbio, mais juros de 6 a 7,5% ao ano, dependendo do valor da amortização.

De acordo com a Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), “atualmente Minas paga parcelas mensais de aproximadamente R$ 200 milhões da dívida, totalizando R$ 6,7 bilhões pagos até o momento”. A Fazenda aposta na aprovação do novo projeto de renegociação da dívida dos estados com a União, o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O projeto já foi aprovado no Senado e na semana passada foi nomeado o deputado Doutor Luizinho (PP-RJ), relator da matéria na Câmara, onde tramita em regime de urgência. “Se esse projeto for aprovado e entrar em vigor, Minas fará a adesão ao novo modelo, migrando do RRF para o Propag”, explicou a SEF/MG.

Com os juros e encargos previstos, a dívida com a União saltou de R$ 18,6 bilhões em 1998 para os R$ 141 bilhões em 2023. Um dos pontos de maior controvérsia desses contratos foi o fator de correção definido: o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), indicador que sofre grande influência do câmbio, mais juros de 6 a 7,5% ao ano, dependendo do valor da amortização.

VENDA DO ESTADO

Depois de elevar o valor da dívida de Minas com a União em mais de 8% e contrair novos financiamentos, o governo Zema está praticamente colocando o Estado a venda para tentar sanear o déficit público estadual. As principais estatais mineiras, de maior lucratividade, estão prontas para serem vendidas. Na ALMG já tramita o projeto que autoriza a venda da Cemig e da Copasa. O governo Zema já anunciou que venderá ainda a Gasmig (Companhia de Gás de Minas Gerais) e a Prodemge (Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais).

ESCOLAS

Mais grave, ainda, é o que está para acontecer com as escolas da rede pública estadual. Primeiro o governo Zema tentou municipalizar a rede pública estadual, passando a responsabilidade de manutenção e gestão para as Prefeituras. O chamado Projeto Mãos Dadas fracassou, com a adesão de pouco mais de 160 municípios, todos com menos de 30 mil habitantes. A segunda investida de Zema é terceirizar as escolas, entregando gestão total para organizações sociais. O processo está momentaneamente suspenso por uma decisão liminar do Tribunal de Contas do Estado.

Serviços de saúde também estão na mira da terceirização, como você verá nesta reportagem.

Reportagem: Jotha Lee
Comunicação Sintram

Zema vira sua metralhadora giratória de terceirizações para o sistema de saúde dos servidores do Estado

Zema vira sua metralhadora giratória de terceirizações para o sistema de saúde dos servidores do Estado

Comissão da ALMG visita o Ipsemg para ouvir sobre projeto de terceirização de Zema (Foto: Guilherme Bergamini/ALMG)

As motivações e as consequências de uma possível terceirização dos serviços de imagem no Hospital Governador Israel Pinheiro, pertencente ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), foram destacadas durante visita da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) à unidade de saúde.

A visita, liderada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), percorreu as instalações do setor de radiologia do Hospital do Ipsemg e ouviu servidores e gestores da unidade hospitalar. Entre os principais problemas apresentados, estão a quantidade reduzida de profissionais especializados e a falta de manutenção do parque tecnológico do setor.

“Problemas existem muitos, o que estamos buscando são soluções”, afirmou a gerente técnica hospitalar Marcela Vianna. Conforme explicou, a concessão dos serviços de imagem, que incluem a realização de raio x, ultrassom, tomografia e ressonância, ainda é uma possibilidade em estudo pela direção do hospital. “Não existe nenhum modelo já implementado”, informou.

Segundo os gestores que acompanharam a visita, embora já exista um temor sobre a terceirização, ainda não há um termo de referência construído que estipule quais serviços seriam terceirizados e de que forma.

“O que existe hoje é um termo de designação, com o objetivo de definir um grupo de servidores da área que vão participar ativamente da construção desse processo de contratação. Ela não está nem definida”, assegurou a chefe do Departamento de Apoio diagnóstico, Maristela lopes, ao admitir que os serviços serão terceirizados.

