
A solenidade da entrega da Medalha Alysson Paolinelli, ocorrida nesse domingo (29) na cidade de Bambuí, era a oportunidade que o prefeito da cidade, Firmino Júnior (Podemos), aguardava para demonstrar sua força política no momento em que o município enfrenta uma batalha contra os servidores municipais, que lutam contra a terceirização em massa do serviço público. A presença do governador Romeu Zema (Novo) no evento significaria prestígio político para o prefeito, porém o tiro acabou saindo pela culatra. Romeu Zema não apareceu, não justificou sua ausência e demonstrou seu desdém ao povo de Bambui e a irrelevância política de Firmino Júnior.

A Medalha Alysson Paolinelli foi criada em 2023 pelo governador Romeu Zema, por meio da Lei 24.582, e regulamentada no ano passado pelo Decreto nº 48.859, contemplando dez categorias. A honraria é concedida a personalidades e instituições sempre no dia 29 de junho, data do falecimento de Paolinelli, que morreu em Belo Horizonte em 2023.
A ausência de Zema ao evento é ainda mais significativa, uma vez o governador foi o criador da Medalha e nesse domingo (29) ocorreu sua primeira edição. A primeira edição da medalha foi marcada para Bambuí por ser a terra natal de Paolinelli. Romeu Zema, que havia se comprometido com a cidade em estar presente, sem aviso prévio ou qualquer justificativa, não apareceu. No mesmo momento em que a Medalha era entregue, Romeu Zema participava de uma manifestação bolsonarista, que reuniu pouco mais de 12 mil pessoas, na Avenida Paulista, em São Paulo.
ESCONDIDO DA POPULAÇÃO

A entrega da Medalha, inicialmente marcada para ocorrer na Praça Rui Santos, com eventual participação da população, foi transferida às pressas para um recinto fechado, onde só entrou quem era convidado. A medida foi motivada pela ausência do governador e pela promessa dos servidores públicos em greve de realizar uma manifestação pública pacífica durante a entrega da honraria.
Durante toda a solenidade, não foi feita nenhuma justificativa sobre a ausência de Romeu Zema. O secretário de Estado da Agricultura, Thales Fernandes, foi a figura representativa do governo do Estado. As 10 “personalidades” que receberam a medalha em sua primeira edição foram:
- Pequeno produtor – Rubnei Santos Gomes, produtora rural (Rubi Queijaria)
- Médio produtor – Cézar Ramos Júnior, produtor rural (Empresa Natucentro)
- Grande produtor – José Maria de Oliveira, produtor rural (Café Campos Altos)
- Universidades, empresas de pesquisa e inovação públicas e privadas – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig)
- Jornalismo e comunicação agro – Programa Globo Rural (TV Globo)
- Entidades, associações, cooperativas e empreendimentos agropecuários – Cooxupé – Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda.
- Pesquisadores e profissionais das diversas ciências que impactam resultados e ações positivas para a agropecuária – Luís Roberto Batista, professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
- Pessoas públicas e de governo – Antônio Carlos Arantes (PL), deputado estadual
- Empresas agropecuárias e agroindústrias – Rocca – Doce de Leite
- Jovem produtor – Hugo Faria Leite, produtor rural (Queijaria Roça da Cidade)
O secretário de Estado da Agricultura, Thales Fernandes, fez questão de discursar sobre a importância da medalha e do homenageado, mas não tocou no nome de Romeu Zema: “Hoje, entregamos a primeira edição da medalha Alysson Paolinelli para empresas, entidades e pessoas que têm se destacado no agro mineiro. Nosso agro que tem sido uma das principais economias do estado, com a contribuição dessas entidades que foram agraciadas com a medalha e levam todo o legado do doutor Alysson Paolinellii, que realmente foi um homem que mudou o agro, não só em Minas Gerais, mas no Brasil e no mundo”, destacou.
ALIADO DA DITADURA

Alysson Paolinelli nasceu em Bambui no dia 10 de julho de 1936, daí a cidade ter sido escolhida para a primeira edição da medalha. Ele morreu em Belo Horizonte aos 86 anos, no dia 29 de junho de 2023. O agrônomo formado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Lavras, especializou-se nos estudos sobre o potencial da região do Cerrado para a produção agrícola.
Sua ligação com os governos da ditadura militar foi intensa. Em 1971, assumiu a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, no governo de Rondon Pacheco. Foi ministro da Agricultura no governo do general Ernesto Geisel, de março de 1974 a março de 1979, nos piores anos da ditadura. Foi filiado ao PSD, Arena, PDS e PFL. Por este último elegeu-se deputado federal por Minas Gerais nas eleições de 1986.
MANIFESTAÇÃO BOLSONARO
Romeu Zema preferiu dar o cano no evento oficial do Estado em Bambui para viajar a São Paulo, onde participou de uma manifestação convocada por Jair Bolsonaro (PL) e pelo pastor Silas Malafaia. A manifestação reuniu pouco mais de 12 mil pessoas e Zema não discursou.
Na manhã desta segunda-feira (30) o Portal do Sintram perguntou à assessoria do governador por quais motivos sua agenda em Bambui foi cancelada sem aviso. “Ressaltamos que a agenda oficial do chefe do Executivo estadual é dinâmica e está sujeita a alterações. Os compromissos são atualizados diariamente na Agência Minas e podem ser consultados, a qualquer momento”, foi a resposta.
A assessoria do governador não fez nenhuma menção sobre a presença de Zema na manifestação convocada por Jair Bolsonaro, onde compareceram seis governadores e outros políticos. Os deputados Nikolas Ferreira (PL) e Domingos Sávio, presidente do PL em Minas Gerais, e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) defensores ferrenhos de Bolsonaro, também não apareceram e não fizeram nenhuma alusão sobre a manifestação nem mesmo em suas ativas redes sociais.
Reportagem: Jotha Lee
Sintram Comunicação