“Ainda Estou Aqui”  reabre a ferida da ditadura militar e é indicado ao Globo de Ouro

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Fernanda Torres é indicada ao prêmio de Melhor Atriz e concorre com Angelina Jolie e Nicole Kidman

Dirigido por Walter Salles, o filme “Ainda Estou Aqui”  foi indicado ao prêmio Globo de Ouro de filme de língua estrangeira. O Globo de Ouro é a premiação mais importante depois do Oscar. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman.

Ainda Estou Aqui” narra a vida da família Paiva – a mãe, Eunice, e os cinco filhos – após o desaparecimento do marido de Eunice, o deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar. O longa  é o filme escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para ser o representante brasileiro a concorrer à indicação ao Oscar 2025. O filme foi recebido com comoção pelas plateias do mundo inteiro e premiado em vários festivais internacionais, levando o prêmio de melhor roteiro no festival de Veneza, onde foi aplaudio por 10 minutos.

O filme é baseado no livro biográfico do jornalista Marcelo Rubens Paiva, filho caçula de Eunice e Rubens Paiva. Lançado em 2015, o livro conta a história da mãe dele, símbolo da luta contra a ditadura, que viveu até 2018, e morreu aos 86 anos, com Alzheimer.

Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, criou os cinco filhos e se tornou advogada de direitos humanos e indígenas após a prisão e o desaparecimento do marido, em 1971, durante a ditadura, no Rio de Janeiro.

QUEM FOI RUBENS PAIVA

Deputado Rubens Paiva (Foto: Arquivo de Família)

Interpretado no filme por Selton Melo, Rubens Beyrodt Paiva  nasceu em Santos em 26 de dezembro de 1929. A data da morte dele, ninguém ainda sabe precisar, tendo ocorrida no Rio de Janeiro, entre 20 e 22 de janeiro de 1971. Paiva foi um engenheiro civil e político brasileiro dado como assassinado durante a ditadura militar no país.

Foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. Seu corpo foi enterrado e desenterrado diversas vezes por agentes da repressão até ter seus restos jogados ao mar, na costa da cidade do Rio de Janeiro, em 1973, dois anos após sua morte.

É um dos casos investigados pela Comissão Nacional da Verdade, que confirmou o assassinato de Paiva cerca de 40 anos após seu desaparecimento e que apura outras mortes e desaparecimentos durante a ditadura militar brasileira.

Às vésperas do golpe militar de 1964, o deputado Rubens Paiva fez um duro discurso contra os militares, que tomaram  o poder no dia 31 de março. No dia seguinte, Paiva teve seu mandato cassado e foi exilado. Após o exílio, mesmo sem mandato, Rubens Paiva retornou ao Brasil e continuava ajudando os perseguidos pela ditadura. Ele recebida em sua casa cartas de brasileiros exilados e as entregava aos familiares no Brasil. Foi descoberto em janeiro de 1971 foi tirado de sua casa por um pelotão miltar, levado para depor em um quartel e não voltou nunca mais.

EUNICE PAIVA

Eunice Paiva na interpretação comovente de Fernanda Torres (fotos: Reprodução)

Nos anos 1970, o Brasil enfrentava a brutal repressão da ditadura militar. Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres em sua juventude e por Fernanda Montenegro em uma fase mais madura, viveu os horrores dessa repressão. Casada com o deputado federal Rubens Paiva, Eunice viu sua vida mudar radicalmente quando seu marido foi sequestrado, torturado e assassinado por agentes da ditadura em 1971. Rubens foi preso em casa, na frente da família, e levado para o DOI-CODI, onde sua morte foi encoberta por anos. O desaparecimento de Rubens Paiva foi oficialmente reconhecido apenas décadas depois, em 2014, por meio do relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Mesmo diante da tragédia, Eunice Paiva não se deixou abater. Mãe de cinco filhos, ela lutou incansavelmente para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com seu marido. Ao longo dessa jornada, enfrentou as autoridades da ditadura e se dedicou à busca por justiça. A luta de Eunice tornou-se não apenas uma batalha pessoal, mas um símbolo de resistência contra a opressão, sendo fundamental na campanha para o reconhecimento das mortes e desaparecimentos ocorridos durante o regime.

Depois da prisão e assassinato de Rubens, Eunice transformou sua dor em ação. Ela voltou aos estudos, formou-se em Direito e passou a atuar na defesa dos direitos dos povos indígenas e outras causas sociais. Sua dedicação e coragem foram decisivas para mudanças importantes no cenário político brasileiro, especialmente na Constituinte de 1988, quando participou ativamente da formulação dos direitos das populações indígenas.

O filme “Ainda Estou Aqui” destaca essa luta de Eunice não só contra o regime militar, mas também contra as próprias adversidades da vida. Nos últimos anos, ele enfrentou a doença de Alzheimer, que trouxe outro nível de complexidade ao drama da família. Mesmo assim, seu legado de força e resiliência permanece vivo.

CASO REABERTO

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) reabriu na semana passada o processo para investigar o assassinato do ex-deputado federal e engenheiro civil Rubens Paiva. Ele foi preso, torturado e morto pela ditadura militar em 1971. Tido como desaparecido por 40 anos, teve a morte confirmada em decorrência dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, concluída em 2014.

Na época, ainda em 1971, o caso foi arquivado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), que cumpria função semelhante ao CNDH. A votação ficou empatada e coube ao presidente do Conselho, o então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, o voto de desempate para arquivar o caso. Anos depois, ainda no período da ditadura, a representante da Associação Brasileira de Educação (ABE) disse que votou pelo arquivamento por ter sido pressionada por outros membros do conselho e por militares.

Com informações da Agência Brasil


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