Agência Nacional de Energia Elétrica registrou mais de duas mil reclamações contra a Cemig em seis meses

As 15h10 do domingo (11 de agosto) o fornecimento de energia elétrica foi interrompido na região do Bairro Mangabeiras. O abastecimento foi normalizado as 16h20. Uma semana depois, neste domingo (18), o fornecimento foi novamente interrompido. O corte ocorreu das 14h09 e a energia foi restabelecida as 14h29.
Moradores da Rua Cairo relatam que a situação é recorrente. O proprietário de um pequeno estabelecimento comercial situado na via, conta que os cortes de energia são recorrentes e quase contínuos. “Praticamente todos os dias acontece piques de energia rápidos, outros mais prolongados, mas esse problema aqui é antigo. A Cemig não consegue resolver isso”, afirma.

Nas redes sociais os moradores pediram apoio à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), agência reguladora federal que monitora as empresas distribuidoras de energia em todo o país. No último dia 8, a Agência apresentou o projeto Radar, um sistema que vai monitorar, em tempo real, as interrupções no fornecimento de energia elétrica em todo o país.
Segundo a Aneel, qualquer cidadão poderá visualizar, por meio do aplicativo ou no site da Agência, o número de consumidores sem energia elétrica em sua região, com atualizações em tempo real. “O Radar representa uma mudança de paradigma. É um compromisso com a transparência, com a informação clara, com o tempo de resposta e, acima de tudo, com o consumidor”, afirma o Diretor-Geral da Aneel, Sandoval Feitosa.
A adoção plena do sistema pelas distribuidoras deve ocorrer até janeiro de 2026. A Agência ressalta que o sistema já está funcional e que o prazo de transição foi concedido para que as distribuidoras adequem seus sistemas à transmissão automática, segura e auditável das informações.
APAGÕES
Em quase todas as regiões de Minas Gerais, há problemas no abastecimento de energia. O Ministério Público já instaurou vários procedimentos contra a companhia, principalmente pelos cortes de energia, como ocorreu, por exemplo, em João Pinheiro, onde foi aberta uma Ação Civil Publica para que a concessionária seja obrigada a adotar medidas para solucionar as constantes falhas no fornecimento. O MP pediu a condenação da Cemig por danos morais coletivos no valor de R$ 140 milhões, o que corresponde a R$ 3 mil por habitante.
Segundo a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de João Pinheiro, os constantes apagões vêm ocorrendo desde pelo menos 2021, quando começaram a chegar os registros do problema, sem que a Cemig, após comunicada, tenha tomado providências efetivas para o seu saneamento. “Essas localidades vêm sofrendo com interrupções sistemáticas e prolongadas no fornecimento de energia, sem aviso prévio aos consumidores, causando graves transtornos à coletividade”, afirmou o promotor de Justiça Flávio Barreto Feres.
O caso de João Pinheiro é um entre muitos que estão sendo acompanhados pelo MP. De janeiro de 2024 a abril desse ano, o órgão abriu 51 procedimentos contra a Cemig, dos quais 24 ainda não foram concluídos.
A pedido do Portal do Sintram, a Aneel fez um levantamento do número de reclamações contra a Cemig por falta de energia e interrupções frequentes. A Agência informou que , de janeiro a julho desse ano, recebeu 2.103 reclamações contra a companhia por problemas no abastecimento. Ainda segundo a Aneel, 20 reclamações foram feitas por consumidores residentes em Divinópolis.
RECLAME AQUI

O site Reclame Aqui, plataforma on line onde consumidores podem avaliar e reclamar sobre produtos e serviços de empresas, informa que nos últimos seis meses foram registradas 4.554 reclamações contra o desempenho da Cemig. De acordo com o site, 28,71% das reclamações são por falhas no abastecimento e 24,8% pela demora na execução dos reparos.
Os cortes no fornecimento de energia, em quase sua totalidade, são motivados por falha da Cemig, entretanto há alguns casos que o corte ocorre por problemas externos. Entretanto, a demora na religação da energia mostra a deficiência do serviço da companhia.
É o que aconteceu em Nova Serrana, no dia 16 desse mês. Um microempreendedor, dono de um salão de cabeleireiro, relata que o fornecimento de energia foi interrompido as 11h20 e o restabelecimento do serviço ocorreu as 14h40. “Liguei várias vezes para a Cemig e minha esposa e eu perdemos muitos clientes no salão. Por pouco eu perdia cinco caixas de injeção que eu uso para espodilite anquilosante [inflamação crônica na coluna vertebral] que o governo me fornece e que custa R$ 16 mil a caixa. Todas as vezes que liguei [para a Cemig] eu informei sobre as injeções que precisavam de refrigeração mas os atendentes só falavam que a equipe já estava a caminho”, relatou.
Nesse caso de Nova Serrana, o corte de energia foi provocado por uma pipa, problema recorrente nas áreas urbanas, onde crianças e adolescentes insistem em usar o brinquedo no meio da rede elétrica.
Em Belo Horizonte, o site Reclame Aqui registrou uma situação de total desrespeito com o consumidor. No dia 12 de agosto uma dona de casa fez o seguinte relato: “Gostaria de registrar um descaso com o ser humano. A Cemig cortou a energia da casa do meu pai, um senhor de 83 anos, acamado, na sexta feira , dia 08/08. A conta foi paga no mesmo dia. Solicitamos a religação no mesmo dia. E até hoje [12/08] a energia não foi religada . Meu pai está no escuro e sem banho, sem condições nenhuma de continuar . Peço pelo amor de Deus me ajudem. Pois é um absurdo, um descaso”.
DIVINÓPLIS
No caso específico do Bairro Mangabeiras em Divinópolis, vários consumidores confirmaram os cortes de energia recorrentes. De acordo com os relatos, praticamente todos os dias ocorrem piques rápidos. Os cortes de energia mais prolongados também ocorrem com frequência. “Pelo menos duas vezes por mês agente fica sem energia por longo período”, conta um comerciante.
O Portal do Sintram pediu esclarecimentos à Cemig sobre os cortes de energia no Bairro Mangabeiras e aguarda retorno.
Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação