Adélia Prado recebe Prêmio Camões, mas não comparece à solenidade em Brasília

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Escritora diz que “não tem o que falar” sobre a premiação de 100 mil euros

Aos 89 anos, Adélia Prado conquista mais um prêmio literário (Foto: Reprodução/TV Assembleia)

Terceira mulher brasileira a conquistar o maior prêmio da literatura para escritores de língua portuguesa, a divinopolitana Adélia Prado não compareceu à solenidade de entrega do certificado ocorrida na noite desta terça-feira (18), no Itamaraty, em Brasília. Esse ano, Adélia Prado completa 89 anos .

Adélia Prado foi laureada, na noite desta terça-feira (18), com o Prêmio Camões 2024, a mais alta distinção literária da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A reunião do júri que premiou Adélia ocorreu no dia 26 de junho do ano passado. Dois dias após sair o resultado, no dia 28 de junho do ano passado, Adélia Prado postou um curto vídeo em seu Instagram falando sobre a premiação. “Quando a gente não tem o que dizer, a gente não fala nada, né? Eu sou quero [dizer] muito obrigada, que vocês recebam um muito obrigada e que sejam inundados pelo amor que vocês me transmitem (…) Eu agradeço a Deus por isso e passo a vocês essa felicidade

Além de Adélia Prado, as outras duas escritoras brasileiras a receber o prêmio foram Ligya Fagundes Teles e Rachel de Queiróz.

A PREMIAÇÃO

O presidente de Portual, Marcelo Rebelo, o presidente Lula, e o filho de Adélia, Eugênio Prado, que representou a escitoria no evento (Foto: Reprodução/TV Gov.br)

Adélia recebeu o prêmio em cerimônia realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília. A escritora mineira foi representada pelo filho, Eugênio Prado. A ausência de Adélia Prado em um dos prêmios mais relevantes da literatura mundial não foi explicada durante o evento.

O diploma de reconhecimento foi entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, em evento que integrou a visita de Estado do mandatário português ao Brasil.

O presidente Lula destacou em seu discurso a relevância da poesia de Adélia Prado como uma inspiração para a política e a sociedade. “Adélia nos ensinou que ‘a vida é mais tempo alegre do que triste’, uma lição atual e necessária. Em tempos de crises econômicas, catástrofes climáticas, guerras e pandemias, não sucumbir ao desalento é um ato de resistência. É na desesperança, no medo e no ressentimento que viceja o ódio como projeto político. Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne de sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo”, afirmou o presidente brasileiro.

“Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne da sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo. Com a presença e o cuidado com que a mãe prepara o café para o pai que faz ‘cerão’. Ou, com que um marido limpa um peixe ao lado da esposa. É também com presença e cuidado que se governa, presença na forma de políticas públicas e serviços públicos de qualidade. Cuidado com os mais vulneráveis e com o meio ambiente. A matéria prima dos poemas de Adélia Prado é a experiência do cotidiano, que se vive nas cozinhas, nas varandas e nos quintais”, pontuou Lula.

Já o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ressaltou a importância da obra de Adélia Prado no contexto da literatura lusófona e sua contribuição para o pensamento poético contemporâneo. “Tive a honra de felicitá-la por este prêmio e de falar sobre o que considero um retrato singular da simbiose dessa potência mundial chamada Brasil. Sua poesia expressa um humanismo cristão singular, permeado por uma poética de interrogação, mas também de esperança. Essa mesma esperança percorre outros poetas, de Cecília Meireles a Manuel Bandeira, passando pelo primeiro Vinícius de Moraes. No entanto, o que há de extraordinário em Adélia Prado é o fato de que, mesmo com as profundas transformações sociais e religiosas pelas quais o Brasil passou, sua poesia permaneceu sempre atual – e mais do que isso, pioneira”, declarou Marcelo Rebelo.

Presente na solenidade, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, celebrou a premiação como uma conquista da literatura e da cultura brasileira, ressaltando o impacto da obra de Adélia Prado e a importância de sua voz feminina no cenário literário lusófono.

“Este prêmio é um tributo à rica tradição literária do Brasil e à capacidade das escritoras brasileiras de capturar a nossa identidade cultural, as nossas histórias, memórias e criatividade”, destacou a ministra.

Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões, Eugênio Prado, filho da poetisa mineira Adélia Prado, discursou em nome da mãe, expressando sua gratidão pela homenagem. Ele leu um agradecimento escrito pela escritora, na qual Adélia exaltou a importância da poesia como um reflexo do valor da língua portuguesa e da compreensão humana.

“A celebração da poesia é, e sempre será, um sinal de que um povo preserva o tesouro inestimável de sua língua”, escreveu. A poetisa também fez referência a Luís de Camões, enaltecendo seu legado e a força da literatura na construção da identidade cultural. “Vejo este prêmio, sobretudo, como uma celebração permanente do próprio Luís de Camões, que, com engenho e arte, elevou a língua portuguesa a um grau de perfeição inigualável”, escreveu.

PRÊMIO CAMÕES

Criado em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões é concedido anualmente a escritores cuja obra tenha contribuído de forma significativa para o patrimônio cultural da língua portuguesa. Com um valor de 100 mil euros, financiado igualmente pelos dois países, o prêmio destaca autores pelo conjunto de sua produção literária.

O diploma entregue aos agraciados traz o nome de todos os países de língua portuguesa e é assinado pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal. Entre os vencedores, há escritores do Brasil, Portugal, Moçambique, Angola e Cabo Verde. A 36ª edição do Prêmio Camões, que homenageou Adélia Prado, foi realizada na noite desta terça-feira (18) em Brasília.

SOBRE ADÉLIA

Mineira de Divinópolis, Adélia Prado tem 89 anos, nascida em 13 de dezembro de 1945. Além de poeta, leva os ofícios de professora, filósofa, romancista e contista. Os primeiros poemas foram publicados em jornais da cidade natal e Belo Horizonte. A sua estreia individual só aconteceu em 1975, quando remeteu para Carlos Drummond de Andrade os originais de seus novos poemas. Impressionado com a sua escrita, enviou os poemas para a Editora Imago. Publicado com o nome Bagagem, o livro de poemas chamou atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo.

Em 1976, o livro foi lançado no Rio de Janeiro, com a presença de importantes personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant’Anna, Clarice Lispector, entre outros. Em 1978 escreveu O Coração Disparado, com o qual conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. Nos dois anos seguintes, dedicou-se à prosa, com Solte os Cachorros em 1979 e Cacos para um Vitral em 1980. Volta à poesia em 1981, com Terra de Santa Cruz. Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com o livro O Coração Disparado, escrito em 1978.

Reportagem: Jotha Lee
Com informações da Agência Gov.br


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