Autor: Jota

Na raça, motoristas do transporte coletivo urbano conquistam aumento linear de 21% entre salários e benefícios

Na raça, motoristas do transporte coletivo urbano conquistam aumento linear de 21% entre salários e benefícios

Depois da paralisação, o transporte coletivo voltou a operar na manhã desta terça-feira (Foto: Jotha Lee/Sintram)

Um balanço apresentado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários e Urbanos de Divinópolis (Sinttrodiv) aponta que pouco mais de 300 motoristas que prestam serviços às empresa do Consórcio Transoeste, que detém a concessão do transporte público em Divinópolis, aderiram à paralisação deflagrada pela categoria nesta segunda-feira (10). Ainda de acordo com o balanço, 107 motoristas prestam serviços à Trancid, empreesa que detém mais de 95% das linhas urbanas.

A paralisação da categoria ocorreu desde as primeiras horas da manhã em reivindicação a aumento salarial para cobrir as perdas dos últimos anos. Os motoristas decidiram assumir o risco da paralisação, já que na sexta-feira (7) o presidente do Sinttrodiv, Erivaldo Adami, havia anunciado que não haveria greve nesta segunda-feira, contrariando uma decisão tomada em assembleia. A declaração de Erivaldo Adami aconteceu logo após uma reunião com o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) e representantes das empresas que integram o consórcio.

O movimento dos motoristas pegou a população de surpresa, porém teve apoio dos usuários do transporte público que acompanham as dificuldades enfrentadas pela classe há anos. O que chamou a atenção foi o oportunismo dos carros de aplicativos, que passaram a cobrar valores estratosféricos pelas corridas, chegando ao absurdo de uma viagem entre o bairro Nova Fortaleza e o Centro custar até R$ 74.

O ACORDO

Apesar das pressões, inclusive com as ameaças da Prefeitura de pedir a ilegalidade da greve, os motoristas não retornaram ao trabalho. Durante todo o dia a cidade ficou sem transporte público e somente no final da tarde houve um acordo, o que permitiu o retorno normal do serviço na manhã desta terça-feira (11).

O acordo foi fechado com um reajuste salarial de 17,64% para todos os trabalhadores do transporte coletivo, elevando o piso salarial dos motoristas para R$ 3 mil. O vale alimentação subiu de R$ 500 para R$ 700. As empresas também se comprometeram a cumprir todos os acordos da convenção coletiva, incluindo um adicional de 15% sobre os salários dos motoristas para cobrir a ausência dos trocadores, função que foi retirada de todas as linhas.

Segundo o Sinttrodiv, a remuneração mínimo do motorista, com todos os benefícios, sobe para R$ 4.150,00. Ainda de acordo com o sindicato “linearmente, incluindo o vale alimentação e o salário, o reajuste chegou a 21%”.

De acordo com o advogado do Sinttrdovi, Marcelo Cristian, a categoria ainda continua reivindicando as perdas salariais. “Acreditamos que foi um bom aumento, mas ainda continuaremos lutando pela recomposição no próximo ano, haja vista a grande defasagem ocorrida nos últimos anos”, declarou.

Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação

Vereador pede CPI para apurar o complemento tarifário pago pela Prefeitura às empresas de transporte público

Vereador pede CPI para apurar o complemento tarifário pago pela Prefeitura às empresas de transporte público

Maioria da Câmara mostra seu lado ao se posicionar contra os motoristas do transporte coletivo urbano

Durante reunião na Câmara para buscar uma solução para a greve dos motoristas, a maioria dos vereadores mostrou que tem lado, o lado do prefeito (Foto: Dirertoria de Comunicação/CMD)

A paralisação de um dia dos motoristas do transporte coletivo ocorrida nesta segunda-feira (10) desnudou de vez a subserviência da Câmara Municipal ao Executivo. A intervenção do Legislativo em uma questão que afetou a cidade foi desprezível e teve como foco blindar o Executivo e tentar imputar aos motoristas do transporte urbano a responsabilidade pelo caos que se instalou na cidade com a paralisação da frota.