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

A médica radiologista Fernanda Monteiro questionou a falta de transparência e informações sobre o processo: “o que chegou pra gente é ‘vamos terceirizar’ e não ‘vamos resolver o problema’”, disse ela. “Esse lugar faz parte da minha vida. Recebi com muita tristeza a notícia da terceirização.”

Para ela, as etapas da contratação estariam sendo subvertidas. “Precisamos primeiro fazer um estudo técnico, levantar os problemas, as soluções, os custos, para então tentar ver qual seria a melhor opção”, argumentou.

A deputado Beatriz Cerqueira disse que não há mesmo informações sobre o processo. “A gente vem aqui e tem que ficar puxando os dados. Qual o diagnóstico que foi feito? Qual o cronograma? As pessoas estão assustadas porque não sabem o que vai acontecer”, disse Cerqueira.

Para sindicalistas, substituição de efetivos por terceirizados não seria solução. “Os problemas da radiologia serão resolvidos com a terceirização? Não seria somente o caminho mais fácil?”. O questionamento partiu do vice-presidente do Sindicato dos Profissionais das Técnicas Radiológicas de Minas Gerais (Sinditraux-MG), Ricardo Macedo.

Para o sindicalista, a qualidade da oferta de serviços está intimamente ligada com o tipo de profissional que está no atendimento. “O terceirizado não tem vínculo institucional, não tem o amor pela instituição como o servidor público tem”, disse.

A presidente do Sindicato dos Servidores do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Sisipsemg), Antonieta Faria, afirmou que a experiência demonstra que a contratação de profissionais terceirizados para serviços especializados não é uma boa escolha.

“As pessoas entram, ficam insatisfeitas e vão embora. Ou elas vêm aqui para treinar, porque são recém-formadas e não conseguem emprego sem experiência. Elas se preparam aqui e vão para outros serviços com salários melhores, sem nenhum compromisso com a casa”, explicou.

Por não possuir especialização formal, a técnica de enfermagem Shirley Amaral teme que sua categoria possa ser realocada de setor e substituída por terceirizados. Para ela, a solução não traria nenhuma economia para o Estado. “Se me realocarem, vai ser um gasto a mais, pois continuarão pagando meu salário em outro lugar e um novo profissional aqui”, defendeu.

A ESPERA DE NOMEAÇÃO

Atualmente, o serviço de radiologia do Hospital do Ipsemg possui 78 servidores efetivos, 23 credenciados e 13 pertencentes à empresa pública Minas Gerais Administração e Serviços (MGS). Eles são responsáveis pela realização de uma média de 150 a 170 exames de raio-x e 60 tomografias por dia, o que torna o quadro de profissionais insuficiente.

A assessora jurídica do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Mariana Waller, lembrou que em outubro de 2023 foi homologado o concurso para contratação de médicos radiologistas. “Existem 20 classificados e foram chamados somente dois. Embora a gente esteja no limite prudencial do Estado segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal, é possível, sim, convocar desde que haja vacância desses cargos”, explicou.

O argumento foi complementado pela sindicalista Antonieta Faria: “só os óbitos ocorridos nos últimos anos preencheriam essas 20 vagas, fora as exonerações e aposentadorias. Não existe argumento para não termos mais servidores efetivos”.

A advogada Mariana Waller aponta, contudo, que a falta de atrativos na carreira seria um desafio. “Se convoca, a gente entra numa outra questão. Porque se não tiver sendo atrativo, ainda que os concursados sejam chamados, eles não vão permanecer”.

As más condições da carreira como um ponto de impermanência de efetivos foi levantada por outros participantes da visita, entre servidores e representantes sindicais.

A deputada Beatriz Cerqueira lamentou que o Projeto de Lei (PL) 2.238/24, do governador Romeu Zema (Novo), que altera valores da contribuição para o Ipsemg, não faça nenhuma menção à carreira dos servidores nas mudanças que propõe para o instituto. Ela finalizou a visita reforçando os esforços da ALMG nas discussões sobre o projeto: “Estamos na luta gigantesca para fortalecer o Ipsemg e ela não pára por aqui”, concluiu.

Com informações da ALMG