02/12/2025 - 15h21
Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação

O tratamento dado aos moradores em situação de rua em Divinópolis e cidades da região voltou a ser discutido essa semana após longa reportagem exibida pelo Fantástico no último domingo. O programa da TV Globo, que enviou repórter especial para realizar a matéria, não trouxe novidades, relatando apenas fatos que se tornaram públicos após uma fatídica reunião realizada na Câmara Municipal e pronunciamentos públicos do prefeito Gleidson Azevedo (Novo) e do vereador Matheus Dias (Avante).
A tentativa do prefeito de remendar uma situação explicita, quando o prefeito e o vereador, em vídeo publicado no mês de setembro, acusaram cidades vizinhas de enviar moradores de rua para Divinópolis, acabou não dando certo, já que o chefe do Executivo não apresentou nenhum argumento novo.
Além de acusar os municípios vizinhos de uma prática criminosa, o prefeito ainda afirmou na ocasião, que a Prefeitura não acolheria pessoas sem lar que viessem de outras cidades. Na Câmara, em reunião no dia 4 de setembro, o pastor Wilson Botelho, que dirige uma instituição supostamente para acolher pessoas, fez um discurso repugnante, falando inclusive em “dar tiros na cabeça” da população de rua.

(Foto: Reprodução/Instagram)
Na reportagem, o Fantástico relatou essas situações, ouviu todas as partes e mostrou que essa realidade não mudou. Divinópolis manda moradores de rua para outras cidades e vice-versa. Em todos os municípios foi institucionalizado pagar passagem rodoviária como forma de mandar as pessoas de rua para outras cidades, mesmo que elas não tenham nenhum vínculo com o novo destino.
Ao Fantástico, o pastor Wilson Botelho disse que teve uma fala infeliz na reunião da Câmara. O prefeito Gleidson Azevedo, assim como todas as Prefeituras citadas pela reportagem, tentaram passar a ideia de que possuem políticas públicas adequadas para atender a essa população e a Câmara Municipal de Divinópolis, que não foi citada pela reportagem, preferiu, como sempre, ficar calada.
O que mais incomodou o prefeito Gleidson Azevedo foi o depoimento dado por Maria Aparecida, uma moradora em situação de rua, que foi entrevistada pelo repórter Carlos Dalanoy no terminal rodoviário quando embarcava de Divinópolis para Oliveira, após ter recebido uma passagem da Prefeitura. O prefeito insinuou que a entrevista foi manipulada e reafirmou que sua administração tem políticas públicas voltadas para atendimento da população de rua.
Já a Paróquia de Santo Antônio, que na reunião da Câmara do dia 4 de setembro reclamou abertamente da presença de moradores em situação de rua nas calçadas do Santuário, chegando a afirmar que isso estava afastando seus fiéis, divulgou uma nota afirmando que continua empenhada em “defender a dignidade de todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis”.
Entretanto, nota divulgada pela Paróquia em rede social, é melodramática e discriminatória, mostrando que seus líderes continuam incomodados com a presença das pessoas em situação de rua. Veja esse trecho: “(sic) A Paróquia de Santo Antônio vem, por meio desse comunicado, afirmar que o Santuário de Antônio não corre o risco de fechar suas portas devido a presença de pessoas em situação de rua [grifo deles]. Ao mesmo tempo, torna público seu esclarecimento e reafirma, com serenidade e firmeza, o compromisso evangélico que sempre orientou sua missão”.
QUASE R$ 3 MILHÕES
Uma coisa é certa. Se falta acolhimento adequado para a população de rua, dinheiro parece não ser o problema. De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) Divin´popolis conta com dois equipamentos para acolhimento de adultos e famílias em situação de rua. A Casa de Passagem São Francisco de Assis e Casa de Acolhimento Santa Teresa de Calcutá.
Essas duas casas são administradas pela Associação Imaculada Conceição, que por sua vez pertence ao Movimento Católico Sacramento de Amor. Esse ano a Associação Imaculada Conceição teve verbas da ordem de R$ 2.985.271,09 em recursos públicos. Para a Casa Santa Isabel foram destinados R$ 1.070.557,23, enquanto para a Casa São Francisco a verba nesse ano totalizará R$ 1.162.162,96. A Associação Imaculada Conceição recebeu, ainda, mais R$ 752.550,90 para outros fins. Esses valores podem ser conferidos no Portal Transparência da Prefeitura de Divinópolis.
Esses valores pagos à instituição responsável pelo acolhimento dos moradores de rua foram confirmados através do Portal Transparência. Portanto, há dinheiro suficiente para que a população de rua seja tratada e acolhida com dignidade. Sendo assim, conclui-se que falta mesmo é uma política competente e fiscalização de como todo esse dinheiro está sendo aplicado.