No final da tarde, o presidente da Câmara, Israel da Farmácia (PP), convocou uma reunião com todos os vereadores, sob o pretexto de intermediar uma eventual negociação. Durante a reunião muitos vereadores preferiram acusar os motoristas de causar prejuízos à população, ao iniciar um movimento grevista que, segundo a Câmara, não foi anunciado em tempo hábil.

A reunião foi aberta pelo presidente da Câmara que de imediato criminalizou o movimento. Na abertura do encontro, o serviçal do prefeito disse que a greve era ilegal.

VEJA O POSICINAMENTO DOS VEREADORES

Um dos primeiros a se posicionar foi Whashington Moreira, eleito para seu primeiro mandato pelo Solidariedade. De imediato, ele atacou os motoristas, afirmando que a população foi desrespeitada. “Acho um desrespeito com a população, que teve que ir a pé para o trabalho hoje ou que pagou Uber com valores altos pra não perder o emprego e ficou prejudicada”, disse o vereador.

O vereador Rodyson do Zé Milton (PV) disse que a Câmara não é contra os motoristas e em seguida afirmou que não concordava com a forma como foram conduzidas as negociações em relação ao repasse do Consórcio Transoeste [complemento tarifário] com o reajuste solicitado pela classe.

Anderson da Academia (Republicanos) também se mostrou contra os motoristas. “Precisamos focar nos riscos que os cidadãos que não tem condições de ir trabalhar de Uber e que faltaram ao trabalho hoje e podem até ser demitidos por causa da ausência no serviço”, disse ele. Walmidr Ribeiro, do PL, atacou o movimento, afirmando que pelo menos 30% da frota deveriam estar rodando.

CPI DO SUBSÍDIO

Dois vereadores propuseram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o complemento tarifário que anualmente a Prefeitura repassa ao Consórcio Transoeste para subsidiar o congelamento da tarifa. De 2021 até o final desse ano, a Prefeitura já terá repassado R$ 29,6 milhões para subsidiar as empresas.

O assunto surgiu durante a reunião dos vereadores, já que o aumento salarial dos motoristas, segundo as empresas, não era possível uma vez que o complemento tarifário cobre menos da metade dos custos operacionais. O empresário Edilson Luiz, da empresa Braulino, disse que o subsídio é insuficiente para cobrir o transporte rural. “O repasse é feito pelo Consórcio, porém o percentual referente ao transporte rural não condiz com os custos dos veículos, que fazem essas linhas rurais. Por isso, o transporte coletivo precisa ser diferenciado da zona rural”, disse ele.

O líder do prefeito na Câmara, vereador Ney Burguer (Novo), apresentou os valores que a Prefeitura já repassou esse ano ao Consórcio Transoeste. Segundo ele,  a Braulino recebeu R$ 120 mil; VidaTur,  R$ 60 mil; Transpratur, R$ 200 mil; e Trancid, R$ 3 Milhões. “A quantia foi repassada e se a distribuição não foi feita adequadamente, isso precisa ser investigado de perto, pois o município fez a parte dele”, disse o líder do prefeito.

Os vereadores Matheus Dias (Avante) e Wellington Well (Progressistas) fizeram acusações diretas às empresas ao afirmar que os motoristas estão sendo usados como massa de manobra política das empresas junto ao Sindicato. No entendimento dos dois vereadores, as empresas usam os motoristas para tirar mais dinheiro do município. O vereador Well disse que é preciso uma CPI para investigar o complemento tarifário. “Sou a favor de abrirmos uma CPI para verificar essas questões dos repasses”, afirmou.

Nenhum vereador teve coragem de cobrar o Executivo por medidas contra as empresas. A Prefeitura é o poder concedente do transporte público, portanto é a responsável pela qualidade do serviço prestado à população. Entretanto os vereadores, 16 deles declaradamente governistas, não tiveram coragem e nem dignidade para cobrar o prefeito Gleidson Azevedo. 

Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação